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Desabamento de prédios; bombeiros acham mais corpos nesta sexta

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publicado em 27/01/2012 às 14h35

Subiu para onze o número de mortos encontrados nos escombros dos três prédios que desabaram na Cinelândia, no Centro do Rio. Até o momento, já foram encontrados os corpos de cinco homens, quatro mulheres e dois de sexo ainda não identificado. De acordo com os bombeiros, pelo menos quatro corpos foram resgatados próximos a uma escada que provavelmente foi usada como rota de fuga. Ao todo, 15 pessoas ainda estão desaparecidas. Segundo o secretário de Defesa Civil, Sérgio Simões, os trabalhos de buscas devem se estender por mais 48 horas.

Nove corpos já passaram pelo Instituto Médico-Legal. Já há parentes de desaparecidos no local aguardando para fazer o reconhecimento. Os corpos já identificados são de Alessandra Alves Lima, de 29 anos; Celso Renato Cabral Filho, de 44 anos; Nilson de Assunção Ferreira, de 50 anos; Cornélio Ribeiro Lopes, de 73 anos, porteiro do prédio número 44 da Avenida Treze de Maio; e sua mulher, Margarida Vieira de Carvalho, de 65 anos. Com exceção de Celso, que foi enterrado na manhã desta sexta, todas as outras vítimas continuam no IML. O enterro de Cornélio está marcado para as 15h no Cemitério São João Batista.

Alguns desaparecidos são: Omar José Mussi, 48 anos; Amaro Tavares da Silva, 40 anos; Sabrina Prado, 30 anos; Ana Cristina Silveira, 50 anos; Bruno Charles, 25 anos; Daniel de Souza Jorge, 26 anos; Fábio Correia; Flávio Porrozi, 23 anos; Gustavo Cunha; Kelly Menezes; Luís Leonardo Vasconcelos, 40 anos; Moisés Morais da Silva, 43 anos; Marcelo de Lima, 48 anos; Nilson Ferreira, 50 anos; Priscila Montezano, 23 anos; Roosevelt da Silva; Flávio de Souza, 70 anos; Marlene; Franklin; e Yokania Mauro, 33 anos.

A notícia de que encontraram bolsões de ar renovou a esperança de familiares que aguardam informações sobre desaparecidos. O fotógrafo Luiz Cesar de Vasconcelos, irmão de Luís Leonardo, que trabalhava no quarto andar do Edifício Liberdade na empresa TO Tecnologia Organizacional, contou que assistentes sociais informaram que há uma parede de pé nos escombros, o que dificulta o trabalho por conta do risco de queda. Ele está desde as 22h de quarta-feira acompanhando as buscas.

De acordo com o subcomandante dos bombeiros, coronel Ronaldo de Alcântara, entre o nono e décimo pavimento houve sobreposição de lajes. Do décimo para cima, o que ocorreu foi um tombamento. Com isso, ele acredita que nos fundos do prédio, onde estão concentradas as buscas nesta manhã, as partes dos destroços sejam maiores, e há possibilidade de haver sobreviventes. A expectativa dele é que a maioria dos corpos esteja concentrada no mesmo ponto. Ele disse que a dificuldade dos trabalhos é a sobreposição das lajes:

— É preciso muito cuidado para não prejudicar os corpos.

O delegado da 5ª DP (Mem de Sá), Alcides Alves Pereira, esteve no local do desabamento com funcionários do banco Itaú, na tarde desta sexta-feira. O grupo vistoriou caixas eletrônicos e dois cofres, que estão foram retirados do escombros e estão em uma área isolada, próxima ao local. O delegado foi embora sem dar declarações à imprensa. Na manhã desta sexta-feira, os bombeiros localizaram uma bolsa com documentos em nome de Alessandra Alves Lima, de 29 anos. A bolsa não estava próxima a nenhum corpo. A madrasta de Alessandra, Sueli Mesquita, reconheceu os pertences. Também foi encontrada uma cédula de identidade com o nome de Edson de Oliveira Menezes, de 41 anos.

Ronaldo Alcântara afirmou que 80% dos escombros dos prédios que desabaram no Centro já foram revirados. Segundo o secretário municipal de conservação, Carlos Osório, cerca de 400 caminhões com 15 mil toneladas de entulho já foram retirados do local dos desabamentos. O material está sendo levado pra um canteiro de obras da prefeitura na Zona Portuária, e depois transportado para o aterro sanitário Jardim Gramacho.

Ainda há muita fumaça no local da tragédia, e pequenos focos de incêndio surgem a qualquer momento. Segundo o secretário municipal de conservação, Carlos Osório, na manhã desta sexta-feira está ocorrendo uma reunião entre a Guarda Municipal, Subprefeitura do Centro e síndicos dos prédios interditados. Há pelo menos seis edifícios fechados na Avenida Treze de Maio, entre a Almirante Barroso e na Senador Dantas. Na manhã desta sexta-feira, algumas pessoas já chegam para retirar pertences pessoais destes prédios.

O advogado Bruno Mello, de 28 anos, proprietário de um escritório de advogacia, entrou em um desses edifícios para pegar documentos. Quando questionado se vai voltar a trabalhar no local, ele respondeu:

– O receio é grande, mas a gente tem que trabalhar.

Uma das preocupações de quem tinha negócios nos prédios que desabaram é recuperar documentos que ficaram no meio dos escombros. O gestor de projetos da produtora de cinema Meio de Producao e Comunicação, que funcionava na Rua Manoel de Carvalho, Anderson Flavio, disse que pelo fato de não existir uma triagem na remoção dos escombros isso prejudica uma possível recuperação de coisas importantes, como toda a documentação da empresa.
– Soube que as coisas estavam sendo levadas para Gramacho. Fui até lá e achei pastas cheias de documentos. Tudo misturado com o lixo – disse.
O subprefeito Thiago Barcellos acompanha o trabalho da equipe e, segundo ele, só está autorizada a entrada de pessoas que tenham algo imprescindível para fazer dentro dos prédios – Estamos trabalhando para liberar a rua o mais rápido possível. Por isso, quem não tiver necessidade de entrar no local, espere para não atrapalhar o trabalho das equipes – disse.

Uma funcionária da prefeitura disse que o clima na Câmara dos Vereadores está tenso. As pessoas estão bastante nervosas e ansiosas. O prefeito Eduardo Paes esteve no local esta manhã prestando solidariedade aos familiares.

Dos seis feridos, apenas Cristiane do Carmo, de 28 anos, continua internada. Ela chegou a ser operada no Hospital Souza Aguiar e foi transferida para a Casa de Portugal, no Rio Comprido. Ela passa bem, mas está em observação já que sofreu politraumatismo e uma severa laceração no couro cabeludo. Outras quatro pessoas foram hospitalizadas no Souza Aguiar, entre elas, Marcelo Antonio Moreira, zelador de um dos prédios, e Francisco Rodrigo da Costa, operário que trabalhava dentro de outro prédio que caiu e foi resgatado no elevador. O Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, atendeu durante a noite de quarta-feira uma paciente de 48 anos, que chegou por conta própria contando que caiu após os desabamentos. Ela apresentava escoriações superficiais e também recebeu alta.

Hospitais federais estão à disposição das vítimas

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse nesta sexta-feira que colocou à disposição das autoridades municipais e estaduais do Rio os seis hospitais federais mantidos na cidade para o socorro das vítimas do desabamento. Ele também defendeu a atuação do governo estadual e da prefeitura do Rio no caso.
– Ontem (quinta-feira) eu estava no Rio de Janeiro, nos colocamos totalmente à disposição. Os hospitais federais do Rio de Janeiro ficaram à disposição de qualquer tipo de atendimento que fosse necessário. Nosso diretor de hospitais federais do Rio de Janeiro (João Marcelo) acompanhou desde da quarta-feira à noite já, quando nós tivemos notícia da tragédia, as medidas que estão sendo tomadas. Ontem no Rio de Janeiro reforcei estar à disposição da secretaria estadual e municipal – afirmou o ministro, acrescentando:

– Eu vi uma presença permanente tanto do secretário estadual quanto o secretário municipal, do governo estadual do Rio de Janeiro, do governo municipal, no esforço do socorro às vítimas dessa tragédia.

Ele também disse que a prioridade no momento tem que ser o busca dos desaparecidos.

– Tem famílias que ainda não têm notícia definitiva sobre desaparecidos e o esforço neste momento tem que ser não só atender bem pessoas que possam ter sido vítimas, ficaram feridas. Mas o esforço neste momento é identificar, buscar os desaparecidos que ainda não foram identificados. Esse tem que ser o principal esforço.

Padilha falou ainda sobre o evento programado para a última quinta, em que seria assinado um acordo entre o governo federal e os governos estadual e municipal para enfrentar o crack. Com o desabamento dos prédios, o evento foi cancelado e ainda não há uma nova data definida. Mas Padilha disse que isso não vai atrapalhar a política pública de enfrentamento ao problema:

– Isso não atrasa as ações de saúde, tanto a programação de serviços, a ampliação dos serviços de atendimento, cuidado, acolhimento às pessoas com dependência química, como também não atrasa as ações da assistência social, do campo da segurança pública. Nós estamos agindo de forma bastante cooperada com o governo estadual, municipal. Continuamos o conjunto de ações para que, na próxima data de anúncio das ações, a gente já possa ter inclusive um quadro mais avançado da implantação de serviços.


Dilma e Dom Orani manifestam solidariedade diante da tragédia

A presidente Dilma Rousseff, que está em Porto Alegre para o Fórum Social Temático, falou por telefone, na manhã desta quinta-feira, com o governador Sérgio Cabral e com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, oferecendo apoio do governo federal para os trabalhos de socorro às vítimas do desabamento. Dilma também prestou solidariedade às famílias das vítimas e aos sobreviventes do tragédia. A presidente cancelou sua ida ao Rio, marcada para sexta-feira, quando participaria da inauguração da ponte ligando o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) à Linha Vermelha.

O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, também manifestou solidariedade diante da tragédia, por meio de nota. Dom Orani pediu orações aos familiares dos falecidos e convidou amigos e autoridades para a missa de sétimo dia na intenção dos mortos na tragédia. A cerimônia está marcada para o próximo dia 2 de fevereiro, às 10h, na Catedral São Sebastião, na Avenida República do Chile.

O Globo

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