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Espaço K

Gilson Souto Maior, um jornalista catedrático

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publicado em 04/03/2024 às 09h13

Kubitschek Pinheiro

O pacato cidadão Gilson Souto Maior, é um jornalista completo. Começou como radialista, aluno, virou professor, locutor e está aí no mercado ciente que do potencial, de que pode ir bem mais. A Internet é uma porta? É, pode ser, mas a voz dele é o trunfo.

Nessa entrevista ao Espaço K, que vem arrancado lições e experiências do pessoal da nossa classe, Gilson é o homem do século passado – começou na Rádio Caturité de Campina Grande em dezembro de 1964, ou seja, 60 anos e nós festejamos com ele essa frequência sonora, trajetória, inteligência e originalidade.

Gilson é autor do livro “História da Imprensa na Paraíba – Jornais e Revistas lançado em 2023 e estamos todos lá.

A entrevista é longa mas vale a pena -e ele conta tudo, diz que não sabe nadar, que não tem medo da morte e revela a origem do Souto Maior –  descendência hispano-portuguesa, hoje com presença em diversos países, Portugal, Espanha, Itália, Cuba e Brasil. Soltos e Maiores somos mais.

Espaço K – Vamos começar pelo rádio – quando sua voz foi ao ar pela primeira vez?

Gilson Souto Maior  – Após ser aprovado em teste realizado na Rádio Caturité, em Campina Grande, no final de dezembro de 1964, tive a oportunidade de usar um microfone de emissora de radiodifusão pela primeira vez, no dia 03 de janeiro de 1965. Eita! Foi no século passado!!!

Espaço K – Você sabe que uns imbecis andam dizendo que a Internet matou o rádio – mas não matou mesmo, né?

Gilson Souto Maior   – Matou não, amigo Kubi. Esse atestado de óbito já foi dado em outras oportunidades. Em 1950, com o surgimento da primeira emissora de televisão no Brasil, a Tupi-São Paulo, por exemplo, se apressaram em afirmar o desaparecimento do rádio. Sobraram na curva, os que assim pensaram. O se reinventou, investindo mais na informação, a utilidade pública e programas musicais, de início através de cartas, depois com a participação dos ouvintes, através do telefone. Na verdade, o rádio se abriu mais ao público, cobrindo acontecimentos de interesse geral. Continuou firme e forte. Chegaram as novas teleologias, com um sistema telefônico fixo de melhor qualidade, a telefonia celular e a internet. Sobre a Internet, e suas ferramentas, o que estamos vendo é um rádio muito mais interativo. Usando diversas ferramentas dessa fabulosa Internet, o rádio, além de marcar presença nos rádios convencionais, nas residências e veículos (carros, navios, etc), se utilizando das ondas hertzianas, ocupa, também, espaço nas redes sociais. nos computadores, tabletes, celulares (smartphones), como rádios na WEB, em sites, facebook, twiter, blogs, e, por aí vai marcando sua presença. Eu diria, amigo Kubi, que o rádio se adaptou de uma forma nunca esperada, principalmente, pelo que vivem o tempo todo a querer dar atestado de óbito para essa mídia extraordinária.    

Espaço K – Você nasceu em Campina no Raio da Silibrina de Bráulio Tavares e lá começou sua vida de aluno, professor, radialista e locutor?

Gilson Souto Maior    – Verdade. Tenho o de afirmar que nasci em Campina Grande, cidade que orgulha não apenas os seus filhos, mas os paraibanos de um modo geral. Quando comecei no rádio, a Caturité, emissora da Diocese Campinense, tive o prazer de trabalhar numa época em que atuavam nomes amigos como Bráulio Tavares, Luiz Custódio, José Nêumanne Pinto, os gêmeos Rômulo e Romero Azevedo. Esses meninos, meus amigos até hoje, como integrantes do Cine Clube Campina Grande, ao lado de Aldo Porto, um profundo conhecedor da arte cinematográfica, apresentavam aos sábados (meio dia), um programa sobre cinema, intitulado “SÉTIMA ARTE.”  Eu andava muito bem acompanhado, desde o começo da minha trajetória na comunicação. Verdade ou não? E foi como locutor de rádio, bom aluno na universidade (inclusive aluno do seu mano William Pinheiro – de quem eu tenho muitas saudades), depois, professor e diretor do Curso de Comunicação -Habilitação Jornalismo, da URNe/UEPB, que eu vivi e me preparei para o futuro na profissão que eu tanto amo, o jornalismo. Agradeço ao meu BOM DEUS, por tudo!

Espaço K – De onde vem o Souto Maior?

Gilson Souto Maior    – O Souto Maior é de descendência hispano-portuguesa, hoje com presença em diversos países, Portugal, Espanha, Itália, Cuba e Brasil. Tenho muito orgulho em ser um Souto Maior, uma família que em muito contribuiu e contribui para com o nosso país, em diversos segmentos, desde o tempo do império e a colonização portuguesa, com dirigentes de capitanias, até hoje. Eu penso, inclusive, em realizar um trabalho de pesquisa sobre a família.

Espaço K – Me parece que em 2016, você se aposentou da sala de aula?

Gilson Souto Maior   – Exatamente. Comecei como professor concursado do curso de Comunicação Social – Jornalismo, da URNe/UEPB, em 1979. Fui chefe e subchefe de departamento por vários anos. No segundo semestre de 2016, quando ocupava a coordenação do curso solicitei aposentadoria. Ressalto, que durante todos esses anos, fiquei de licença por três anos, quando tive que me ausenta por um ano para assumir a Comunicação Social TELPA – Empresa do Sistema Telebrás (necessitava organizar moradia em João Pessoa, com a família), e um outro período, acompanhando a esposa, que fez parte do seu doutorado na França. Na cidade de Grenoble, onde residimos, aproveitei para estudar francês.  

Espaço K – Gilson você faz um tipo jogador de futebol, bate bem uma bolinha? 

Gilson Souto Maior   – Como um jogador de boa qualidade, que se prepara convenientemente (técnica e fisicamente), para ter sempre uma boa performance, eu sempre busque, na aquisição de conhecimentos – estudando, pesquisando e não tendo vergonha de perguntar, ser um homem de comunicação capaz de cumprir bem sua missão, de INFORMAR BEM E, ASSIM, FORMAR A OPINIÃO PÚBLICA. Escrevendo ou falando, sempre busquei, através da ética, da verdade, do cumprimento do jornalismo sério e respeitoso, ser um profissional confiável. Faço essas colocações, pois, atualmente, sinto em determinadas oportunidades, vergonha pelo tipo de jornalismo que está sendo praticado. Vivemos, querido Kubi, um momento difícil da nossa profissão. Mas, é um assunto, que eu prefiro deixar para comentar em outra oportunidade. Mas, que eu estou envergonhado, ah! Estou.

Espaço K – Noutra imagem de 1972, já na rádio Borborema e Tv Borborema de CG, você aparece como galã. Estou certo?

Gilson Souto Maior    – Você acha? Eu sei que nem fui, nem sou dos mais feios comunicadores/jornalista do pedaço. Na imagem de 1972, eu estava chegando nos Diários Associados, para comandar as rádios Borborema e Cariri e ser o apresentador da TV Borborema – do Rede Nacional de Notícias da TUPI. Não sei se era bonito, pois ninguém nunca reclamou…

Espaço K – O que você diria a um jovem que está começando no jornalismo? Tem que ralar muito, né?

Gilson Souto Maior    – Eu sempre pergunto aos jovens, nas minhas palestras, principalmente aos que estão começando: Quer mesmo ser jornalista? Procuro sempre dizer, que o jornalismo é, sem dúvida, um ofício incompreensível, até mesmo para alguns que estão no batente, que, esquecidos do que aprenderam nos bancos universitários, ou mesmo na prática, no dia a dia, não entenderam, na verdade, a sua importância. Não apenas de informar, de utilizar da verdade, mas, ainda, de formar a opinião pública. Estão fazendo isso? Façam assim, e serão bons jornalistas. Tem uma afirmação de Gabriel Garcia Márquez, escritor, jornalista, editor, ativista e político, e considerado um dos autores mais importantes do século XX, que deveria servir para todos nós, jornalistas, veteranos ou jovens:  SER JORNALISTA!

Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso, poderá persistir num ofício tão incompreensível e voraz, cuja obra se acaba depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não permite um instante de paz, enquanto não se recomeça com mais ardor do que nunca no minuto seguinte’’.

Ainda para os jovens que estão começando no jornalismo, eu finalizaria afirmando: Apesar das dificuldades que temos atualmente no jornalismo de hoje, precisamos ter orgulho da profissão que escolhemos. Diria aos meus amigos que estão começando essa profissão uma pequena frase, que eu li e não me lembro, “NUNCA PERCAM SEUS VALORES ÉTICOS PARA OBTER VALORES FINANCEIROS.

Espaço K – E as redes sociais, são boas, perigosas e muitas vezes um lixo, né?

Gilson Souto Maior    – A linguagem, como tentativa de comunicar foi a primeira grande revolução no campo da comunicação, na luta da humanidade, em busca de sua sobrevivência. Isso, permitiu ao homem as condições necessárias à transmissão do conhecimento. Os séculos se seguiram e surgiram as codificações linguísticas, com símbolos, e, por fim a chegada dos alfabetos. Isso posto, tem início desta forma, como hoje conhecemos, a civilização. Chega a escrita, permitindo a chegada do conhecimento. A escrita desenvolveu ciência e a civilização, permitindo a organização do pensamento, da inteligência e da cultura, nos séculos que se passaram, até hoje. Nas últimas décadas do século vinte, chegou a Internet, responsável por este reboliço tecnológico que vem mexendo com a sociedade. Entendo, meu amigo Kubi, a Internet como uma ferramenta de comunicação, que pode ser considerada a mais completa tecnologia humana até hoje. As redes que integram a fabulosa Internet são na realidade, boas e importantes, mas, também, perigosas e, sem dúvida, um lixo. O que a sociedade atual precisa é saber usá-las, e, isso depende de cada um de nós. Infelizmente, o comportamento humano sempre foi e é difícil. As redes sociais, da forma como são usadas, sem uma legislação para controlar suas postagens, suas mensagens, terminam sendo, na verdade um lixo.  

Espaço K – Como todos nós, você também foi assessor de imprensa – que muitas vezes somos assessores de “encrenca”, né? Fala aí por onde você passou?

Gilson Souto Maior    – Em algumas situações o assessor de comunicação, coitado, dependendo órgão, termina sendo uma pessoa visada, mais saco de pancada do que a própria instituição ou empresa. Fui assessor de uma Federação de Indústria – a FIEP, no caso aqui do nosso Estado e, da TELPA, uma empresa de telecomunicações.  Para esta, como uma prestadora de serviços, eu passei por momentos complicados, pois tinha que prestar, diariamente, explicações sobre a qualidade dos serviços prestados. Ainda bem, que a TELPA foi uma empresa de muita qualidade, facilitando o nosso trabalho. Não é fácil assessorar, principalmente quando o chefe é teimoso e não escuta como deve o seu profissional de comunicação. Quando isso ocorre…haja “encrenca”!

Espaço K – Você trabalhou com o governador Buriti?

Gilson Souto Maior    – Trabalhei com Tarcísio de Miranda Burity, de quem tenho muitas saudades e boas recordações. Um homem probo, educadíssimo, um professor de qualidade, um político sério. Trabalhei durante sua campanha, como apresentador, em televisão e, depois, como seu colaborador, durante parte de seu governo (dois anos), presidindo a Empresa Rádio Tabajara da Paraíba S/A.  

Espaço K – E sua passagem pela Tabajara?

Gilson Souto Maior    – Minha passagem na Rádio Tabajara foi exitosa, pois tive o prazer de contar com bons amigos nas diretorias de Administração e Operações, além do apoio da equipe de funcionários (colaboradores). O governador Burity foi também um apoiador dos nossos projetos, nunca interferindo em nossas decisões. Lembro um caso interessante: um deputado chegou na Tabajara para falar comigo e impondo uma contratação de um afilhado. Disse-lhe: Amigo seu pedido não poderá ser atendido agora, pois estamos reformulando a emissora. Expliquei as dificuldades, o que não foi aceito por ele. “Vou resolver com o governador, pois você não resolve nada” – disse o deputado, bem afobado. O governador ligou em seguida e disse, que eu havia agido certo. Martinho Moreira, querido e saudoso amigo, afirmou que Burity disse ao deputado que não criasse problema, pois, “na rádio quem manda é o presidente.”  Foi durante a nossa administração (1987-1999), que o governo Burity II conseguiu a concessão de FM TABAJARA, 105.5 MHz, inaugurada durante a administração do amigo Rui Leitão, no dia 7 de agosto de 1999.

Espaço K – Como é essa história – desde 1968 você colabora com a Rádio Difusora de Cajazeiras?

Gilson Souto Maior   – Isso começou quando conheci um dos diretores da emissora, José Adegildes Bastos, em 1968, em Campina Grande. Ele foi até a Rádio Caturité para que eu gravasse algumas vinhetas para a emissora sertaneja.      Naquele momento nasceu uma grande amizade, não apenas com ele, mas, também, com os demais diretores fundadores da rádio, os irmãos, Mozart e Jessé de Assis e Antônio Dutra (todos in memoriam). Fui conhecer a emissora naquele ano e nunca mais deixei de colaborar com a pioneira de Cajazeiras. Por sinal, houve uma época, em 1969, que eu passei seis meses em Cajazeiras, emprestado pela Caturité, para organizar uma nova programação para a Difusora.     Hoje, A Difusora Rádio Cajazeiras tem como proprietários, o empresário José Cavalcanti, esposa e Filhos, com quem tenho um bom relacionamento. Sou cidadão cajazeirense e integro a Academia Cajazeirense de Letras – ACAL, onde ocupo a Cadeira 25, cujo Patrono é José Adegildes Bastos.

Espaço K – Como foi experiência na França?

Gilson Souto Maior    – Foi uma experiência importante na minha vida, como pessoa, e como profissional, pois pude acompanhar e apoiar a esposa Roberia, que foi fazer o seu doutorado, além de viver e conhecer uma cultura totalmente diferente, de um país de primeiro mundo. Afora isso, pude também estudar outro idioma, o que foi de muita valia para mim e o meu currículo. Os meus contatos com a França continuam, pelos amigos que conquistei e, principalmente, por ter o meu filho, Gilson Junior, residindo há mais de seis anos naquele país, mais precisamente da cidade Besançon.

Espaço K – Gilson bate pino?

Gilson Souto Maior    – A formação que recebi da minha mamãe Sophia e do meu pai, Leopoldino Souto Maior, não me permite ser um “batedor de pino.” Procuro ser verdadeiro nas minhas atitudes, sério nas minhas decisões. Não me amedronto com nada, pois meu temperamento é, de uma pessoa que respeita o próximo, com a frieza necessária para enfrentar as mais diferentes situações. Agora, cá pra nós amigo Kubi, não diz a ninguém, eu tenho um medo danado de tomar banho em açude e praia!!! Não sei nadar, amigo. 

Espaço K – Como é que gente encerra essa entrevista? Você tem medo da morte?

Gilson Souto Maior   – Sinceramente, não! A morte vai chegar para mim e para você, hoje ou amanhã. Todos nós precisamos entender que a vida tem começo e fim. Uns vão mais cedo, outros mais tarde. Cada qual tem o seu dia, registrado no livro da vida. Precisamos, pois, viver os dias que nos foram reservados, acreditando em Deus e respeitando e amando o nosso próximo com a nós mesmos.

Espaço K – E o amor, os filhos, os netos?

Gilson Souto Maior    – No amor vou muito bem obrigado. Eu a minha esposa, conseguimos formar uma bela família. Estamos casados, juntos e misturados, há mais de 50. Neste 2024, completaremos exatamente 52 anos de união. Dessa união, temos três filhos, dois homens e uma mulher, um genro, que para nós é um filho, e duas noras, também duas filhas. Dessa arrumação toda, eu e Roberia somos, com todo avô/avó, babões, muito babões, de sete netos. Obrigado, amigo Kubi por essa oportunidade.


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