João Pessoa, 13 de setembro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Enquanto o mundo inteiro aguarda a cura dos males, eu observo cara e bocas. Cada esquina da vida parece guardar sua própria espera: uns apostam na pressa, outros se escondem na fuga, e tantos fingem não sentir as feridas que se abrem como janelas mal fechadas. Há quem ache tudo normal, como se a anestesia coletiva pudesse silenciar a dor.
Não. Carrego comigo um compasso diferente, que oscila entre esperança e exaustão. Fingir paciência se tornou meu exercício diário. A cada suspiro, estico o tempo como quem segura um fio prestes a partir, tentando prolongar o instante para que a pressa não me devore. Eu que devoro ela.
Há dias em que a loucura veste a máscara da normalidade. O riso surge fora de lugar, o silêncio pesa como pedra, e a pressa se torna uma cortina que oculta o que sangra. No entanto, aprendi que até o disfarce é um modo de sobreviver. Sim, sobreviver, é para isso a gente vem ao mundo.
Sigo. Finjo calma, como quem ensaia todos os dias uma representação que ainda não domina, mas repete com cuidado. Nesse grande enredo que chamamos vida, percebi que nem sempre precisamos acreditar no papel que nos foi dado; às vezes, basta sustentá-lo até que a verdade se revele em sua luz inevitável.
Talvez seja isso o que nos mantém de pé: a delicadeza de suportar, a força escondida no equilíbrio inventado, a esperança tecida em silêncio. Mesmo o fingimento carrega sementes de futuro, e é nelas que repousa a resistência.
Assim vou. Fingindo ter paciência, mesmo quando o coração dispara. Não por desespero, mas porque ainda acredito teimosamente que o amanhã pode ser mais leve, mais justo, mais humano, que “amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria, que se possa imaginar”, da canção de Guilherme Arantes
Quando esse dia finalmente chegar, não haverá mais fingimento. Haverá apenas a certeza silenciosa de que toda a espera valeu a travessia.
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ENTREVISTA À REDE MAIS - 12/09/2025