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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Cena de Tarantino

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publicado em 22/08/2023 às 07h00
atualizado em 22/08/2023 às 04h57

 

Os tiros trazem muito da vivência dos homens, que ocupam a triste exposição em suas vidas. Ações chocantes diárias ainda nos assustam. Sempre. É como se estivessemos num filme de Tarantino.

Quase já não temos memória de nada, quase já não temos memória de ninguém.

Com o nome de santa, mataram mais uma Bernadete.

Quando soube que mataram a senhora Bernadete Pacífico, de 72 anos, conhecida como mãe Bernadete, assassinada a tiros na noite de quinta-feira (17), na Região Metropolitana de Salvador, fiquei no modo avião. O neto disse que os atiradores aparentavam ter vinte e poucos anos.

Vejam só – jovens.

Dois homens usando capacetes entraram no imóvel da associação quilombola onde a vítima estava e efetuaram vários disparos.

Em julho passado, durante um encontro com a ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, também na Região Metropolitana de Salvador, Bernadete denunciou ameaças e violências contra a comunidade quilombola. Isso não é de hoje.  Ou seja, ficou o grito solto no ar e ninguém fez nada. Nem fará.

Não deveria ser assim: a pessoa viver com medo de morrer, amuada, feito bicho. É covardia matar. Por que usaram capacetes? “Foi a mando. Minha família está sendo perseguida”, disse o filho Wellington.

Uma voz, um movimento, uma religião, quando a vida das pessoas não é mais delas, qualquer coisa que denuncie a existência…

Existe isso – denunciar sua existência (?) dizer a uma autoridade que estão querendo nos matar?

Fecharam a porta da vida de Bernadete, que tinha uma razão para ultrapassar outras portas brasis, a porta agora está fechada. Eles voltarão para matar outras bernadetes.  Ódio a granel.

Uma Ialorixá é uma rainha – e o racismo não suporta a existência de uma rainha negra. …  Que coisa feia, o que tem a pele negra, que incomoda tanto, tantos talentos, tantos aplausos, tanta música.

“É um crime de mando. Minha família está sendo perseguida”, disse Wellington, filho de Mãe Bernadete. De mando????

Quando a população negra reage, eles matam.

Kapetadas

1 – Eu queria saber qual é a medida do possível.

2 – Toda razão é contra o Brasil, mas toda insensatez é a favor.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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