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Giovanni Meireles, o bruxo do jornalismo paraibano

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publicado em 11/03/2024 às 08h26
atualizado em 11/03/2024 às 05h35

Kubitschek Pinheiro

Ele é sutil, sabe das coisas todas, mas dificilmente é visto nos coquetéis de lançamentos de livros da província. Não, ele não recolheu, tá de boa no trabalho e em casa. Giovanni Meireles nunca foi de boca livre, nem mea boca. Inteligente, voraz, discípulo de Jomar Muniz de Brito e tenho dito sempre que gosto dele, meu primeiro editor do Correio da Paraíba.

Ele é do tempo do diploma, mas não emoldurou, na parede da memória Giovanni aparece numa montagem ao lado do poeta Augusto dos Anjos. Ele é jornalista com Diploma (UFPB), Publicitário (SENAC), foi Secretário de Comunicação do Governo do Estado, Diretor da TV Assembleia Legislativa, editor-geral do jornal Correio da Paraíba e da revista POLITIKA, repórter do Caderno de Cultura de “A União”, colunista de “O Momento”, “O Norte”, “Jornal da Paraíba”, escreveu nos blogs PoliticaPB e PB-Agora, apresentador de programas diários, entrevistador e comentarista nas TV’s Cabo Branco, Miramar, Arapuan, Correio, Master (por assinatura) escambau

Além de ser âncora noticiarista das rádios CBN João Pessoa, Jovem Pan Sat, Correio News AM, 98 FM, 95 FM, 107 FM e atualmente é redator sênior (consultor de marketing institucional) do Secretário-Chefe de Gabinete do Governo do Estado na Casa Civil do Palácio da Redenção e ex-integrante do Conselho Editorial da EPC (Empresa Paraibana de Comunicação). Escreve no BLOGdoGM. Bom, é pra gamar ou largar

 

Espaço K – E por falar em saudade, onde anda Giovanni Meireles?

Giovanni Meireles – Nas redes sociais que dominam atualmente o mundo real que quase inexiste em nossa volta. Sobrevivendo aos ataques de hackers e ao coronavírus, que está solto nas ruas, por descuido do seu domador.

 

Espaço K – Vamos partir para o ataque? Como você vê esse inferno das redes sociais – gente se jogando na própria sorte por um post, curtidas, liks, mordidas etc? 

 

Giovanni Meireles – – Quanto mais a gente se distancia nos “zap-zap” da vida, se aproxima da imagem embaçada dos abraços, beijos e queijos do passado-recente. Minha mente já está chipada por milhares de bytes e minha figura virou um amontoado de pixels. A vida humana, como nós a conhecemos há alguns anos, já não existe mais.

 

Espaço K – Me parece que você nasceu em Sapé. Você gosta de samba, cafuçus, boleros, mulatas, pelos brasis, ou é doente do pé?

 

Giovanni Meireles –  Eu tenha pernas de pau, futebolisticamente falando, bato bola horrivelmente dentro do gramado, mas não sou doente do pé. Já toquei em banda marcial, escola de samba, cantei em festivais de música, organizei o movimento, orientei o Carnaval. Dos desfiles de Sete de Setembro em Sapé, minha terra natal, até os sonhos de Belchior e Tim Maia, em montarem suas respectivas gravadoras aqui na Frederika, Phelipéa, Nossa Senhora das Neves. Produzi um CD chamado Made-In-Paraíba, que nasceu e morreu no volume 1. Ajudei Fuba e minha mãe-adotiva Maria das Vitórias de Lima Rocha a colocar dez trios elétricos na Epitácio Pessoa. Fiz o Carnaval do Busto de Tamandaré e do Largo da Gameleira, no Bahamas, com os saudosos Jair Rodrigues e João Balula, junto com seus Malandros do Morro.

 

Espaço K – Conta pra gente/urgente – você tem pinta de professor, mas queria mesmo ser jornalista. Como tudo começou?  

 

Giovanni Meireles – Nunca me faltou a sensação de jornalista e nem tentei ser um bruxo ou David Coperfield. Fui concurseiro e passei para uma vaga no antigo Paraiban. Pura sobrevivência. Sem “patrocínio” eu tinha que me virar nos 30 para pagar minhas contas. Jornalismo foi consequência de meu faro investigativo na carteira de cadastro do banco, fuçando a vida financeira dos clientes. Mas minha mãe tocava piano e falava latim e francês, educada no internato de um colégio de freiras. Meu pai era locutor de palanque, difusora, cerimoniais, etc. Mas meu sonho mesmo era ser o sucessor do tropicalista Jomard Muniz de Britto na Universidade, como seu fiel pupilo Pós-Moderno. Falhei feio, nessa parte do segredo do abismo.

 

Espaço K – Foi  o jornalista Gilberto Lopes quem me levou para o finado Jornal Correio da Paraíba, quando você era o editor e ele o sub. Vamos falar desse tempo?

Giovanni Meireles –  Quatro anos de descobertas assim se passaram. Conhecer de perto, ouvir aquela canção do Roberto. Informatizar uma redação inteira repleta de máquinas de datilografia e pilhas de papel reciclado, com computadores que nenhum de nós sabia nem como ligar. Não tinha Internet e nem celular. O bacana era ver o furo de reportagem na manhã do dia seguinte. Hoje em dia todo mundo é repórter. Basta ter um telemóvel na mão e uma ideia qualquer na cabeça. Não precisa pensar e nem ter uma câmera na mão como Jean Luc Goddard.

 

Espaço K – Aliás, a paz reinava, mas nem tanto. Lembro que Carlos Aranha era o editor de Cultura e não queria que eu escrevesse no Caderno 2, mas você deu um jeito e minha coluna virou uma tripa no Caderno Cidades, que a editora era Gisa Veiga – tudo passou né?

 

Giovanni Meireles  – Sim. Tudo passa, tudo passará. Passarinho, passarão. A vida é um museu de velhas novidades. O tempo não para. Eu enxerguei em você um olhar muito além do Muro de Berlin e da Torre Eiffel. Aranha ficou preso nas redes e teias dos anos 1970. O “K” era o cara, o kara, karamba, acaraô.  

 

Espaço K – Você foi secretário de Comunicação do governo Maranhão – Vamos falar de dessa experiência de estar no Poder?

 

Giovanni Meireles – Foi uma espécie de Faculdade, Especialização, Mestrado. Saí da Secom Estadual Pós-Graduado para enfrentar qualquer missão jornalística, política, administrativa, etc, que por ventura depois surgisse pela minha frente. Virei um tanque de guerra, com flores na boca dos canhões. Criei nervos de aço e senti sangue quente nas veias. Fiz tudo que pude e estava ao meu alcance. Lidei com anjos e demônios. Fui amado e odiado. Idolatrado, às vezes, incompreendido, muitas outras mais. Poderia ter feito muito daquilo que foi planejado, mas boicotado por certos interesses. Não tive tempo de executar meus planos de Harry Potter. Fiz mágicas que ainda não posso contar. E, numa tarde quente, fui embora de submarino, navegando pelo rio Sanhauá. Não me deram nem a chance de dizer: – Adeus… Segui apenas o conselho de José Maranhão, o Governador que me convidou para o cargo: – “Como ex-bancário, não roube e nem deixe roubar”. Fui fiel a isso, ao pé da letra.

 

Espaço K – Giovanni se casou com Magda e tiveram filhas – já é avô?

Giovanni Meireles — Meu coração é de menino, cheio de esperança. Voz de pai-amigo e olhar de avô. Beatriz Helena está na Europa desde 2016. Mora na Cidade do Porto, em Portugal e já conheceu pra mais de 20 países. Visitou até a Ucrânia, antes da guerra com a Rússia. Faz curso de Mídias Digitais na Faculdade de Belas Artes. Não quis, até agora, ser mãe. É a primogênita e puxou meu lado estudioso, CDF. Júnia Giovanna se matriculou no curso de Ciências das Religiões na UFPB, mas trancou todas as disciplinas logo no 1º período de aulas. Preferiu ser mãe de meus dois netinhos: Maya (7 anos de idade) e Noah (3 anos de idade). Puxou meu lado artístico, teatral. Não se pode negar o DNA. Os ateus dizem que a alma existe no código genético dos seres vivos e não no Céu de Deus Todo-Poderoso. Hosana nas Alturas.

 

Espaço K – E o amor por Beth Menezes nasceu do olhar? Amor roxo? Que não se acaba nem no Além, né?

Giovanni Meireles – Amor roxo. Tanto dei, que me sobra. Por Beth, eu até “desenvenenei uma cobra e aprendi a guerrear”. Amor que não se mede, ­­não se pede, só se recebe. Olhares, sim, trocados nos refletores, palcos, microfones e camarins. Amor que a TV Cabo Branco me deu, quando trabalhamos juntos na apresentação do Bom Dia Paraíba (ela) e nas entrevistas e comentários políticos (eu). Gravados ou ao vivo, as imagens em Beta-Cam, VHS, HD foram se fundindo em alegrias, namoro, amizade, confidências, enfim: almas-gêmeas. Adotei os pais dela e também fui adotado como filho-genro por Seu Dedith e Dona Cássia. Beth me acompanha hoje e desde sempre, dos primeiros rabiscos até o bê-a-bá. Até mesmo quando a vida se abre num feroz carrossel. Absorve minhas lágrimas, quando meu pranto molha seu papel. Sou eu que escuto e guardo seus segredos de mulher. Eu só peço a ela um favor, se puder. Não me esqueça num canto qualquer.

 

Espaço K – Lembro de um carnaval, acho que no Bloco dos Cafuçus, quando era na beira mar, você abraçado com o professor Cláudio Paiva. A cena me pareceu com o filme “A Lira do Delírio”. Estou certo?

 

Giovanni Meireles — Certíssimo. Você tem corpinho de kapeta, mas mente de elefante, mamute, registro akáshico. Cabe na sua cabeça a Bíblia, o Alcorão, o Livro dos Vedas e até o Maha-Bharata, Ramáiana e a Torah em Aramaico. O Cafuçu estava nascendo no antigo DAC (Departamento de Artes e Comunicação) da UFPB. Ainda não havia para mim Rita Lee e nem o Cafuçu tinha se tornado o fenômeno de massa que se mudou para o Centro Histórico, posteriormente. Augusto Magalhães, Cláudio Paiva, Bertrand Lyra, Estelisabel, Célia Varela, Zélia Gomes, Gerimaldo et caterva pularam muito frevo por lá. Se fosse fácil todo mundo era. Se fosse muito, todo mundo tinha. Mas não, naquela época em meados de 1995, só nós cheirávamos a Mistral. As garotas preferiam Chanel nº 5.

 

Espaço K – Não pensa em escrever um romance, sua vida, mil átomos?

 

Giovanni Meireles  – Penso sim. Minha mãe escreveu cinco romances manuscritos, ainda inéditos. Fez um livro de poemas, parcialmente publicado em mimeógrafo a óleo. Augusto dos Anjos, morreu pobre e abandonado. Passou anos desempregado, sendo formado em Direito e professor de Ciências Químicas, Físicas e Biológicas. Só ficou famoso depois de morto. Tem coisas que eu não posso revelar agora, porque deixariam a Parahyba revirada de cabeça pra baixo e eu não tenho vocação para ser o novo João Dantas e nem Anayde Beiriz centenária, de 1930 a 2030. 

 

Espaço K – Me disseram que antes de ser jornalista, você foi bancário? Chegou a ser gerente? 

 

Giovanni Meireles  – Fui bancário, mas apenas escriturário e nunca cheguei a ser gerente. Lidar com muito dinheiro dos outros não é a melhor coisa que eu achei pra fazer na vida. Eu gostava do trabalho, mas o ambiente nas chefias era tóxico, atmosfera irrespirável, ar contaminado, gases tipo MK-Ultra, alucinógenos do mal. Preferia atender aos trabalhadores que cortavam cana-de-açúcar nas usinas e colhiam abacaxi no meio dos espinhos das frutas. Eles ficavam o dia inteiro aguardando o pagamento das suas tarefas semanais, sentados no chão quente, numa fila indiana enorme, debaixo do sol. Isso me interessava mais.

 

Espaço K – Como a gente vai terminar essa entrevista? Você tem medo de almas, da morte, escambau?

Giovanni Meireles – – Eu escapei, milagrosamente, de morrer logo na hora do parto a fórceps, na hora do meu nascimento. Quase que eu não conheceria este mundo. Já corri perigo, afogamento, acidente de carro, tiro de bandidos, choque elétrico. Já peguei em muito fio desencapado e ainda estou aqui, esperando viver os melhores anos dos últimos dias da minha existência terrena. Sempre fui uma criança fraquinha, adolescente doentinho, menino magrinho. Meio quilo de ossos e nada mais. Só tinha tamanho, altura e cabelos de índio ou japonês no cabeção. Pensei que não faria 30 anos de idade. Já estou no dobro disso. Que me venha a sombra da noite eterna, do silêncio absoluto, do frio congelante, seguidos de uma bela manhã de sol em campos elísios de outra dimensão. Igual a Neo com a oráculo de Matrix.

 

Espaço K – GM gosta de tomar uma cerveja, uma caninha ou vitamina de abacate com cinturão lá do velho Zé Limeira, o poeta do absurdo?

 

Giovanni Meireles –  – Vinho seco ou suave, dose dupla de uísque on-the-rock, caipirosca, “cachimbo” (cachaça tipo cana-de-cabeça com mel e limão, usado tradicionalmente para celebrar batizados no interior do Estado ou na zona rural). Sou da geração yuppie e não dispenso uma Coca-Cola com batatas fritas. Nem pipoca no cinema. Quanto a Zé Limeira, ainda estou aguardando o recorte original de um obituário publicado no Jornal do Brasil na década de 1950, garimpado por Bráulio Tavares num sebo lá no Rio de Janeiro e entregue a Astier Basílio pra fazer um livro dizendo que Zé Limeira realmente existiu. Ele era uma espécie de Mané Caixa D’Água, cuja obra foi aumentando e crescendo depois de morto, através das poesias incorporadas por Orlando Tejo (sob esse pseudônimo), só pra fazer raiva ao Grupo Sanhauá de Flávio Tavares, Anco Márcio, Virginius da Gama e Melo, Marcos Tavares, Wellington Aguiar, etc. Irritar os imortais da Academia, esse era o objetivo principal. 

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