João Pessoa, 13 de junho de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Violência nas escolas – o que fazer?

Comentários: 0
publicado em 13/06/2023 às 07h00
atualizado em 12/06/2023 às 17h24

A violência saiu das ruas e chegou às escolas. Já ouvi testemunhos de pais que seus filhos iniciaram o uso de drogas quando foram para a escola, ou que sofreram ou cometeram o primeiro ato de violência no ambiente escolar, passando assim a ideia que a escola é um espaço gerador de violências. Sabemos que isso não é verdade. O que geralmente acontece é que a escola reúne um grande número de pessoas e estas, muitas vezes, vêm de um ambiente violento, a própria comunidade onde moram, ou mesmo a própria família, e esta violência é comumente reproduzida no ambiente escolar.

Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, entre 34 países pesquisados, o Brasil ocupa o primeiro lugar em casos de agressão contra os professores.

Também, segundo o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, quatro em cada dez professores já sofreram algum tipo de agressão por parte dos alunos, seja essa verbal ou física.

Na opinião de alguns estudiosos deste tema, um dos fatores que contribuem para tanto, é que temos um ambiente nacional de impunidade, e tal fato torna mais difícil educar quem não acredita na possibilidade da punição.

Outro aspecto também a considerar é que atualmente vivemos num modelo cultural em que os pais têm dificuldade em dizer “não”, pois temem traumatizar seus filhos, com tal atitude. Assim, produzem neles o que é chamado por educadores de “síndrome do imperador”, ou seja, um comportamento disfuncional em que os filhos estabelecem suas exigências e caprichos sobre a autoridade dos pais.

Diz a professora Márcia Friggi, que “…esta é a geração de cristal, de quem não se pode cobrar nada, e que não tem noção de nada”. E assim sendo, as escolas, por sua vez, têm grande dificuldade para lidar com crianças e adolescentes pouco afeitos a regras e limites.

Ainda neste sentido é necessário registrar que em muitos casos de agressões acontecidas nas escolas, os pais não são comunicados de tais ocorrências, ou seja, falta uma melhor integração entre a escola e as famílias dos alunos.

Não resta dúvida, que uma das mais complexas atribuições do ser humano é exatamente a de educar pessoas. Apesar disso, é público e notório o descaso com que são tratados os educadores no nosso país, seja pelos governantes, seja pela própria sociedade em geral. Em termos legais, a valorização profissional, incluindo aí a remuneração financeira, deve levar em conta a complexidade das atribuições, mas, em si tratando da área da educação tal princípio não é cumprido no Brasil. Basta compararmos a remuneração dos educadores com aquelas pagas a políticos, magistrados, jogadores de futebol etc. É comum inclusive, chamarmos o técnico de futebol de professor e o professor de tio, e isso, mesmo que inconscientemente, contribui para a desvalorização dos educadores escolares.

Uma pesquisa da agência BBC Brasil, publicada no ano de 2017, perguntou aos professores quais eram os principais desafios da profissão. Respostas mais citadas: a) Violência em sala de aula – 51% dos professores entrevistados disseram ter sido vítimas de algum tipo de violência na escola; b) Desvalorização da carreira, no aspecto financeiro e social – ou seja, além da baixa remuneração sofrem com a falta do reconhecimento público. O salário de um(a) professor(a) no Brasil é em média 52% das demais profissões assemelhadas. Para termos uma ideia do reflexo desta desvalorização profissional, apenas 51% dos estudantes do curso de pedagogia e licenciatura seguem a profissão; c) Formação inadequada – a formação atual dos professores não dialoga com a realidade da mão de obra existente no país. Ademais, grande parte dos educadores não é formada na área em que atua; d) Defasagem escolar e indisciplina dos alunos – é comum a presença de várias faixas etárias na mesma sala de aula. Pessoas de diferentes idades têm interesses e percepções também diferentes, e esse fato por si só já é um gerador de divergências, e, portanto o professor muitas vezes perde muito tempo intermediando e resolvendo tais conflitos.

Como vemos o problema é complexo. Professores e alunos se mostram aflitos e estão expostos e vulneráveis às violências, fora ou dentro das escolas. A missão dos educadores e educadoras é hercúlea, pois além da função da formação escolar e técnica desses jovens, muitas vezes ainda tem que guiar e tentar impor limites a uma juventude, que em grande parte se encontra a deriva.

Todos sabemos que esta empreitada educativa de educar com limites é uma função da família, mas, o mundo moderno movido pelo consumismo exagerado de bens e serviços impôs a pais e mães uma correria desenfreada, e uma consequente ausência destes dos lares e do eficaz cumprimento desta missão educativa. E com isto tal atribuição em grande parte tem sido transferida para os educadores escolares, já por demais atarefados e carentes de apoio em todos os níveis.

Se todas estas dificuldades não bastassem, estes educadores ainda precisam lidar com a violência crescente em seus ambientes de trabalho. Portanto, uma das opções para enfrentar este mal é certamente uma melhor integração da escola com outros segmentos sociais, além da família. Dentre esses, sugiro: igrejas, associações de bairros, grupos de autoajuda, guardas civis municipais, polícia, entidades culturais, conselhos tutelares, ministério público etc., tentando, desta forma, angariar apoio e dividir responsabilidades.

Também é importante que a escola inclua na grade curricular temas e discussões voltados para as chamadas habilidades socioemocionais: empatia, resiliência, liderança, de como lidar com os lutos, decepções etc. É necessário dar voz aos estudantes, discutir com eles suas expectativas de futuro, família, valores éticos e sociais, pois estas abordagens visando um bom amadurecimento desses jovens na administração das emoções poderão ajudar alunos e educadores a enfrentarem tais frustrações e desafios. Pois, tão importante quanto passar conhecimento técnico é ensinar a trabalhar as emoções, a autoestima, a autocrítica, além de outros valores.

A contribuição do educador, reconhecidamente é vital nessa formação, pois, como afirma o sábio Henry Adams, “Um professor afeta a eternidade, é impossível dizer até onde vai sua influência”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

Leia Também

MaisTV

Ministério Público cobra fiscalização e pede prisão para poluidores das praias

LANÇAMENTO DE ESGOTOS - 16/05/2024

Opinião

Paraíba

Brasil

Fama

mais lidas