João Pessoa, 29 de julho de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A questão de se cuidamos mais de animais de estimação do que de nossos idosos é complexa e divergente, e, certamente, não possui uma verdade única. Existem argumentos que apontam que em muitos lares há um maior investimento emocional e financeiro em pets do que com os idosos, mas outros atestam que investem muito mais tempo, atenção e cuidados com os seus pais e ou outros parentes idosos. Ambas as argumentações podem ser verdadeiras, pois cada caso é um caso, mas não dá pra negar que a cada dia é comum presenciar-se o crescimento da atenção e da dedicação das pessoas aos pets e esta mesma cautela não é tão comum ser vista em relação aos idosos.
Como descrito é importante reconhecer que existem diferentes realidades e contextos sociais. Quero acreditar, por exemplo, que minhas amadas filhas cuidarão de mim e de minha esposa com dedicação e amor, caso necessário, mas tenho consciência que tal cautela é cada vez mais rara na cultura atual. O que vejo com frequência são pessoas que demonstram forte apego emocional a seus animais de estimação, investindo tempo, dinheiro e cuidados com eles em detrimento dos seus parentes idosos. A própria cultura popular tem retratado animais de estimação como membros da família, reforçando esta percepção.
Devo concordar que tal comportamento não é unanimidade, existem muitas exceções, nas quais as pessoas priorizam os cuidados com seus idosos, enquanto outras têm uma dedicação mais próxima com os seus animais de estimação, tendo estes como a sua principal companhia.
Não vai aqui nenhum demérito à paixão que a maioria dos seres humanos têm pelos animais domésticos, inclusive, deve-se admitir, pois a Ciência assim confirma que a presença de um animal de estimação em casa pode servir não apenas de companhia, mas também de terapia emocional e estímulo, especialmente para pessoas idosas e que vivem solitárias.
De acordo com uma pesquisa publicada pelo National Center Biotechnology Information, dos Estados Unidos, pessoas da terceira idade que têm animais em casa reportam maior bem-estar físico e psicológico. Além disso, segundo a pesquisa, dois terços dos entrevistados consideraram os pets como seus ‘melhores amigos’ e a ‘razão pela qual se levantam de manhã’. Estudos também mostram que os animais podem ajudar a diminuir o estresse, a depressão, o mau humor, a insônia, a falta de apetite e até dores. Além disso, cuidar de um animal pode proporcionar aos idosos um senso de utilidade e responsabilidade, combatendo a sensação de isolamento e inutilidade, e ainda pode: melhorar o humor, aumentar a disposição, diminuir o sedentarismo e favorecer a socialização, haja vista que durante o passeio com o animal irá naturalmente encontrar outras pessoas e com estas conversar e, possivelmente, se relacionar.
Contudo, é fundamental encontrar um equilíbrio entre os cuidados com animais de estimação e com os idosos, reconhecendo as necessidades e os benefícios de cada um, não priorizando o animal em detrimento do idoso.
Segundo o médico Dayan Siebra, cirurgião vascular, com larga experiência nos cuidados com idosos, quando estes estão internados em hospitais, 95% é acompanhado de cuidadores pagos e não dos filhos e ou parentes próximos. As alegações dos parentes para justificar as ausências são sempre as mesmas: são muito ocupados com o trabalho, o patrão não permite que estes se ausentem etc., ou seja, geralmente estão sempre ocupados com seus “próprios mundos”, e nada dispostos a ouvirem a conversa repetitiva de idosos, a menos que estes ainda tenham um mínimo de saúde e vigor para que possam ajudar a cuidar dos netos, ficando com estes quando seus pais precisam resolver seus afazeres, ir a festas, viajar etc.
Desta forma, ao que parece, a atenção de muitos filhos com seus pais está diretamente relacionada a o quanto estes ainda lhes são úteis. É mais comum os filhos levarem seus pets ao shopping, ao passeio matinal ou nas viagens a passeio, do que os seus pais idosos. Este tem sido um comportamento cada vez mais frequente na sociedade contemporânea. Portanto, você que é idoso ou idosa, aproveite a sua vida ao máximo, gaste seu dinheiro com aquilo que te dá prazer e bem estar, não espere ou delegue aos seus filhos ou demais parentes os cuidados com você mesmo. Caso esses venham a fazê-lo será uma grande virtude deles e não uma obrigação defendida pela cultura atual, mas não fique mendigando ou exigindo à atenção dos seus filhos ou parentes.
Enfim, a questão de se cuidamos mais de pets do que de idosos como ver-se, é complexa e não possui uma resposta simples. O importante é reconhecer a necessidade de um equilíbrio nessa dedicação, os benefícios e virtudes de uma relação estreita entre filhos e pais até o fim da vida destes é inegável, da mesma forma, em geral, os idosos podem se beneficiar com a presença de um animal de estimação desde que estes gostem de animais, mas é fundamental que os idosos recebam os cuidados necessários, especialmente por parte dos seus filhos e ou entes queridos.
Assim, cuide do seu animal de estimação, mas não descuide dos seus pais!
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 22/07/2025