João Pessoa, 29 de setembro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Deixe o tempo te ensinar que os tombos te fortalecem. Não é clichê, é experiência. Cada vez que a vida nos lança ao chão, descobrimos músculos da alma que não sabíamos possuir. As quedas doem, é verdade. Arranham o orgulho, ferem o corpo, mas deixam cicatrizes que se tornam mapas da nossa resistência. São marcas que dizem: eu sobrevivi, eu aprendi.
Os ventos também têm sua pedagogia silenciosa. Eles chegam sem pedir licença, bagunçam os cabelos, os planos e até os sonhos. Há dias em que parecem soprar contra nós, arrastando o que levamos tanto tempo para construir. Em outros, são brisas leves que nos empurram suavemente para frente. Não há como controlá-los. E. talvez aí esteja o segredo: aprender a se deixar levar, sem perder o eixo que nos mantém de pé.
A vida que imita a arte, e vice-versa, molda cada um de nós à sua maneira. Nem sempre da forma que pedimos, mas da forma que precisamos. É um escultor caprichoso: às vezes lixa com delicadeza, às vezes golpeia com força. O resultado, porém, é sempre transformação. Quem insiste em lutar contra esse cinzel se desgasta, porque a vida não consulta nossos desejos antes de nos lapidar. Ela apenas cumpre sua obra.
Quando tentamos entender demais, perdemos tempo. A mente busca explicações que o coração não alcança. Por isso, talvez seja melhor seguir o conselho mais sábio: não tente entender, tente viver. Há mistérios que não pedem respostas, pedem apenas entrega e mistérios sempre hão por aí. Viver é aceitar que nem tudo cabe nas nossas medidas, que a vida não é equação, é poesia.
Poucos conseguem. Poucos ousam largar a necessidade de controle, confiar no invisível e dançar ao ritmo do acaso. Mas quem consegue, descobre que viver é mais do que resistir: é permitir que o vento leve, que a queda ensine e que o tempo, sempre ele, faça florescer. Ah! A Primavera.
A vida não quer que sejamos perfeitos. Quer apenas que sejamos inteiros — ainda que moldados por tombos, ventos e mistérios que nunca se explicam, apenas se vivem.
Como disse Guimarães Rosa, “o correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.”
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
BOLETIM DA REDAÇÃO - 26/09/2025