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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Finalmente, um Emulsão

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publicado em 06/05/2023 às 07h00
atualizado em 06/05/2023 às 04h59

Tenho uma mandala, que ganhei de um coração granular. Tenho uma camisa antiga que comprei a Léo Medonça, tenho amigos felizes e infelizes, mas estou esperando a minha alma acordar para poder ter um mínimo de convívio com quem não tem amor.

Eu já tive um domingo ensolarado, hoje os domingos são dias de zoom umbilical, sequer doces barbaros, peixe espada, peixe luz.

Tenho um cinto preto que comprei numa liquidação, tenho outro da moda, D&G presente de uma amiga e tenciono usá-los até quando houver espaço para furar mais buracos, nem lavra, nem passa, mas a vida presta.

Tenho sapato para festas, creio que não usarei mais, senão, algum dia levarei para engraxar. Tenho duas havaianas e, às vezes, tagarelo na varanda.

Tal  & igual tenho 2 pares de óculos, um de sol, outro astigmatismo, um relógio de pulso e outra na parede da cozinha, sem badaladas.

Adoro uma gabardine, tenho um guarda-chuva, um rádio velho e um carregador de celular. Mas vejo urgente a necessidade de acumular sentimentalidades.

Se quiserem torturar-me, convidem-me a participar de multidões em demandas agregadas. Em menos de cinco minutos, estarei longe dali, simularei um ataque de hipoglicemia e sairei correndo atrás de Forrest  Gump.

Quando o calor baixar, a coisa andar e o galo cantar não estarei mais em frente ao coqueiro verde esperando a eternidade do Erasmo.

Noutra vibe, acabateiro acataremos teu ato, nós também somos do mata como o gato e o machado. Se tem algum concerto, me lembro logo de João Gilberto.

Levei o conga do menino para o sapateiro costurar, ele disse que sim, que tem cura, pegou a agulha e pôs-se a coser a península cheio de paciência a vagar. Talvez por isso meus olhos, nos olhos tristes da fita ainda rodam no gravador. Saudade de François.

 Mesa posta. Começamos a falar sobre comida, quero comer: eu como, eu como, eu como, eu como…

 Uma dona num zepelim acenou para mim, agarrada a um vidro de Emulsão Scott. Ela me contou do bife de caçarola, do biceps, da agonia e eu pensando no arrozinho, no feijão malandrinho, digo mulatinho apaladado com coentro, mas já gostei mais de um Fricassê de Knorr, com cenouras em rodelas.

Meu Deus, que bom o cheiro que vem da cozinha, o cheiro do sexo.

Momento nostalgia – eu não tenho um rancho fundo, mas no fundo, no fundo, lavo os pés.

Tá vendo, tem razão quem diz que não entende o que eu escrevo. Nem eu.

Kapetadas

1 – Nome sujo: Quem não deve, não tem.

2 – Lembrei da minha prima Lolita, que levou a carta do Serasa como comprovante de endereço pra abrir crédito. Tá foda.

3 – Som na caixa – “Ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni”, de Chico Buarque

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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