João Pessoa, 05 de abril de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Há um movimento decorrente dos novos tempos que avança demasiadamente sobre o vocabulário, encurtando-o, escravizando-o, reduzindo-o, empobrecendo-o, restringindo a capacidade de pensamento que se realiza, indubitavelmente, à proporção da riqueza vocabular.
Não falo da necessidade de clareza e simplicidade na escrita. Isso é necessário e belo, por suposto. Contraria-me essa tendência que caminha avassaladora sobre a linguagem, castrando-a e que se irradia por diversos segmentos da cultura.
Também não defendo a escrita empolada, palavras estrambóticas dispostas inoportunas e impropriamente, como aquelas malditas peças do juridiquês inútil ou o retorno da linguagem rebuscada e confusa do Barroco. Alto lá.
Na música, as letras são paupérrimas, melodias piores, ritmos deficientes. Diga-o bem certas músicas miadas, monotemáticas, repetitivas e maçantes. Na Literatura, a coisa está mais feia. Os redatores de texto, como o word, por exemplo, assediam os escritores, propondo um vocabulário rasteiro. Em breve, a inteligência artificial viciada pela linguagem do tic toc e de outras redes sociais irá se compor em um universo de um pouco mais de 500 palavras e olhe lá.
Veja-se que há redes sociais que só admitem 120 caracteres para a enunciação da mensagem. Com poucas palavras, menos ideias, menos mundo, maior facilidade de dominação, a vertigem da velocidade que não aceita o pensamento crítico.
Esse é o X da questão: chegará o tempo em que as pessoas não terão palavras para expressar suas emoções. Nesse momento, todos estarão com os seus olhos bem pregados admirando o nada e o inútil, roboticamente escravizados.
Trata-se de um movimento amplo, o império do digital, a compressão do tempo. Privilegia-se textos curtos, livros de poucas páginas, as mesmas palavras, as construções linguísticas forjadas na informalidade. A isso chamam simplicidade.
Paradoxo da modernidade. Busca-se reduzir a complexidade pela criação de complexidade maior. Evita-se tudo que for palavras que excedam ao conhecimento mediano com seu universo reduzidíssimo de palavras para compor a vida em mundo cada vez mais complexo e contingente. Que loucura!
@professorchicoleite
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