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ESNTREVISTA ESPECIAL

Hamilton de Holanda lança álbum focado na obra do cantor e compositor Djavan

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publicado em 07/10/2023 ás 12h14
atualizado em 07/10/2023 ás 15h42

Kubitschek Pinheiro 

Fotos – Brunini, Dani Gurgel e Pedro TheZakMan Araújo

O disco novo de Hamilton de Holanda, segue as homenagens aos artistas brasileiros. Desta vez, Djavan. Já fez com a obra de Milton Nascimento, Chico Buarque, que canta no disco com Silvia Perez.

O tempo passa. Hamilton homenageia a obra de Djavan com 11 canções, que deu o nome ao álbum de “Samurai”, que vem do disco Luz. O show do projeto será dia 14 deste mês no Circo Voador, no Rio.

O álbum de Djavan tem o nome da canção “Samurai” vem dos bancos da escola, da adolescência,  quando Hamilton estudava em Brasília com os pais. Nesse tempo ele tinha uma banda  com os amigos. No repertório, o melhor da MPB, e, entre as músicas preferidas, “Sina”, de Djavan  – “desse front/ virá lapidar o sonho/ até gerar o som/ como querer Caetanear/ o que há de bom”- , que tornou o “hino” do grupo. Essa história é ele quem conta.

Bem acertado nome do disco, a canção Samurai, composta por Djavan durante as gravações em Los Angeles, que é a primeira faixa do álbum de HH. A participação de Stevie Wonder, duetando com Djavan na gaita, serviu como uma mensagem de boas-vindas ao brasileiro no novo mercado. E isso Hamilton registra na entrevista ao MaisPB.

O novo trabalho mistura versões instrumentais com novas interpretações de hits como “Oceano”, “Flor de lis”, “Lilás” e, claro, “Sina.” As parcerias escolhidas passam pelo pianista cubano Gonzalo Rubalcaba, Zeca Pagodinho, o uruguaio Jorge Drexler (cantando em português), Gloria Groove e a indiana Varijashree Venugopal e, claro, o mestre Djavan, que canta em “Lambada de Serpente” e “Luz”.

Em Samurai, o bandolinista se destaca entre as canções e duetos, num olhar ao mesmo tempo criativo e inventivo. O disco já está disponível nas plataformas digitais pela Sony Music.

Em entrevista ao MaisPB, pela quarta vez, Hamilton abre o jogo, fala das emoções, dos agradecimentos a tudo que ele agrega e é culturalmente um nome da arte mundial. Hamilton é, sim, o melhor bandolinista brasileiro.

MaisPB – Esse disco, além de ser dos fãs e das mídias, é um agradecimento, um afago a pessoa e a obra de Djavan?

Hamilton de Holanda – Sim, eu morava em Paris e quando voltei, na dúvida se ficava no Rio ou em Brasília, optei pelo Rio. Djavan foi um dos primeiros a me convidar para gravar. Quando cheguei no estúdio e descobri que ele tinha feito a música para eu tocar, (que é a faixa-título do disco “Vaidade”, de Djavan, 2004). aquilo me deixou muito emocionado, era uma música instrumental, mas imagina, Djavan, um poeta fez uma música instrumental…gravei. Só depois que ele botou a letra. Ou seja, ganhei uma música do Djavan. Sempre gostei da obra dele, aumentou a vontade e um sentimento de gratidão

MaisPB – Tem uma história que vocês tocavam as músicas dele, nos colégios em Brasília?

Hamilton de Holanda – Sim, eu tinha uns amigos e formamos uma banda, tocávamos as canções de Caetano, Gil e a música “Sina” de Djavan era o hino da banda, a que a gente mais tocava. Eu tinha 16 anos…

MaisPB – Entre tantas canções, como conseguiram chegar ao repertório?

Hamilton de Holanda – Isso aí é uma espécie de exercício de desapego, porque não tem como caber todas. Eu vejo Djavan dando entrevista e ele fala da dificuldade de montar o repertório para um show. No meu disco, partimos de duas coisas: que a melodia ficasse bem no bandolim e outra a questão afetiva, músicas que marcaram a minha vida e dentro das músicas que marcaram, um disco especificamente tem a maioria dessas músicas, que é o Luz, de 1982, que foi um ponto de referência – o próprio nome do meu disco “Samurai”, vem desse disco, Sina, Capim, Luz

MaisPB – E tem alguma música que não se casa com no bandolim?

Hamilton de Holanda – Por exemplo, no caso do Djavan, é difícil encontrar alguma coisa que não se case com o bandolim, porque as melodias dele são muito inventivas. Sina eu vi que tinha que ter alguém cantando – só a melodia dessa canção eu sinto falta da letra, já as outras não sinto isso. Samurai ficou muito marcante pela participação de Stevie Wonder, na gravação original. Em geral, todas elas têm uma melodia bandolinista.

MaisPB – A capa o disco está linda…

Hamilton de Holanda – Sim, está linda mesmo, a foto foi feita pela Dani Rangel que canta comigo, faz os coros, é uma  cantora espetacular – multi artista. O trabalho da capa quem fez foi o Pedro Araújo e a referência é, com certeza, ao disco Luz de Djavan.

MaisPB – No seu disco as canções parecem novas, a gente logo sente a falta da voz…

Hamilton de Holanda – Então, isso é o grande lance do disco, buscar a emoção como letra ou sem letra, no meu caso sem letra. Mas é uma obra muito conhecida e aí pensei: vou chamar meus amigos e amigas cantoras, para participar do disco.

MaisPB – Para cantar “Samurai” você chamou Gloria Groove, bom demais, né?

Hamilton de Holanda – Espetacular. Ela é uma cantora sensacional. Na verdade, eu queria trazer alguém da nova geração. Pensei e me veio ela, Por coincidência, nosso amigo paraibano, Salomão Soares, que é o tecladista, ele conhece, o Daniel (que é a Glória) há muitos anos, tocava com a mãe da Gloria Groove e a foi a ponte, e deu certo. Eu gosto muito da voz dela, uma cantora extracomunitária.

MaisPb – Convidou Djavan para duas canções, Luz e Lambada de Serpente?

Hamilton de Holanda – Ele ficou emocionado, e eu mais ainda. Ele agradeceu a oportunidade de regravar a canção Luz, que é muito bonita do repertório dele, que nunca tinha regravado, desde de 1982, há 40 anos atrás. Ele gostou do arranjo, Lambada de Serpente, assim como Faltava Um Pedaço, eu escolhi porque tem essa essência nordestina. Como eu também tenho uma ascendência nordestina, (os pais são pernambucanos) tinha que ter isso.

MaisPB – Então, o disco começa com o tema do Nordeste?

Hamilton de Holanda – Sim, começa com Faltando o Pedaço tem aquele som do baião do Gonzaga, que é o mestre dele, Djavan. Ele sempre cita, que é o mestre dele. Como se diz por aí, a gente começou pelo começo, disse rindo.

MaisPB – Ainda sobre essas duas canções “Lambada de Serpente e Faltando um Pedaço”, parecem cantorias antigas, né?

Hamilton de Holanda – Exatamente, a ideia era trazer essa simplicidade da arte do artista. Djavan tem uma complexidade que consegue fazer a síntese e transformar em coisa simples. Essas duas canções são a base da simplicidade, que vem da música de Luiz Gonzaga.

MaisPB – Vamos falar da canção “Oceano” que a indiana Varijashree Venugopal tá junto, nessa pegada?

Hamilton de Holanda – Você lembra que ela gravou um choro fado no meu Maxixe? Então, a Varijashree Venugopal, é minha amiga e vou chamar ela sempre. Tenho amor pelo som dela, acho que é uma maneira de conectar as culturas, do Brasil e da Índia. E a música do Djavan cabe isso.

MaisPB essa amizade nasceu das redes sociais, né?

Hamilton de Holanda – Exatamente, conheci ela e seu trabalho na pandemia, quando o fiz o desafio Canto da Praia, que era com João Bosco e ela participou, eu chorei. Desde então estamos juntos. Toquei no disco dela e convidei ela de novo para participar

MaisPB – A participação de Zeca Pagodinho cantando Flor de Lis é um show à parte, né?

Hamilton de Holanda – Essa canção é um dos sambas de Djavan. Tem Serrado, Avião, são vários sambas que formam uma escola à parte. O Zeca já chegou definido, ele é o símbolo do samba, perguntei se ele queria a letra, mas que nada ele disse pra que letra quem não sabe essa música Zeca trouxe uma malandragem rítmica, que só ele sabe fazer.

MaisPB – A canção com o uruguaio Jorge Drexler, só dá vontade de dançar?

Hamilton de Holanda – Sim, ele é incrível, ele é uruguaio e canta em espanhol, mas conversando, vi que o português dele é excelente e sugeri que ele cantasse na língua que quisesse. Ele escolheu português e ficou perfeito e charmoso.

MaisPB – Você gosta muito das letras, isso está explícito no som que vem do bandolim…

Hamilton de Holanda – Demais. Eu quis fazer um disco próximo da perfeição entre o canto e a parte instrumental, isso foi minha busca.

MaisPB – Na entrevista que fizemos com Xande de Pilares, ele ressalta sua participação no disco dele, cantando Caetano…

Hamilton de Holanda – Eu gostei de tocar no disco de Xande, é outro artista da maior grandeza. Olha, meu pai me falou quando era pequeno; “aprenda a tocar seu instrumento, que você vai fazer muitos amigos na sua vida”.

MaisPB – Será que Hamilton vai gravar um disco com a obra de Caetano Veloso?

Hamilton de Holanda – Vou assim, já fiz com Chico Buarque, Milton Nascimento, agora Djavan e falta Caetano e Gil, dessa turma boa da música popular brasileira.

Assista aqui o clipe oficial de “Faltando Um Pedaço”

https://youtu.be/vTQzlYO6fko?si=xZQ2XaEjPI3sbtrF