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Adélia Prado chega aos 90 anos e tem livros relançados pela Record

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publicado em 04/12/2025 ás 14h37

Uma leitura de poemas de O jardim das oliveiras (Record), volume inédito lançado recentemente por Adélia Prado, reúne vários autores nesta quinta-feira às 19h na Bibla Livraria (Praça Professora Emília Barbosa Lima, 58 – Vila Madalena – São Paulo) para celebrar os 90 anos de uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos. O evento, 90 anos em 90 minutos, terá Ana Estaregui, Bethânia Pires Amaro, Bruna Beber, Caetano Romão, Giovana Madalosso, Lilian Sais, Luana Chnaiderman, Mar Becker, Maria Isabel Iorio, Marilia Garcia, Natalia Timerman e Noemi Jaffe.

Adélia Luzia Prado de Freitas completa 90 anos no dia 13 de dezembro. A poeta mineira descoberta pelo conterrâneo Carlos Drummond de Andrade foi agraciada no ano passado com o Camões e o Machado de Assis, dois dos prêmios mais importantes da literatura lusófona. Adélia Prado é vencedora de outros prêmios literários, como Griffin, Jabuti e Biblioteca Nacional, e foi condecorada pelo Governo Brasileiro com a Ordem do Mérito Cultural em 2014.

A editora Record vem relançando os demais livros de Adélia Prado, em edições renovadas. Este ano, chegaram às livrarias quatro livros: Bagagem, livro de estreia de Adélia, publicado em 1976; o terceiro livro da autora, Terra de Santa Cruz (1981); O pelicano, de 1987; e o romance O homem da mão seca (1994). Em fevereiro de 2026 haverá novas edições de FilandrasMiserere e Solte os cachorros.

Publicado pela primeira vez em 2001, Filandras reúne 43 contos curtos que retratam a vida cotidiana simples de mulheres que aprendem a se mover, sonhar, desejar e sofrer no espaço íntimo da casa, entre as obrigações de todos os dias e anseios de uma vida inteira. Ao traçar vários retratos dessas mulheres, os contos se unem num contexto maior e formam um painel delicado e íntimo da existência feminina.

Oitavo livro de poesia de Adélia Prado, publicado originalmente em 2013, Miserere é, ainda que com leveza e humor, “um pedido de socorro” em relação à finitude, aos pecados e aos males terrenos e da alma. Nesta reunião de poemas escritos na maturidade, Adélia volta a temas tão caros à sua obra para fazer uma reflexão de vida inteira sobre o cotidiano, a intimidade e uma relação com o sagrado que está espalhada desde o ofício de escrever poesia até a mais prosaica receita culinária.

Primeiro livro de Adélia Prado em prosa, lançado originalmente em 1979, Solte os cachorros mostra que, para a poeta, a poesia está em toda parte, derramando a mesma força da linguagem de seus primeiros livros numa prosa inventiva e madura. O salto da poeta na ficção não foi ao acaso. Em sua estreia na prosa, Adélia Prado usou a mudança de gênero literário para se apresentar como uma narradora feroz, sem medo de impor-se como uma das prosas mais contundentes para retratar a vida das mulheres de sua geração. Quase 50 anos depois, o texto permanece absolutamente atual.

Adélia Prado retorna ainda mais profunda e madura em O jardim das oliveiras, um livro que é ao mesmo tempo síntese e reinvenção de sua obra, um mergulho poético na aridez e na transcendência, no mistério e na lucidez. Os 105 poemas aqui reunidos retomam temáticas vivas na obra da autora, como o conflito essencial entre luz e sombra, fé e dúvida, poesia e silêncio. Em versos de grande força simbólica, o sagrado e o cotidiano se entrelaçam com rigor e desatino. A poeta elabora uma reflexão radical sobre a origem da linguagem poética e seu papel diante do mundo — “era Deus quem doía em mim”, escreve, em um dos momentos mais cortantes da obra.

SOBRE A AUTORA

Adélia Luzia Prado de Freitas nasceu em 13 de dezembro de 1935, em Divinópolis, Minas Gerais, onde vive até hoje. Escreveu os primeiros versos aos 15 anos, logo após o falecimento da mãe. Completou o Magistério em 1953 e começou a lecionar em 1955. Em 1958, casou-se com José Assunção de Freitas, com quem teve cinco filhos. Antes do nascimento da caçula, a escritora e o marido iniciaram o curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis, formando-se em 1973, um ano após a morte do pai. Poucos anos depois, enviou os originais de seus poemas ao crítico e escritor Affonso Romano de Sant’Anna. Este os submeteu à apreciação de Carlos Drummond de Andrade, que considerou os poemas “fenomenais” e indicou sua publicação a Pedro Paulo de Sena Madureira, da Editora Imago. Empolgado com o que leu, o editor decidiu publicar os originais, o que resultou no lançamento de Bagagem, no Rio de Janeiro, em 1976, com a presença de Antônio Houaiss, Rachel Jardim, Drummond, Clarice Lispector, Affonso Romano de Sant’Anna e Nélida Piñon, entre outros intelectuais e escritores. Desde então, a obra de Adélia Prado tornou-se um marco da literatura brasileira, abrangendo, além da poesia, também contos, romances, livros infantis e peça de teatro.