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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Sem dor, sem ganho

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publicado em 09/04/2024 às 07h00
atualizado em 09/04/2024 às 06h27

Soleiras e sapatos. Rastros.

A canção “Nenhuma dor”, de Caetano Veloso e Torquato Neto, me pegou de novo – gravada por Caetano e Gal no disco Domingo, primeiro deles, em 1967, com arranjos de Dori Caymmi e Francis Hime – na entrevista que fiz a semana passada com Dori Caymmi, ele voltou a falar da importância desse disco.

“É preciso, ó doce namorada, seguirmos firmes na estrada, que leva nenhuma dor”

Tanta dor, né?  Nenhum remédio – a representação é outra – é o tempo e quanto tempo perdemos por estarmos conectados, distraídos.

Nenhuma simbologia pode explicar melhor o sumiço de muitas pessoas, mortas ou vivas vítimas dessa conexão com as redes aceleradas – ter que postar antes de qualquer pessoa, quando, na verdade, o Fernando Pessoa dizia haver um tempo em que é preciso recosturar, reformar, reavivar as nossas roupas usadas que tanto nos deram alegria quando novas e que hoje apesar de gastas continuam quentes, macias e confortáveis porque possuem o formato do nosso corpo.

Não se fala mais pelos cotovelos. Só os otários.

Isso do poeta dizer recosturar, que lá no sertão a  gente diz:  “vamos cuidar”, bem antes de costurar, (usar a roupa velha colorida), não está relacionada ao nosso corpo, mas a cabeça. Quando vemos estamos velhos, vestidos dispersos na festa do pijama. Será?

É o tempo, a travessia, todo dia, todo dia. O Instagram nos rouba esse tempo – não é todo mundo, é o mundo todo.

O cara sai pra um passeio na calçada da praia com mulher e um menino pequeno de 5 anos, e lá estão cada um no seu mundo e o menino à margem.

De repente um vídeo com mulheres mostrando os seios, a genitália, em plena orla do Cabo Branco, naquelas bicicletas tamanho família – no comando, um influenciar chamado Arthur, certamente machista, #feladaputa, com a deselegância paterna.

 O ralo leva tudo, o verde, o iodo e o lodo.

 A luz pequena, aquela que acendíamos no criado-mudo para ler sem incomodar – a parceira ou parceiro, estão noutra vibe: acesa ou apagada, cada está na sua, se divertindo com o Tik Tok.

De tudo o que perece ser, é perturbador.

Tudo se dissolve no colapso das horas, no dobrar a esquina e no mais evidente alvoroço da vida.

Estamos sozinhos, mais do que nunca, além dos cansativos e enjoativos prefácios, acenos e bobagens em permanências.

Kapetadas

1 – Não gostar de mim não faz de você uma boa pessoa, mas já atesta um certo bom gosto.

2 – Comer direito: para os abastados, é ter modos à mesa; para os famintos, seria ter três refeições ao dia.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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