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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Nequinho está morto

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publicado em 16/12/2023 às 07h00
atualizado em 16/12/2023 às 05h22

Então, vamos lá. O professor Alexandre Belo, que era belo mesmo, sabia mais do mundo do que a si mesmo, da condição da palavra livre, estrita, fora de medida,  até quando a palavra não tem nenhuma função. O único sinal visível da inteligência é o seu uso e isso, ele sabia.

Uma notícia velha, porque hoje é sábado, aponta que Manuel Alexandre Belo morreu na noite da última quinta-feira – acho que bem antes, mas a morte é sempre uma espantosa afirmação: não há complacência, nem com o morto, nem com os que ficam, ninguém, ninguém é cidadão depois que morre, sequer com as palavras que escrevo.

Nequinho contrariava tudo aquilo que fora argumentado, tudo que era normal, prescindido das marcas do tempo e não fazia isso para se apresentar como excelência. Não, Nequinho era foda, embora todo neutro da banalidade. Não haverá outro igual. Até na última gargalhada. Nunca haverá.

Não é mais difícil imaginar a morte funcional na vida de cada um – ou vai ou fica. Não fica. Precisa dizer que Nequinho morreu? Ele morreu antes de morrer, a gente morre e não sabe –   mesmo já tendo morrido.

A gente morre na cama, no bar, no meio da rua, mambembe. Ora, a morte não é a cura de ninguém, nem quando se corporiza o imediato choro de um bebê.

Mil farras com ele no Portal das Cores, de Bob Záacara. Eu dava gargalhadas imensas com as conversas dele e ele correspondia.

A última vez que nos vimos este ano, foi no Pão de Açúcar. Ele já estava detonado, mas com o humor exposto no tiro ao alvo. Fizemos fotos. Nos abraçamos. Será que ele está no Pão de Açúcar?

Alexandre Belo perdeu o rigor na transição no movimento da morte. Ele anulava qualquer caretice, já não era mais o belo Alexandre, dos anos 80. Cada aparição, cada palavra e significado, o fez dele superior ao correlato e tedioso viver.

O mundo não era mais dele, condição de cada um, nem medita, nem é medida o som se dizia: – olá, Alexandre Belo – palavra, por silaba e era ele a condição de si mesmo, desse mundo destruído.

Kapetadas

1 – Quando não tiver nada para dizer, crie um perfil numa rede social.

2 – Ando desmemoriado. E quando parado também.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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