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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

Os atalhos da vida

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publicado em 29/11/2022 às 07h00
atualizado em 28/11/2022 às 16h38

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O empreendedorismo surge no século XVIII com a revolução industrial. Seu significado corresponde àquele que tem o espirito inovador, que enxerga algo novo que ninguém viu até o momento, dotado de processo criativo, transformando sonhos em realidade.

Tenho uma amiga que é gerente de uma gráfica, Marina, mulher de muita fibra, lutadora, casada, tem dois filhos, Mariane e Mateus. Mariane estudou em Universidade privada, onde concluiu o Curso de Graduação em Direito. Estudiosa, com o espírito de aprofundar os conhecimentos, obteve a informação de um professor visitante que havia um Curso de Pós-Graduação de Direito Internacional em Portugal, na cidade do Porto, e que seria muito proveitoso realizá-lo. Mariane não titubeou. Procurou expor para os pais o seu desejo, e, com a poupança que possuíam e a ajuda de um tio querido, tudo foi arreglado para satisfazê-la.

Ao chegar em Porto ficou dividindo o apartamento com dois colegas brasileiros. Dentro da Universidade ligou-se a um professor catedrático auxiliando-o nos trabalhos de pesquisa, o que lhe rendia algum dinheiro e permitia autossustentar-se. Daí surgiu nova oportunidade, visto que o regime de trabalho era por hora, e poder conciliar seus horários e obrigações acadêmicas com um serviço de balcão e garçonete num restaurante brasileiro, com compromisso das 18 horas às 21.  No dia-a-dia saiu-se muito bem pelo trato e lhaneza no atendimento que dispensava aos clientes. Em menos de seis meses já estava na gerência do atendimento durante o seu horário. Isto devido ao reconhecimento do proprietário sobre sua competência. Nessa Casa de Pasto conheceu Ligia, brasileira, irmã de Hugo, proprietário do restaurante, que se tornou sua amiga.  Hugo, ofereceu às duas a oportunidade de abrir uma franquia noutro lugar da cidade, cuja proposta logo foi aceita. Procuraram organizar-se com as questões financeiras.

Em dois meses Mariane e Ligia, com ajuda de Hugo, estavam com a Cantina em funcionamento. Juntas procuraram dar um toque brasileiro na decoração e no atendimento, usando muita criatividade. Prepararam o ambiente para situações inusitadas de comemorações: noivado, nascimento, descoberta do sexo, hábitos brasileiros que começaram a ser implantados. Com isso, o lugar adquiriu notoriedade e passou a ser famoso, até mais do que a própria matriz. Com as inovações feitas no estabelecimento ele ganhou fama e bom resultado financeiro. Aí veio a ideia de uma filial desta vez com a especialidade de comidas típicas árabes. Para tanto, Mariane frequentou diversos cursos de gourmet, mantendo-se atualizada e a incorporar os critérios europeus de dar emprego a estrangeiros jovens. Sempre com o espírito empreendedor de ajudar àqueles que, assim como ela, vinham tentar a vida naquele país. No início foi desafiante. Teve que pedir empréstimo ao governo português para financiar o carro, o que deixava sua mãe aqui no Brasil muito apreensiva. Mas Mariane acreditava que tudo iria dar certo como aconteceu.  Em maio deste ano presenteou sua mãe com uma viagem à Europa durante 30 dias.  Vai satisfazer o sonho da mãe que era conhecer Roma e o Papa e com ela passar o réveillon. Em Porto já se encontram sua irmã e primas que também estão trabalhando na gastronomia, com planos para que, no futuro, criem novas unidades no mesmo ramo de negócios.

Mariane conseguiu concluir sua pós-graduação, mas perdeu aquele ímpeto inicial de uma carreira jurídica, já que o foco de sua vida foi desviado para o empreendedorismo, o que a fez, com 26 anos, uma empresária arrojada, de muito sucesso, vitória alcançada fruto de muito esforço, coragem e determinação. Ressalte-se que o propósito de Mariane seria firmar-se na carreira universitária, então surge um outro caminho que a torna exitosa ao vencer sucessivos obstáculos e a seguir adiante.  Percorreu o atalho que a fez sair da estrada. Se não fosse sua coragem e denodo não teria chegado aonde está. Os atalhos da vida existem. Cabe a nós o discernimento para acertarmos ao caminhar pela nova trilha, com determinação e compromisso com o que se deseja construir. Nesse caso o desvio de rota foi proveitoso e acertado. Parabéns Mariane!

Profª. Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP)

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