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MaisPB Entrevista: diretor da Record fala de box com clássicos de Graciliano Ramos

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publicado em 13/01/2024 às 17h21
atualizado em 13/01/2024 às 14h25

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

O livro “nunca vai desaparecer” –  quem garante isso é Rodrigo Lacerda, editor executivo da Editora Record, uma das maiores do Brasil. Quem é “livresco” sabe que o livro vai sempre existir. Desde a década de 70, a obra de Graciliano Ramos faz parte do catálogo do Grupo Editorial Record, cujas edições são as únicas autorizadas pelo Instituto Graciliano Ramos.

Para quem gosta da obra de Graciliano Ramos, mesmo os que já leram, releram e nunca deixam de apreciar, a Editora Record lançou este mês e já  está nas livrarias de todo país um box, que reúne os livros “Angústia, Vidas Secas e São Bernardo”. A oferta é destinada a colecionadores, mas a corrida às livrarias têm levado jovens e eternos leitores de GR.

O projeto gráfico é arrebatador com acabamentos especiais, pois o box traz ainda prefácios de, respectivamente, Silviano Santiago, Hermenegildo Bastos e Godofredo de Oliveira Neto e um texto do professor de literatura brasileira Ivan Marques  da USP, feito exclusivamente para esta edição, com histórias da composição dos livros e suas principais características literárias.

As novas edições publicadas a partir de 2024, autorizadas pela família, terão parte dos royalties doados para a ONG Innocence Project Brasil, que auxilia pessoas condenadas injustamente, assim como aconteceu com Graciliano, fato que deu origem a um de seus livros mais conhecidos, Memórias do cárcere.

Ainda neste mês, chega às lojas a versão de bolso de Vidas Secas. Na editora Record, o grande clássico de Graciliano estará disponível em formatos variados para todos os públicos, desde a graphic novel até edições luxuosas.

Em abril será a vez da publicação dos relatórios que Graciliano escreveu ao governador de Alagoas, em 1928 e 1929, quando era prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, prestando contas de sua administração. Estes documentos que não só fazem uma radiografia dos problemas brasileiros na administração da coisa pública, ontem e hoje, como já revelam a voz direta, sempre muito franca, mesmo quando precisa ser dura, que caracterizou os romances do grande escritor.

Os dois textos, que embora fossem administrativos demonstravam a verve literária de Graciliano, encantaram o poeta e editor Augusto Frederico Schmidt. Ele deduziu que, por trás de um texto daquela qualidade, só podia estar um autor com romance pronto na gaveta. E tinha razão. Graciliano, então desconhecido, foi alçado à cena literária, com a publicação de Caetés.

O Grupo Editorial Record  vai publica toda a obra do autor, de Infância a Cangaços, de Cartas a Linhas tortas, de Viagem a Pequena história da República.

Em conversa com o MaisPB, o editor executivo da Record , Rodrigo Lacerda traz as novidades sobre esses lançamentos, exatamente no ano em que a obra de Graciliano Ramos chega aos 70 anos, ou seja, de domínio público.

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Rodrigo Lacerda é um jovem carioca, nascido em 1969, no Rio de Janeiro. É escritor, tradutor e editor. Trabalhou em algumas das mais importantes editoras do Brasil, como a Nova Fronteira, a Editora da Universidade de São Paulo, a Cosac Naify e a Zahar. Atualmente é editor-executivo na Record. É doutorado pela Universidade de São Paulo em Teoria Literária e Literatura Comparada, com a tese João Antônio: uma biografia literária. Mora em São Paulo.

MaisPB  – Que maravilha esse box da Record com os livros AngústiaVidas secas e São Bernardo, de Graciliano Ramos. Vamos começar por aqui? Coube a você editar esses livros – foi uma nova gestação né, trazer essas obras logo no início de 2024 para os leitores infindos de GR?

Rodrigo Lacerda – Foi um prazer criar esse box, com o suprassumo da obra do Graciliano. Aproveitando os antigos posfácios, acrescentando um texto inédito e acompanhando o desenvolvimento do projeto gráfico. Projetos como este fazem a atividade de editor valer a pena. Buscamos um desenho gráfico enxuto, elegante e forte como a prosa do Graciliano.

MaisPB – Neste ano em que a obra de GR  passa a ser de domínio público, a Record sai na frente com esse box. Ok, mas 70 anos não é nada para que uma obra seja de domínio público, concorda?

Rodrigo Lacerda  – Não cabe à editora questionar a lei dos direitos autorais e a Convenção de Berna. Mas, como o representante da família do Graciliano, o Ricardo Ramos, é também presidente da União Brasileira dos Escritores, achamos que é até dever dele acompanhar a aplicação da lei e discutir questões que lhe pareçam pertinentes do ponto de vista dos escritores.

MaisPB  – A Editora Record é a única que tem o domínio da obra completa de Graciliano Ramos – temos mais projetos para este ano?

Rodrigo Lacerda  – O próximo lançamento é “O prefeito escritor: dois retratos de uma administração”. O livro reúne os dois relatórios do então prefeito Graciliano Ramos, da cidade de Palmeira dos Índios, ao governador de Alagoas. São documentos exemplares da correção esperada de qualquer homem público, e são tão bem escritos que foi graças a eles que o Graciliano escritor foi descoberto.

MaisPB  – O box traz os prefácios originais de Silviano Santiago, Hermenegildo Bastos e Godofredo de Oliveira Neto, além de um texto professor de literatura brasileira Ivan Marques  da USP, que foi feito exclusivamente para esta edição, com histórias da composição dos livros e suas principais características literárias. Poderia falar sobre o trabalho de Ivan marques, o estudo dele sobre GR e como veio a ideia de convidá-lo para escrever neste projeto?

Rodrigo Lacerda  – O Silviano, o Hermenegildo e o Godofredo escreveram textos focados cada um em um romance. A ideia de chamar o Ivan Marques foi de ter um texto que “costurasse” os três livros no contexto da vida e da carreira do Graciliano.

MaisPB  –  Essas novas edições publicadas, autorizadas pela família, terão parte dos royalties doados para a ONG Innocence Project Brasil, que auxilia pessoas condenadas injustamente, fato que deu origem a um de seus livros mais conhecidos, Memórias do cárcere. Isso é muito forte, né?

Rodrigo Lacerda  – O Graciliano nunca chegou a ser condenado, sequer foi julgado. Foi uma prisão completamente arbitrária e por razões políticas. Mas há muita gente que sofre injustiças do nosso Poder Judiciário, que, como todos, não é perfeito. Então, acho que trabalhos como o da Innocence Project Brasil são importantes e vale a pena contribuir.

MaisPB  – Você acha que o livro vai desaparecer um dia? Conheço milhares de pessoas que só leem com o livro nas mãos. Vamos falar sobre isso?

Rodrigo Lacerda  – Pode ficar tranquilo, nunca vai desaparecer. Acho que essa questão está definida. Os e-books são complementares, nada além disso. Leio muitos livros digitais, mas é claro que o livro de papel é sempre melhor, mais bonito, mais resistente etc. Acabo de ficar quase 30 horas sem luz em casa, em plena cidade de São Paulo. Ontem à noite, na hora de dormir, li à luz de velas, pois as baterias do celular, do iPad e do Kindle haviam acabado…

MaisPB  – Outros livros como InfânciaCangaçosLinhas tortas e Pequena história da República serão publicados?

Rodrigo Lacerda  – Todos eles estão publicados e em catálogo. A Record é a única editora que tem a obra inteira de Graciliano à disposição do público.

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