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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A cabeleireira

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publicado em 03/08/2021 às 07h57
atualizado em 03/08/2021 às 05h01

Ah, se eu fosse um contista…

Fui com minha sogra para ela cortar o cabelo, que ficou no estilo militar. Ela gostou. Sim, eu acompanho uma mulher para um salão, principalmente uma senhora de 75 anos. Não faço questão de ajudar a ninguém. Sou proativo e prestativo, desde pequeno.

Minha sogra é inteligente, leu diversos livros e, com ela, aprendi outros sinais. Ela tem problema auditivo e não escutou a conversa da moça que cortava seu cabelo, com uma cliente que esperava sua vez.

Há o momento do teatro da vida, depois da tentativa estranha de querer voltar ao palco para mais aplausos e surgem vaias, mesmo que a pessoa seja atrevida, uma vasta ignorância e não temas a tempestade. Nunca num copo d´água.

Aqui não cabe a questão da sobrevivência.

Pois a cabeleira começou o diálogo bem banal. “Mas mulher eu estava com saudade, nunca mais tinha te visto”. A outra: “Num é mulher, agora é que estou saindo de casa…”
Sim, fui ao salão com duas máscaras, três, com a minha própria e ainda e o Face Shield.

“Como vai teu filho?” Eu estava tão atento lendo (Uma relação perigosa, de Carole Seymour Jones, que desnuda por completo a vida de Sartre e Simone de Beauvoir), que quase digo: acho que ele está dormindo.

A outra senhora disse: “Foi morar em Juazeirinho, trabalhar lá”. “Ele se formou em quê? “Medicina”, disse a mãe. “Eu sei, mas a especialidade?”, esticou a cabeleireira. “Ah, ele ainda vai saber, mas já está ganhando dinheiro”.

“Eu concluí Gestão Pública, mas não foi fácil”, afirmou a cabeleireira. “Mulher hoje tudo está difícil”. “Num é, esse negócio de criança não trabalhar é muito errado”, disparou a cabeleireira. Fiquei atônito.

“Só querem saber de jogos da Internet. Eu não dou”, disse a cliente. A Internet acaba com as crianças”, arrematou a mulher que esperava sua vez. “Minha filha”, a senhora insistiu na conversa, “ mas o melhor é dar tudo que eles querem e a gente se ver livre”.

Silêncio.

“Eu não dou, até porque não tenho e se tivesse não daria”, encerrou a cabeleireira.

Algo idiota, se passou pela minha cabeça – esse tipo de diálogo que pertence apenas a elas, mas vi que em tal momento as duas eram cúmplices.
Na essência da conversa das comadres, quando não havia essência e pouco mais, sai dali para correr atrás do tempo e que o hoje foi o futuro de ontem e cenas dessas estão em vários salões. A festa continua.

Crianças são escravas da Internet por culpa dos pais, da falta de conhecimento dos pais e tantas, milhares, vivem do trabalho escravo a mando dos pais para ajudar nas despesas da casa e outras, porque são atraídas para o trabalho.

Não é por entender que tudo passa, porque não passa mesmo.

Nervoso eu? Imagina!

Kapetadas
1 – Tem dias que só o outro dia.
2 – Já pensou que louco existir um exílio na vida real?
3 – Som na caixa – “Ela tem o rebolado/Tem o corpo tatuado/
De uma figa da Guiné”, Jorge Mauther

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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