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Criador do “Projeto Pixinguinha”, Hermínio de Carvalho lança novo disco

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publicado em 25/11/2023 às 12h45
atualizado em 25/11/2023 às 10h46

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Hermínio Bello de Carvalho, em 2025, chega aos 90 anos e 70 – apenas – de ininterrupta atuação na área cultural brasileira. É um gigante. O SescSP criou um projeto comemorativo em homenagem ao poeta e compositor. Esse tributo, coordenado pelo produtor paulista Helton Altman, englobou a edição do livro “Passageiro de relâmpago”  e do CD “Cataventos” .   

HBC, como é carinhosamente chamado, foi parceiro de Cartola, Dona Ivone Lara, Paulinho da Viola e Pixinguinha.

Um elenco de intérpretes está no  repertório autoral de Cataventos:  Maria Bethânia,

, Vital Lima, Paulinho da Viola, Áurea Martins, Joyce Moreno, Zé Renato, Vidal Assis – e alguns parceiros da vida artística de Hermínio: Alfredo Del Penho, Ayrton Montarroyos, Gabi Buarque, Giulia Drummond, Marcos Sacramento, Pedrinho Miranda e Pedro Paulo Malta.

Hemínio Bello ao lado de Alaíde Costa

CD  que saiu físico e digital, tem arranjos de Lucas Porto e a participação especial da atriz Fernanda Montenegro: a capa é assinada pelo artista gráfico Mello Menezes. Hermínio  vem de muitos projetos culturais, como a criação dos Projeto Pixinguinha e o Lúcio Rangel de Monografias na Funarte – bem como a revelação de Clementina de Jesus, antes uma então desconhecida empregada doméstica com 62 anos de idade, posteriormente um mito consagrado internacionalmente.

Aos 88 anos, tem em seu currículo mais de 20 livros publicados e uma extensa produção discográfica – mais de 150 músicas gravadas – além dos muitos prêmios que recebeu ao longo de sua carreira artística – com destaque para a Ordem do Mérito Cultural e o título de Doctor Honoris Causa concedido pela Unirio, Universidade do Rio de Janeiro. Hermínio Bello de Carvalho é Presidente do Conselho Deliberativo da Casa do Choro/Escola Portátil de Música.

O MaisPB conversou com o artista e cola nessas homenagens prestadas a ele, merecidamente. Leiam a entrevista e descubram muito mais sobre Hermínio Bello de Carvalho

MaisPB – O disco “Cataventos” com selo Sesc  é uma  de sensibilidade tamanha, quando você homenageia  outros talentos como Clementina de Jesus, Pixinguinha e Mário de Andrade, todos no amém. Vamos começar por aqui?

Hermínio Bello de Carvalho – O disco “Cataventos” nada mais é do que um resgate de uma pequena parte parte da minha obra – e também uma forma de tornar público o talento dos parceiros que musicaram meus versos.  E alguns desses parceiros por vezes são desconhecidos do grande público – e isso torna meu trabalho socialmente mais importante. “Um clarão” –  a imagem cabe aqui. 

MaisPB – Vamos dar uma babada no Selo Sesc, que tem realizado lançamentos incríveis, nesses tempos em que o CD morre e ressuscita?

Hermínio Bello de Carvalho –  O Sesc/SP faz um trabalho muito positivo ao apoiar projetos como esse que tornou possível a edição do CD “Cataventos”  e o Livro “Passageiros de relâmpagos”.  Sem esse apoio, seria extremamente difícil torná-lo acessível ao grande público. E, infelizmente, perdemos a pessoa que foi o responsável pela viabilização desse projeto coordenado pelo Helton Altman : falo do Danilo Miranda, falecido esta semana. Realmente, uma perda enorme, enorme para a cultura brasileira. Dedico a ele esse meu trabalho. .  

MaisPB – Pois bem, Labirinto é sua, é seu, é nosso também e é de Fernanda Montenegro – (que  declama em Enunciação) mas vamos falar dessa junção Hermínio e Fernanda, que poema fantástico, – ora, ora falar alemão já é difícil e as pessoas dizerem – ele fala alemão?

Hermínio Bello de Carvalho – Fernanda não é somente a maior atriz brasileira,   mas também uma das maiores do mundo. Nem consigo mensurar a importância dela nesse meu trabalho. É um privilégio, eis tudo. Nunca, em minha vida, sonhei que um dia pudesse tê-la atuando num projeto meu. Sempre, em meus trabalhos como compositor, inclui a poesia como peça fundamental como ponte para chegar ao grande público – e não me arrependo dessa – digamos – “ousadia”. Sou fundamentalmente um poeta que trabalha seus versos como uma forma alternativa de alcançar o grande público através das músicas que recebem meus versos. Fiz isso sempre, acredito nessa fórmula –  que é também uma forma bem objetiva de alcançar um outro tipo de público – aquele que penso ter atingido através de meus livros  – 23 títulos  já publicados – e acho que, de alguma forma, criei um pequeno público que entendeu essa minha – repito – “ousadia”. 

MaisPB – Cobras e Lagartos  na voz de Maria Bethânia ficou um estrondo, uma exaltação, uma coisa dolente até orgasmos tem nessa canção.  Como aconteceu esse encontro de vocês? Aliás, que falta nos faz Sueli Costa, que se foi, né?

Hermínio Bello de Carvalho – Você tem toda a razão. Bethânia  gravou essa música há dezenas de anos, e a convidei para regravá-la na certeza de que sua interpretação teria uma refinação que  só o tempo dá a artistas com seu porte. E não me equivoquei. Cada vez que ouço essa faixa, mais emoção me dá. 

MaisPB – A terceira faixa  “Louva-a-Deus” com Joyce Moreno e muita gente, até parece uma procissão, uma ópera, escambau. Estou certo?

Hermínio Bello de Carvalho –Faço um reparo :Joyce e Alfredo del Penho – é bom não omitir o nome desse cantor maravilhoso. Achei curiosa a sua observação de que parece essa música parece uma procissão, uma ópera – ela é uma alegoria, um esparrame de linguagens poéticas – e meus parceiro Vidal Assis e Luizinho Barcelos musicaram e expressaram, com muita qualidade os versos que compus.

MaisPB – Adorei Labaredas e logo lembrei dos afro-sambas de Vinícius e Baden. E gostei demais de você ter chamado  o Ayrton Montarroyos, um jovem talentoso. Conta pra a gente dessa alegria resgatada e anunciada?

Hermínio Bello de Carvalho – Importante falar do Ayrton Montarroyos: é um cantor brilhante, de extrema sensibilidade, e de uma qualidade vocal superior – e não foi à toa que o Edu Lobo o levou para participar de seu disco. E ele iria gravar mais uma faixa no disco, interpretando os versos que fiz para o prelúdio (“Prelúdio da solidão”) composto por Villa-Lobos – e que exige não só uma técnica vocal superior  – mas também uma hiper sensibilidade  – que ele tem de sobra. Fica para   um próximo disco … 

MaisPB – Como você tem visto o caminhar de Dona Felicidade….

Hermínio Bello de Carvalho – Essa figura não é uma invenção minha: ela existiu, se vestia toda de branco, parecia devota do candomblé – e cada vez que passava por mim sentia, confesso agora, um arrepio. Dona Felicidade era dona de uma falsa felicidade. É assim que eu a via, foi assim que a descrevi nos versos que meu parceiro Vidal Assis musicou. 

MaisPB – Puxa vida! A canção que dá nome ao disco Cataventos – A Chave do Alçapão – é demais, você declamando com Giulia Drummond. Vamos falar desse momento tão bonito do disco?

Hermínio Bello de Carvalho – Venci alguns pudores pessoais em relação ao meu trabalho – o de não incluir meus parentes. E estou falando  disso pela  primeira vez. Meu parceiro nessa música é Saulo Battesini, meu sobrinho,  filho de minha irmã Gilda (já falecida) e pai de Giulia Drummond – que tem esse sobrenome porque é aparentada com o meu poeta preferido – Carlos Drummondiano de Andrade. Ela atualmente  reside na Escócia – e vive de sua arte. Tem um detalhe : Gilda, há pouco citada, tinha o registro de soprano – e estudou com o  famoso professor  Maestro Faini – pai da atriz Suzana do mesmo sobrenome. Minha família sempre foi muito musical : meu avô materno era violeiro, e meus pais de quando em vez faziam reuniões regadas a música – e eu fazia parte do canto coral da Igreja Sagrado Coração de Jesus – eu e Gilda, que era minha paixão, minha única irmã. Eita, quanto coisa você me fez lembrar – e olha que não sou saudosista… 

MaisPB – Trapaças  da Sorte” é uma pancada e na voz de Áurea  Martins um lamento – que maravilha, né?

Hermínio Bello de Carvalho – E não poderia deixar de ser: Áurea Martins é uma cantora fabulosa, a única que fazia Elizeth Cardoso sair de casa à noite para ouvi-la cantar nas casas noturnas onde atuava. E ela gravou um CD exclusivamente com minhas músicas – você já ouviu?Pois faça isso. 

MaisPB – Que bonito Paulinho da Viola cantando Valsa da Solidão, que cá pra nós, parece a mais bonita do disco. Ele esteve aqui em João Pessoa se apresentando este mês e falou em você…

Hermínio Bello de Carvalho – Um detalhe: foi nossa primeira parceria – isso há  mais de 60 anos! Gosto muito de Paulinho. 

MaisPB – A  capa do disco é linda, com você um menino traquino, arte de Melo de Menezes – fala aí

Hermínio Bello de Carvalho – Mello Meneses é um grande artista – e o conheci através do Aldir Blanc – eles eram superamigos.  Sempre que tenho  algum trabalho importante, procuro incluir – porque ele tem aquele algo especial que distingue os grandes artistas. Repare bem na capa : lá estou eu, moleque descalço, sob o olhar atento e protetor de meus deuses  Pixinguinha, Clementina de Jesus, Cartola e Mário de Andrade. Lindo, lindo . Minha vontade é fazer um poster desse trabalho e distribuí-lo entre amigos 

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