João Pessoa, 21 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Enfiei a cabeça toda na brecha de um portão enferrujado do casarão que está à venda (na avenida João Machado, centro), cujo anuncio diz que tem trinta quartos. Meu Deus, pra quê trinta dinheiros se não posso comprar uma casa com tantos dormitórios – nessa carestia, onde o demo fez a curva.
A moça Mônica Figueiredo que nasceu nessa casa, disse que não são 30 quartos, talvez sejam quitinetes ao som de chiclete com banana.
Registro como cena banal um cidadão que não quis tomar partido, nem eu, ele a passear em frente à casa, com seu cão invisível, nu da cintura pra cima, como se sabe, carente de contato visual para a manutenção de um nível astral saudável de felicidade canina.
Eu pelo menos sempre que fui feliz eu sabia ou ainda sei, mas demora tão pouco, né?
No dia 7 de setembro nasci e era notável naquele fim de mundo que ao renascer eu escutava a banda de Joaquim Oliveira, o amante de Aury, tocando um blues na calçada – era como o se eu fosse um bebê reborn – renascido, no sol quente, o temporão de Seu Vicente
Numa completa tradução à nova diagramação da vida, sem maiores contratempos, logo fui apresentado a Macunaíma.
No mercado, crianças riem de mim na fila da farmácia. A prateleira da Neusa(dina) de uma das laterais apresentava sinais de vazio em primeiro plano, que doido né?
O experimento não tolera substituições. A gentil vendedora me empurrando para AnaDor no abismo das drogas a prestação, mas eu não presto, eu não presto.
Quando presto sou generoso auxílio com uma fita crepe amarada na cabeça obrigado a conviver com bordas de pizzas dormidas e rebordosas, pela minha culpa, minha minima culpa.
Vi uma tomate sendo esmagado por um carro e lembrei de meu padim Fernando Teixeira, e passei a comer abacates sonâmbulo na madrugada, mais que nada.
A brutal luminosidade em manhãs sem sol devido ao céu cor de chumbo e mesmo assim meto os óculos escuros e aí começa a segunda-feira.
A faxineira Escolástica não vem mais por conta do maldito Bolsa Família, mas se oferece para pagar o aluguel com o barriga e o dono do quarto, recusa, acusa, abusa.
Mexendo nos pauzinhos, Janja será condecorada por mérito cultural? Deu a bexiga!
O cheiro de fritura impregna as abas, o vapor do café devora minhas papilas e uma chuva torrencial é anunciada por Dona Josefa e deverá se afogar na cidade, nas manchetes do dia seguinte, e em 24 horas começa tudo de novo. Eu jamais começaria tudo outra vez.
Quando a gente chegou aqui isso era tudo mato.
Ô vida besta
Kapetadas
1 – Eu me reinvento e sempre tenho mais o que fazer, eu só não faço por não tenho tempo. É fácil, eu faço.
2 – Papa Francisco pedia para nunca perdermos o senso de humor. Mas Jesus ria?
3 – Difícil viver numa época onde toda postagem é vista como declaração de guerra. Tá craude brô.
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OPINIÃO - 20/05/2025