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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

O efeito da educação

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publicado em 21/03/2023 às 12h53

Esta semana aconteceu um fato interessante que me levou a refletir e tirar certas conclusões sobre o processo educativo em nosso País. Participei da primeira reunião de pais do ano no Colégio do meu neto e fiquei muito admirada com os assuntos disciplinares ali tratados. A coordenadora pedagógica do educandário conduzia a reunião e evidenciava como estava sendo difícil para o Corpo Docente manter o desenvolvimento do processo de aprendizagem devido às implicações disciplinares com relação ao comportamento dos alunos. Estes, estavam inviabilizando e atropelando o bom desempenho escolar. A balburdia na sala de aula era motivo de queixas dos professores e dos alunos estudiosos. No desenrolar da reunião, entre muitas coisas citadas, com relação à disciplina, duas foram preponderantes: a falta de respeito dos alunos para com os mestres e o uso do celular como o causador de todo o desvio do foco da aprendizagem pela falta de atenção, causando desconcentração.

Diante desse contexto, detectamos verdadeira desmotivação e desinteresse dos alunos pelos conteúdos didáticos trabalhados em sala de aula. Como resultado, o fraco desempenho e o baixo aproveitamento. A problemática à mostra pela coordenadora pedagógica transpareceu nitidamente a impotência do educandário e da equipe docente para resolvê-la. Faltavam-lhes procedimentos metodológicos didáticos que procurassem minorar a situação. A inquietude da equipe docente era transparente nos argumentos já que várias tentativas tinham sido feitas sem surtirem os efeitos desejados.

O ambiente da reunião ficou acalorado com os pais querendo atribuir ao colégio plena autoridade para tomar as medidas cabíveis que a equipe pedagógica achasse por bem adotar. Isto era compartilhado pelos pais que ora concordavam, ora não. Foi quando um pai levantou-se pedindo a palavra. Era cego, casado com deficiente física. Tomou a palavra e disse que queria prestar um depoimento que talvez pudesse dar uma resposta para tudo aquilo que estava sendo exposto ali nos argumentos e nas discussões. Contou a sua história de vida com muita eloquência, o que deixou a todos atônitos com seus relatos.

Nasceu no interior do Estado, de família humilde que vivia num assentamento agrícola. Apesar disso, seus pais fizeram todo o esforço para colocá-lo em um colégio militar da capital. Sua mãe era bastante rígida e nunca fez moleza para ele porque era deficiente visual. Diz ele: “quando sentia alguma dificuldade ela falava: faça você sozinho porque você não vai me ter para toda vida e tem que aprender a ser independente. Hoje, agradeço a ela por ter agido assim comigo. Formei-me em Direito, prestei concurso para o serviço público federal, onde exerço um bom cargo, posso arcar com meus compromissos e viver bem com minha família”. Ainda complementou que “não vê dificuldades para que o colégio adote medidas disciplinares para conter o acontecido”. Afinal, aquelas crianças e adolescentes estão em formação e o colégio deve, por obrigação, participar, continuar e complementar a educação que o discente trás do seu ambiente doméstico.

Por coincidência, tenho conhecimento de um casal deficiente visual que também, a exemplo do outro pai, é bem sucedido na vida pessoal e profissional, mas diferentemente do outro casal tem um único filho que não é deficiente como eles. O processo educativo que desenvolveram foi bastante permissivo e complacente e que não lhe apresentava nenhuma dificuldade que devia ser superada o que tornava tudo muito fácil e sem nenhum esforço para alcançar o desejado. O resultado é que hoje esses pais enfrentam problemas de toda ordem, o filho já esteve preso, vive no mundo das drogas e agora tenta tratamento interno num hospital.

Esses dois casos retratam comportamentos pedagógicos completamente diferentes que evidenciam os resultados do processo ensino aprendizagem adotado. Às vezes os pedagogos não gostam de trabalhar com objetivos definidos, criticando essa visão positivista da educação como se fosse retrógada, porém os métodos modernos que adotam, a livre iniciativa e o espontaneísmo, mostram-se ineficientes e pouco exitosos. Observa-se que desde os primórdios o processo ensino aprendizagem adotou disciplinas e regras a serem seguidas para se chegar a um fim determinado na formação do ser humano, isto visto por cientistas educadores, como também por povos primitivos que iniciavam seus filhos naquilo que acreditavam estar no caminho certo, ditados pela intuição e comprovado por experiência empírica vivida.

Diante da problemática exposta detecta-se que há uma falta de procedimentos metodológicos didáticos por parte do educandário. Essa inoperância e incompetência fica claro no desenvolver do processo de ensino aprendizagem que é fragilizado e leva os discentes ao sentimento de insegurança, embora com a sensação de que podem tudo. Constata-se assim a falência do processo pedagógico. Durante minha trajetória como educadora verifiquei que a educação tem que se desenvolver calcada em embasamentos teóricos e epistemológicos norteadores que apontem aonde se deverá chegar e a que tipo de homem se quer formar. Sem dúvida, há uma timidez em se dizer dos propósitos educacionais, como se viu no caso exposto. Queiram ou não o processo educacional implica em resultados. Se caminhamos nesse sentido o que esperar das próximas gerações?

Profª. Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP)

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