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Entrevista: Luiz Carlos Nascimento, quando o entrevistador é noticia

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publicado em 04/12/2023 às 09h56
atualizado em 04/12/2023 às 12h13

 Kubitschek Pinheiro

Fotos – Edson Matos

 Aqui está mais um cara que sabe fazer jornalismo na Paraíba – ou, em qualquer outro lugar, caso tivesse migrado. Luiz Carlos Nascimento, é o exemplo de profissional que preza pelo que faz e faz bem, sem fazer de conta que a noticia está cada vez mais imersa no caldeirão das “fack news”, em todas as janelas. Ele vive os novos tempos que quando a notícia é revelada à superfície  se espalha e deixa de ser noticia. São os novos tempos modernos, tumultuados e crués. Aliás, LC não é muito ligado nas redes sociais. 

Luiz Carlos começou no jornal A União (o único impresso que ainda sobrevive na Paraíba) e agora está volta ao batente. Ele era jovem e ainda é ao revelar que sua paixão pelo jornalismo, veio através da música. “Um colega dos estudos de violão clássico, o jornalista Wellington Farias, que perdemos recentemente, me incentivou a entrar na profissão”.

Passou pela Tv Cabo Branco, por trás das Câmeras, como editor. Fez de tudo, do Bom Dia Paraíba aos JPBs em todas as edições. Também editou o Globo Esporte e programas especiais sobre temas importantes para a sociedade, como eleições. Na Band ele lembra de ter ido além das câmeras, sempre entrevistando.

Um excelente entrevistador, Luiz Carlos Nascimento hoje vira notícia e tem uma bagagem enorme, sem precisar enumerar as grandes entrevistas que fez, no Jornal o Norte e Correio da Paraíba e n´A União.

Lula conversou George Casales, “um teólogo marxista, que deu a seguinte explicação para o pecado: “Minha vida a qualquer preço, inclusive ao de sua morte”, ao responder a uma pergunta de Agnaldo Almeida. E a outra, com Bernardo Cabral, que passou pela Paraíba em campanha para a presidência da OAB. Ele disse: “A juventude pode não saber o que quer, mas sabe o que não quer”, ao responder sobre a indecisão dos jovens quanto ao futuro”.

Leia nossa conversa com ele, saiba mais sobre Luiz Carlos, que já está festejando antecipadamente 2024, 15 anos sem fumar. São muitas vitrias.

Espaço K  – Olhando pra você a gente pensa que é um  advogado. O jornalismo falou mais alto?

Luiz Carlos – O jornalismo foi uma paixão, que descobri ainda na juventude. Um colega dos estudos de violão clássico, o jornalista Wellington Farias, que perdemos recentemente, me incentivou a entrar na profissão. Comecei a frequentar A União e conheci Sílvio Osias, com quem tinha amigos comuns de Jaguaribe. Gostei e até hoje “quebro pedras” na Redação.  A advocacia veio tarde e nunca a exerci na plenitude.

Espaço K  – Você integra o time dos jornalistas que tiveram como norte Agnaldo Almeida, não exatamente assim, mas chegaram às redações quando Agnaldo era editor da A União. Bora falar desse tempo?

 Luiz Carlos  – Comecei em A União ao me intrometer numa conversa entre Agnaldo Almeida e Gonzaga Rodrigues. Gonzaga reclamava que não se podia contratar sem o curso de Comunicação e o curso ainda não formava ninguém. Entrei na conversa, atrevido, doido para trabalhar e disse: passei no curso e começo no próximo semestre. Comecei imediatamente. Daí foi só seguir as orientações de Agnaldo, que percebia, como poucos, o lado social da notícia, da necessidade de perguntar tudo, inclusive o óbvio, de ouvir mais do que falar e de ser fiel aos fatos.

Espaço K – Nesse tempo A União era uma ebulição…

Luiz Carlos –  A União fervilhava, experimentava o fim da ditadura e apostava na abertura política. Tarcísio Burity havia tomado posse como governador e dito a frase que ficou famosa:” Não conheço democracia sem imprensa livre”. Aproveitamos a deixa. Agnaldo criou o Jornal de Domingo e passamos a experimentar com entrevistas, debates e muita cultura. A admiração pela inteligência de Agnaldo dura até hoje e a amizade também. Comecei pela editoria de Geral, depois de uma conversa com Agnaldo que há 40 anos, já experimentava a inteligência emocional, querendo conhecer as pessoas, sentir como elas percebiam o mundo e onde melhor poderiam render no jornal. Tião Lucerna foi meu primeiro chefe de reportagem e, ao receber minha primeira matéria, manuscrita me deu uma ordem: “Sente naquela máquina, passe o dia todo nela, mas só me entregue o texto quando ele tiver totalmente datilografado. Fiz isso e quando cheguei em casa passei a noite toda treinando na pequena Olivetti, que o amigo Fernando Leal me emprestou.

  

Espaço K – Aliás, você está de volta ao jornal A União. O fôlego vai longe, né?

Luiz Carlos – Tenho uma curiosidade permanente e diversificada. É cultura? Me interesso. É física? Quero discutir. Sociologia? Adoro tentar entender as relações e conflitos humanos. Política? Não vejo outra forma de se governar. Enfim, topo toda conversa sobre qualquer tema. Inclusive sobre o nada.

Espaço K  – Conhecido como bom entrevistador, tem ideia de quantas entrevistas já fez ou poderia citar algumas trabalhosas e outras brilhantes?

Luiz Carlos  – Já pensei, mais de uma vez, em editar um livro com essas entrevistas. Comecei fazendo em A União, para o Jornal de Domingo. Lembro de duas que me marcaram. A primeira, com George Casales, um teólogo marxista, que deu a seguinte explicação para o pecado: “Minha vida a qualquer preço, inclusive ao de sua morte”, ao responder a uma pergunta de Agnaldo Almeida. E a outra, com Bernardo Cabral, que passou pela Paraíba em campanha para a presidência da OAB. Ele disse: “A juventude pode não saber o que quer, mas sabe o que não quer”, ao responder sobre a indecisão dos jovens quanto ao futuro. Afora outras conversas com grandes nomes do Direito, como Saulo Ramos, Paulo Bonavides e Paulo Maia e na cultura, como Ariano Suassuna. Foram muitas. Vou pecar pelo esquecimento ao deixar de citar algumas. Em O Norte e no Correio da Paraíba também fiz entrevistas, além das funções de edição. Em O Norte cheguei a diretor de Jornalismo dos Associados na Paraíba.

Espaço K  – Editor de páginas, você fez de tudo nos impressos, né?

Luiz Carlos – Tudo, menos coluna social. Nunca fui de circular, de sociabilizar, sempre preso entre o trabalho e o estudo. Passei por todas as secções ou como repórter ou editando. De A União fui editor geral, redator de primeira página e hoje editor política e coordeno o projeto Memórias A União.

Espaço K  – Eu gosto do Luiz Carlos articulista, cronista. Já fazia isso há muito tempo ou veio nessa nova fase de A União?

Luiz Carlos  – Apesar de não gostar de discussões infrutíferas – o que ocorre muito no jornalismo, como reflexo da política – sempre expus o que penso. Em A União, além das entrevistas escrevi alguns artigos no começo da carreira. Depois em O Norte e no Correio, também. Hoje ocupo um espaço na página de Opinião de A União, com um artigo semanal, geralmente abordando temas do dia a dia como meio ambiente, que é uma de minhas maiores preocupações. A guerra insana, que ainda hoje, depois de tanta riqueza produzida e de tanta ciência, ainda está presente todo dia em algum lugar do planeta. E a Inteligência Artificial, essa revolução, que, ao mesmo tempo, nos desafia, encanta, e assusta, afinal é algo sobre o qual não temos controle e nem ideia de onde pode chegar.

Espaço K – Você  passou pelas tvês  acho que Cabo Branco e depois Band, ali onde era o Jornal O Norte. Foi boa essa experiência? 

Luiz Carlos  – Uma experiência excepcional. Na Cabo Branco, por trás das Câmeras, como editor. Fiz de tudo, do Bom Dia Paraíba aos JPBs em todas as edições. Também editei o Globo Esporte e programas especiais sobre temas importantes para a sociedade, como eleições, por exemplo. Na Band fui um pouco à frente das câmeras, sempre entrevistando. A televisão mostra que tudo pode ser cortado. O tempo impera e não dá margem a nenhuma argumentação além dele próprio. A gente aprende isso quando ouve a palavra estourou. Também trabalhei na TV Correio. Fui editor geral.

Espaço K – Você também viveu uma experiência nos Estados Unidos. Gostou?

Luiz Carlos  – Não muito. É bom você sair do conforto e conhecer outras plagas, mas o bom mesmo é estar em casa. Fui legalizado para os EUA, mas mesmo assim, toda vez que tinha que enfrentar um obstáculo com a língua ou com, por exemplo, outros brasileiros vivendo dramas com a imigração, eu tinha vontade de voltar para casa. Lá conheci muitas histórias de gente que entrou sem passaporte, nas mãos dos coiotes. Um mineiro me mostrou os filhos e disse que um não era dela. A mulher havia sido estuprada quando tentava atravessar o Rio Grande e engravidou. Ele criava como filho. O melhor de minha passagem pelos Estados Unidos foi a volta. Cheguei a me emocionar quando o comandante do voo anunciou que a partir daquele instante estávamos sobre a proteção da Força Aérea Brasileira, pois já sobrevoamos o espaço aéreo brasileiro.

Espaço K – Luiz Carlos parou de fumar faz tempo. Vamos falar sobre esse vício, que poucos conseguem parar…

Luiz Carlos  – Uma das poucas coisas que me arrependo na vida: ter fumado. Faria diferente se tivesse outra chance. É terrível, gera dependência, lhe consome e oferece um prazer que não leva a nada. Nem a uma boa lembrança. Se gasta dinheiro e, principalmente, saúde, e a contrapartida é nada, ou, no mínimo enganosa, efêmera em demasia. Deixe de fumar como se uma guilhotina tivesse cortado o vício. Acordei e disse que não fumaria naquele dia. No seguinte disse novamente que, como não havia fumado no dia anterior, não fumaria nesse também. No terceiro dia repeti a mesma argumentação. Larguei o vício em 16 de novembro de 2009. Ganhei alguns quilos, mas minha saúde agradece todos os dias.

Espaço K – Antes do jornalismo, alguma paixão?

Luiz Carlos  – Talvez a maior de minha vida: a música. Dediquei minha infância e adolescência à música. Estudei com Maurício Gurgel, com quem cantei no coral da Escola Técnica Federal da Paraíba. Estudei com José Alberto Kaplan e com Pedro Santos. Quem me ensinou violão foi Vital Farias, na Escola de Música Antenor Navarro. Cantei no Madrigal Paraíba e na Camerata Universitária, onde participei da apresentação da Cantata Pra Alagamar, composição de Kaplan com texto de Waldemar José Solha. Mas a música é egoísta quer tudo só para ela e eu precisava sobreviver por conta própria, apesar de muito jovem. Outro detalhe. Cheguei a uma fase do estudo da música que precisa aprender piano para facilitar nas disciplinas de composição e orquestração. Não deu certo, porque o que uma mão fazia algo e a outra queria fazer também. E no piano nem sempre isso é possível, com cada Mao trabalhando de forma individual em movimentos e ritmo. O Jornalismo me redimiu para outra profissão.

Espaço K – E o tempo na Universidade, ensinando?

Luiz Carlos  – Outra experiência que valeu a pena. Tentei levar para os alunos toda a experiência que o exercício do jornalismo já havia me proporcionado, a preocupação objetiva com o fazer, as surpresas, a preocupação com o texto e a verdade de uma informação, tudo isso a partir de uma base técnica, científica, lembrando que Jornalismo é prática social e não exige rebuscamentos literários, mas clareza, concisão, lógica e objetividade.

Espaço K  – A saúde é como a família, sempre em primeiro lugar. Você está bem?

Luiz Carlos  – Bem, apesar das dores que a idade traz. É dor aqui e acolá, diabetes, cardiopatias, enfim uma série de preocupações para levar aos médicos. E muitas restrições nos alimentos, nos cuidados com os pés, infecções, exercícios, apesar de dia sim e outro também burlar as recomendações para não comer isso ou aquilo. Vou driblando.

Espaço K  – Luiz Carlos e Penha já são avôs?

Luiz Carlos  – Avós de Maria Laura, uma gata de 13 anos. O pai é Diogo, meu filho mais velho. E apesar da juventude, ela tem um bom gosto refinado na música que começa com Vá Pensiero de Verdi e vai à bossa Nova de Tom Jobim. Não sei a quem puxou com essas preferências, rs. Temos também um netinho, do nosso caçula Daniel. Chama-se Teodoro. Tem um abraço forte que emociona quando se joga nos braços de quem ama, com a entrega de um aperto carinhoso… Com diz o amigo sertanejo, Chico Gomes: “O avô é um burro “chucro”, que o filho amansou para o neto montar”. É uma felicidade indescritível ser tratado como “voco”. Emociona e desperta o sentimento de que nem tudo está perdido.

Espaço K  – Me parece que você não dá muita bola para as redes sociais?

Luiz Carlos  – Sou assíduo a todas, mas não me exponho muito. Não vejo necessidade de empinar uma pipa e colocar a foto e uma descrição da cena em redes sociais e ficar clicando o tempo todo para observar quantas curtidas isso mereceu ou quantos comentários gerou. Como venho de uma geração que primava pelo que escrevia – o texto final era nosso principal objetivo, com inspiração em Barreto Neto, Carlos Aranha, Gonzaga Rodrigues, Martinho Moreira Franco e Nathanael Alves – não consigo comungar com a irresponsabilidade das redes sociais, algo em que poucos têm compromissos, como se qualquer delírio valesse a pena. Respeito quem curte e se dedica, mas prefiro, quando escrevo, provocar, ao menos, uma reflexão e não uma curtida.

Espaço K – Tem medo de morrer?

Luiz Carlos  – Nenhum. Sou agnóstico e não tenho muitas preocupações com o que vem após a morte. Acredito que acabamos como qualquer animal, decomposto e servindo de comida para outro. Nossa inteligência, que tudo tenta explicar, criou, inclusive Deus e construiu toda a narrativa sagrada. O que fica é a história e não a perspectiva de uma vida eterna. Poderemos chegar até o transumaníssimo, que Luc Ferry, ex-ministro de Educação da França e filósofo prevê quando homem se fundirá com a inteligência artificial e sensores vão se antecipar as dores e sintomas tratando qualquer doença antecipadamente e isso poderá nos levar a alguns anos de vida a mais. Acredito que será uma preocupação para a previdência social com homens e mulheres vivendo até 300 ou 400 anos e só morrendo de acidente ou causas externas. Mas sempre haverá u dia em que partiremos e na voltaremos.

Espaço K – Trabalhou em rádio também?

Luiz Carlos  – Muito pouco. Uma experiência curta na Rádio Arapuã, ao lado de Petrônio Souto, nos anos 80. Mas logo me envolvi em outros projetos, como comandar a transformação do semanário O Momento em diário e, depois, na instalação da TV Cabo Branco, que não tive tempo de me dedicar ao rádio, embora goste muito desse veículo e de sua velocidade quase sempre decisiva para informar primeiro. O que fiz muito em rádio foi ter longas conversas no radioamadorismo, um de meus hobbies. Já falei com gente de tudo que é canto desse planeta. E fiz grande amizades. Uma das histórias mais interessantes foi a que ocorreu quando conversei com um francês e ao identificar pelo prefixo de onde eu falava respondeu ao meu chamado para conversa dizendo; “Você fala da terra de Genival Veloso de França”. Ele era médico legista e conhecia a “Marca de França”, descoberta do médico paraibano que o deixou famoso no mundo. Qualquer morte por esganadura é decifrada pela presença dessa marca. Imagine a alegria mútua quando isso ocorreu.

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