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MaisPB Entrevista

Lui Coimbra lança álbum interpretando Mário Quintana e Villa-Lobos

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publicado em 22/07/2023 ás 17h38
atualizado em 23/07/2023 ás 10h01

Kubitschek Pinheiro

Fotos – Leo Aversa

O cantor, compositor e multinstrumentista Lui Coimbra está lançando novo álbum, “RodaFlor” com selo da Biscoito Fino e já está nas plataformas. O disco passa por Marisa Monte, Zeca Baleiro, Naná Vasconcelos, Mário Quintana, Villa-Lobos e Ferreira Gullar e obras autorais.

Abre com a canção “Dona tá Reclamando” (de Dominguinhos Minguinho), destacando nos impulsos da beleza do cancioneiro popular do Boi do Maranhão, cujos primeiros versos diz:  “Dona tá reclamando, Porque nós tamo chegando agora, Eu acho impossível, dona, Sempre se chegar na hora”. A versão de Lui Coimbra é um estado minimalista.

O novo álbum de Lui dialoga com o Brasil profundo, mas bem preciso neste Brasil de 2023.

Lui Coimbra esteve em João Pessoa em 2017,na edição especial do Música do Mundo, se apresentando no Teatro Santa Roza, no Centro de João Pessoa. O show da turnê ‘Ouro e Sol’ (resultado de seu primeiro disco solo) com a erudição do violoncelo, instrumento que já o consagrou, ao canto da sonoridade de um artista bem cuidadoso nos baticuns, canções, cirandas e poemas.

“João Pessoa é uma das cidades mais lindas do Brasil! Um povo muito hospitaleiro e inteligente, que sempre me recebe muito bem. Já toquei aí várias vezes. A mais recente foi em 2017, no projeto Música do Mundo no lindíssimo Teatro Santa Rosa! Que teatro maravilhoso! Foi uma noite inesquecível e espero muito em breve poder voltar a Jampa com o show “Roda_Flor” e reencontrar amigos e fãs de música”, disse Lui Coimbra.

O carioca Luis Cláudio Coimbra, conhecido como Lui Coimbra, toca vários instrumentos de cordas, dentre violão, violoncelo, charango e rabeca, e é também cantor e compositor. Fez parte dos grupos “Aquarela Carioca e Religare”, e da Orquestra Popular de Câmara. Por anos acompanhou artistas de peso (em estúdio e em shows), como Zizi Possi, Ney Matogrosso, Alceu Valença, Ana Carolina e Oswaldo Montenegro.

Fotografia de Leo Aversa
[email protected]

O MaisPB conversou com o artista e traz a novidade do disco “Roda Flor”, que vai rodar o mundo, para mostrar  a brasilidade, que temos de melhor na música, na poesia e na literatura.

MaisPB – Vamos começar pelo menino Lui e a música?

Lui Coimbra  – Lá de trás? Eu sempre gostei muito de música, desde que me entendo de gente. Meus pais são mineiros e eles gostavam de ouvir música. Eu sou carioca, mas comecei a gostar de música desde menino. Uma das primeiras lembranças musicais, da voz de Sílvio Caldas, aquilo me impressionou. Tinha aquelas vitrolas antigas, com os pezinhos e eu ficava deitado, ouvindo.

MaisPB – Lembra de alguma coisa desse tempo?

Lui Coimbra  – Sim, Silvio Caldas cantando “São Francisco” de Vinicius (de Moraes) “Lá vai São Francisco pelo caminho, de pé descalço, tão pobrezinho….”, canta o artista ao telefone. Eu era apaixonado por essa música e ainda sou, que Ney (Matogrosso) gravou muitos anos depois

MaisPB – E outros sons?

Lui Coimbra  – Sim, meu pai tinha os discos dele, ouvia muitas serestas. Logo depois comecei a ouvir a Jovem Guarda, a Tropicália, começando. Adorava o Programa da Jovem Guarda. Eu juntava mãe, pai, avós e a empregada para assistir comigo aquela novidade. Uma canção que me marcou muito foi “Disparada” (de Geraldo Vandré Céu Barros”, cantada por Jair Rodrigues…

MaisPB – Vamos falar do seu disco Roda Flor,  a construção?

Lui Coimbra  – Esse disco foi feito aos poucos, já estou fazendo ele há muito tempo. Eu tenho trabalhado muito  como produtor musical para filmes, trabalho com isso o tempo inteiro.  Fui fazendo  Roda Flor devagar, mas nunca gostei do resultado. Era para ter saído antes da pandemia, mas chegou a hora. Eu nunca tive pressa, a minha vida está cheia de música e muito trabalho para fazer, mas agora o disco saiu.

MaisPB – Você tem uma admiração e trabalhos feitos com Nana Vasconcelos?

Lui Coimbra  – Sim,  muito respeito. Em 2016 estivemos juntos num festival na Bahia,  e chegamos um dia antes do show, ele gostava de fazer isso, para ficarmos conversando mais. Nana foi um amigo mestre assim, para sempre  Continuo pensando nele. Eu tinha planejado levá-lo num estúdio e já seria para esse meu disco, mas quando eu cheguei vi  que já estava bem debilitado. Foi o último show, logo ele se internou. Mas ideia de lançar Roda Flor vinha de antes, bem antes

MaisPB – Você fez muitas serenatas virtuais, na pandemia?

Lui Coimbra  –  Sim, muitas, As pessoas me encomendavam uma música, eu fazia tudo, voz, violão, violoncelo, botava percussão. Isso me deu muito prazer, naquele momento de tensão da pandemia.

MaisPB – Em que tempo da sua vida, você começou a tocar violoncelo?

 Lui Coimbra  -Faz tempo. Quando isso aconteceu entrei numa agenda sem fim. Fiz um disco solo, em 2003, quando saiu “Ouro e Sol”, que eu gosto muito, que vai sair nova prensagem e, como vou fazer uma série de shows, muita quer adquirir.

Fotografia de Leo Aversa
[email protected]

MaisPB –  Abre o disco com “Dona Tá Reclamando” de Domiguinhos Minguinho  do Maranhão. Vamos falar dessa canção?

Lui Coimbra  – É linda, né? É de Dominguinhos  Minguinho, compositor do Maranhão, da tradição do Boi.  Conheci a música  “Dona Tá Reclamando com o cantor Tião Carvalho num concerto da Orquestra  Popular de Câmara São Paulo. A primeira vez que eu ouvi, fiquei encantado.  Na verdade, ela era só percussão e voz, quando ouvi. No meu disco ela está estilizada, coloquei violoncelo. No original é rústica. que eu gosto muito.

 

MaisPB – A canção seguinte, você musicou um poema de Mário Quintana, A Ciranda Rodava No Meio do Mundo…

Lui Coimbra  – Sim, o poema do Quintana, “A Ciranda Rodava No Meio do Mundo”. Essas poesias assim, a gente lê e já sabe que a música está pronta. Vez em quando acontece isso comigo.  Até que demorei  achar a sonoridade, tem isso no disco todo: cada música foi pensada muito individualmente com os detalhes da percussão, as programações eletrônicas.

Assista aqui o videoclipe da Ciranda, feito exclusivo para nossa entrevista

A CIRANDA RODAVA NO MEIO DO MUNDO ( Mario Quintana / Lui Coimbra) LYRIC VIDEO

MaisPB – Esse disco é inspirado num Brasil profundo..

Lui Coimbra  – Mas é um diálogo com esse Brasil de hoje, 2023. O disco saiu num momento propício. É um disco que mostra que acreditamos num Brasil profundo, condizente com o Brasil contemporâneo e urbano.

MaisPB –  Ainda nessa faixa do poema de Quintana, tem um coro cantando com você na composição, lembra o coro das crianças nas canções de Milton Nascimento…

Lui Coimbra  – Sim, os discos de Milton Nascimento talvez sejam a minha maior influência. Esse coro, lembro que muitas canções de Milton tinham essa galera cantando junto. Eu chamei o coro Tá Caindo Flor, formado por pessoas que me apoiaram, quando pensei fazer esse disco. Fomos para o estúdio eles cantam com o coração.

 

MaisPB  – Vamos falar da canção “Seguiu o Fado”, do Tiago Torres?

Lui Coimbra  – Eu conheci o Tiago, ele veio muito ao Brasil e sempre que vem a gente se encontra. Teve uma vez que eu estava fazendo uma compilação e ele foi lá em casa (temos até outras músicas que eu musiquei com os versos dele)  e ele me deu vários poemas. Quando eu mostrei a ele a gravação de “Seguiu o Fado” , ele disse rindo: é minha mesma, essa letra?” Ele nem lembrava. Essa canção é uma saga, a sina da gente. Essa  é a música que eu mais trabalhei, queria com uma orquestra e consegui a de São Pesteburgo.

MaisPB – A sua interpretação e musicalidade na quarta faixa “Melodia Sentimental” de Villa-Lobos é bem delicada com o violoncelo

Lui Coimbra  – Essa música pega a gente pelo coração. Eu nem ousava cantar de tantas referências que eu tinha. Durante os shows que eu fazia com Nana (Vasconcelos) eu sempre quis fazer essa canção, mas eu nunca achei o jeito de fazer. Eu gravei Melodia Sentimental com Zizi Possi no disco lindo dela. Gravamos lá na Noruega, com Marcos Suzano.

MaisPB – Vamos falar desse amor por Nana Vasconcelos?

Lui Coimbra  – Quando penso hoje Tá Caindo Flor, eu penso nele, que continua fazendo parte da minha vida, das nossas vidas. Ele ligava muito pra mim aos domingos e dizia “alô”, e eu dizia: fala Nana!” E ele: “Como você sabe que sou?”

MaisPB –  Genial você ter musicado o poema de Ferreira Gullar que fala do gato dele?

Lui Coimbra  – É contemporâneo.   Isso aconteceu por causa de uma parceiro meu  Admar Branco Brandão que musicou o poema do Quintana, “O Idiota dessa Aldeia” e ele sempre encontrava com o  Gullar. Ele me mandou esse poema,  na hora que  chegou, saiu esse samba.

MaisPB – A canção Graça é sua, fala aí pra gente?

Lui Coimbra  –  Essa música, o refrão, eu sonhei com ele e acordei de madrugada e escrevi e gravei no celular, até que agora finalizei. Eu  gosto mais de cantar os poetas.

MaisPB –  A faixa  Valsa da Senhora D, dedicada a Hilda Hilst, é uma parceria com Zeca Baleiro?

Lui Coimbra  – É uma música muito triste, eu gosto muito dessa letra e gosto muito refrão que ele botou : “O amor se vai, mar sem fim, a milhas e ilhas de mim”. Isso é forte. Eu gosto muito de trabalhar com o Zeca

MaisPB – Outra canção triste é “Tanto Quanto”, de sua autoria?

Lui Coimbra  – Sim, a tristeza tem lugar na nossa vida. Essa canção Tanto Quanto, eu não sinto como uma tristeza, sinto mais como uma entrega mesmo, tem momentos mágicos, nos segundos da vida, a gente é um cigano cósmico. Essa canção eu fiz há um tempo, numa noite de lua cheia, aí  no Nordeste, na cidade de Natal. As pessoas começaram a cantar  e eu não tinha gravado ainda, aí chegou a hora.

MaisPB – Fecha com “Rio” de Marisa Monte, Seu Jorge, Carlinhos Brown  e  Arnaldo Antunes. Essa canção é muito bonita?

Lui Coimbra – Essa canção  Rio, me veio das serenatas virtuais, que me salvaram durante a pandemia. Eu recebi muitos pedidos  de fãs e amigos  para gravar uma canção, para eles oferecerem  como uma serenata para outra pessoa querida. Eu fiz várias. Essa música eu confesso que nem conhecia. Veio o pedido e aí ouvi, gravei essa canção no início da pandemia, quando estava bem complicado. Quando fala: “Essa certeza, a ciência nos dá, Que vai chover quando o sol se cansar, Para que flores não faltem, Para que flores não faltem jamais”, era aquele momento que a Ciência ia nos salvar  naquele momento de terror, de trevas, essa canção teve essa carga emocional. A gravação é de 2020, fiz naquele momento. Essa carga essa mensagem que tudo ia passar. Nessa época gravei outras canções que estou pensando em lançar um álbum “Serenata Virtual”

MaisPB – A sua gravação “Aos Nossos Filhos” de Ivan Lins e Victor Martins é arrepiante…

Lui Coimbra Eu nunca tinha pensado em gravar, como eram pedidos, gravei e é  muito bonita essa canção.

Assista  aqui  Aos Nossos Filhos

LUI COIMBRA – Lui Coimbra canta Aos nossos filhos de Ivan Lins e Vitor Martins