José Nunes
A data 8 de setembro ficará na memória da Academia Paraibana de Letras como o marco dos avanços para perpetuar a obra do poeta Augusto dos Anjos. Essa foi a noite em que a Paraíba reverenciou Augusto dos Anjos, a Lua, que tantas vezes acompanhou o poeta em suas divagações, testemunhou João Azevedo, o governador do estado da Paraíba, postar no papel as linhas de um memorial para a imortalidade da poesia.
A poesia, que brotou à sombra do tamarindo, soube esperar até que sua terra eternizasse o criador dos versos que arrancam da alma todas as aflições e viveres transcendentes. Augusto dos Anjos esperou cinquenta anos para ganhar um acanhado busto, doado por um grupo de admiradores, que fora erguido na lagoa do Parque Sólon de Lucena. Apesar de sua imagem reluzir à luz do dia, ela nunca chamou a atenção dos descuidados transeuntes.
Não fosse esse esforço apoiado por integrantes da Associação Paraibana de Imprensa e da Academia Paraibana de Letras, e também a tentativa, em Sapé, de preservação das paisagens do lugar onde nasceu o poeta, certamente a poesia de Augusto dos Anjos continuaria a vagar pela imponderabilidade cósmica e no imaginário de anônimos leitores. Tantos anos depois a Paraíba redime-se do esquecimento do poeta com a instalação do Memorial Augusto dos Anjos, mesmo que Augusto dos Anjos tenha o reconhecimento do povo como o paraibano do século.
João Azevedo adornou com uma coroa de pérolas a imortalidade de Augusto. Seu gesto se imortalizará e ele será lembrado como o governador que deu maior visibilidade para a incontestável poesia do poeta que carregamos no coração.
Cedo a poesia de Augusto dos Anjos ganhou a alma das pessoas, encantando esses leitores inominados que se identificam com os poemas, porque carregam as mesmas emoções. Mas quem tenta penetrar na poesia de Augusto, quase sempre, se esvaece junto às jazidas de diamantes encontradas em cada poema. Augusto dos Anjos conquistou leitores antes da crítica descobrir seu valor, leitores que souberam agregar valor à poética daquele que se constituiu na maior expressão da poesia da Paraíba, e, sem dúvida, entre os maiores de nosso país.
O enredo poético de Augusto alarga a permanência de sua poesia e alimenta a paisagem interior da alma humana, em revezamento com o horizonte cosmogônico, pois as palavras cadentes do áureo poeta renascem em novo espaço, onde cintilam e duram, transbordando pela alta qualidade inigualável da obra. Na “aurora da vida”, Augusto se mostrava poeta de inspiração máxima, sempre a desnudar os maiores sentimentos da alma, se mostrando como um deus na arte da poesia, de modo que não sentimos enfaro quando a lemos. Suponho que por isso seja tão popular entre os leitores.
Na noite gloriosa de 8 de setembro, a Lua e os amantes da poesia e das artes testemunharam a sensibilidade de quem olha para os símbolos que compõem a paisagem humana, criada e elevada à categoria de arte por Augusto dos Anjos. A arte da poesia na sua maior expressão.
O Memorial Augusto dos Anjos será a grande expressão da Paraíba para a louvação deste poeta universal, revelado à sombra do tamarindo. Este espaço certamente responderá a Gilberto Freyre, que perguntou a José Lins do Rego o que tínhamos feito por Augusto dos Anjos, pois Augusto ficará ainda maior com esse memorial. Esse Memorial será o guardião da poesia, símbolo das homenagens ao poeta maior, e estará completado quando, à praça ao lado, for erguida uma estátua do tamanho da grandeza do poeta, para que seja observada dos quatro cantos da cidade.
Em sua infinita vontade de reconhecimento da grandeza de Augusto, o professor e acadêmico Milton Marques percorre a cidade em busca de vestígios do poeta: as casas onde morou e produziu poemas. Tendo trazido, na ocasião de sua posse, uma semente cedida do tamarindo de Augusto dos Anjos, a qual ele transportou para a imortalidade no jardim de nossa Academia, completando, assim, essa obra.
Termino lembrando o poeta Castro Alves:
“Oh! Bendito o que semeia
Livros… livros à mão-cheia…
E manda o povo pensar!”
Apenas acrescentaria: “Bendito o que semeia bibliotecas e museus”.
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