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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Descarados, descaradas

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publicado em 01/08/2023 às 07h00
atualizado em 01/08/2023 às 04h34

Persiste à nossa volta a turma das duas caras, os descarados e descaradas. A ideia é não confundir o cara com seu discurso repetido. Nem a literatura aguentaria a redutível performance, nem o assunto se esgota. Jamais.

Estava conversando com a escritora Ângela Bezerra e veio essa expressão e escrevemos ao mesmo tempo: “duas caras”. São muitas as duas caras.

Explico – a expressão registada no Dicionário Prático de Locuções e Expressões Correntes, de Emanuel de Moura Correia e Persília de Melim Teixeira (Papiro Editora), é “ter duas caras”, e significa mudar facilmente de opinião; ser falso, hipócrita escambau.

Entre as piores, está a hipocrisia, mas continua valendo o dito popular, como se dizia no sertão – “Fulano tem duas caras”. Mas há uma conotação nessa travessia invertida – quem vê cara,  vê coração.

Ninguém sente a dor do outro.

Numa relação de amizade, creio, não cabe sequer uma mentira bobinha, mas a memória íntima das palavras, o timbre que ecoa na consciência como correlato de uma voz que ultrapassa a possibilidade da razão, tais pessoas de duas caras, são sempre desmarcaradas.

Muita gente pensa que o outro é besta, mas besta é tu criatura.

Numa amizade, na certeza dessa relação, não cabe a multiplicidade das máscaras, cujo o jogo se desdobra. É um jogo, mesmo.

Tem pessoas que mesmo raivosas não têm duas caras, mas guardam mágoas e rezam e nunca zeram a reza. É tudo mentira.

Na voz, no ritmo, no fio de consciência que se faz de si ao dizer que “tem a consciência tranquila”, não tem, quem tem dorme bem.

Eu fico besta. Às vezes eu digo a pessoa o que ela quer ouvir, mesmo ela sabendo que eu sei que ela tem duas caras  –  e tal desfeita, ela  pensa que somos parceiros. Não somos. Eu não tenho inveja de ninguém, de nada.

Não fique no passado meu caro, minha cara, faça do seu pé, seu automóvel, vá em frente.

De que adianta dizer que faz orações se ao dobrar a esquina, usa  a outra caras. O jornalista Petronio Souto costuma dizer que: “a morte é só dobrar a esquina”. Mas será que com tanta evolução, a criatura consegue levar para o Amém os ressentimentos? Te dana!

A única coisa que vou levar aqui da Terra é a libido, e nada mais.

Acreditar que ter duas caras é uma forma de compensação, comigo não violão.

Não é uma explicação, uma compreensão, se de um lado a pessoa continua arrastando as sandálias.

Condicionado pelas opções que faço, farei, sem lugar para exigências, cobranças ou acareações e compromissos, que não sejam o da estrita legibilidade.

Kapetadas

1 – Fico pensando como deve ser difícil pro psicólogo lidar com quem mente. A pessoa pode simplesmente plantar um falso diagnóstico.

2 – Não, não te exclui. Você se excluiu.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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