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Minha primeira Copa do Mundo

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publicado em 14/11/2022 ás 07h00
atualizado em 13/11/2022 ás 17h54

Começará no próximo domingo uma Copa do Mundo totalmente inusitada, especialmente pela sede e a época, e não poderia deixar de tocar no assunto por aqui. Afinal, para um apaixonado por futebol como eu, a Copa sempre foi o ápice. Tudo bem que minha identificação com a seleção brasileira ficou num passado bem longínquo e quanto mais vão sendo convocados jogadores que atuam nos clubes do exterior, hoje muitos dos quais nunca havia ouvido falar, mais me distancio dela.

Porém, mesmo sem vestir há 36 anos a camisa amarela (sempre achei a azul mais bonita, mas nunca tive uma), ver o maior número de jogos possível sempre foi meu objetivo nas Copas. E parece que esta será a última que vou encarar desta forma, pois para a próxima, em 2026, com 48 seleções, acabarei sendo muito seletivo.

Tive a oportunidade de trabalhar em cinco Copas do Mundo como jornalista em diferentes redações, jamais in loco: 1990, 94, 98, 2002 e 2010. As que mais me marcaram, porém, foram as dos tempos de torcedor, quando vestia a camisa amarela como se fosse a rubro-negra do Flamengo e torcia para os craques do meu time e dos rivais, junto com amigos, colegas e, às vezes, desconhecidos que tinham no coração a mesma paixão que eu ou não. E dessas, a minha primeira merece ser relembrada. Por isso, reproduzo abaixo parte de um texto que publiquei em meu blog há dois anos.

A primeira Copa nenhum fã de futebol esquece. Parodiando o bordão de uma velha propaganda de sutiã, um clichê surrado, dou o início a esta peleja (que espero seja) amistosa para falar daquela que foi a Copa do Mundo a que assisti quase integralmente pela primeira vez, a de 1974. Quatro anos antes, quando a seleção brasileira apresentou um exuberante futebol e conquistou o tricampeonato mundial, tinha eu de 3 para 4 anos e pouco entendi do que se passava na TV com imagens em preto e branco que tínhamos em casa, embora tenha me metido a fazer comentários na sala para convidados dos meus pais em jogo que não faço a menor ideia de qual foi.

E foi mesmo inesquecível aquele Mundial realizado na Alemanha Ocidental, por diversos motivos, e – ressalte-se – não só para mim, claro. Eu começara a esboçar minha ligação íntima com o futebol em 1973, não só acompanhando meu time do coração, o Flamengo, como já a seleção. Lembro-me bem de ter assistido na casa de um amigo que faria aniversário no dia seguinte ao amistoso em que o Brasil venceu a anfitriã da Copa do ano seguinte, por 1 a 0, em 16 de junho de 1973, com um gol de Dirceu, então ponta-esquerda do Botafogo.

Mas o que me maravilhou mesmo naquela Copa foi um time de laranja, já que Seu Zagallo pôs o Brasil numa retranca tão ferrenha que quase tira a seleção na primeira fase. Não fosse Valdomiro, a quem tive o imenso prazer de entrevistar para o site e canal do YouTube Museu da Pelada há uma semana, em Criciúma (SC), e o goleirão frangueiro do Zaire…

Mas foi Cruyff, Kroll, Neeskens, Rensenbrink, Rep e cia que fizeram minha cabeça e ajudaram muito a moldar o meu gosto pelo futebol bem jogado, o futebol-arte, aquele que existe porque a vitória não basta. Foi a última revolução do futebol, veja só, há 48 anos, e ela é muito utilizada nos campos de hoje com a tal intensidade de jogo tão repetida pelos professores, masters ou simplesmente técnicos de futebol. Uma pena ter perdido a final, embora os alemães ocidentais tivessem também grandes craques, como Beckenbauer, Maier, Breitner, Overath e o artilheiro Gerd Müller.

Por falar neles, o primeiro jogo daquela Copa que assisti em casa, num bairro da zona norte do Rio de Janeiro, foi a vitória dos donos da casa sobre o Chile, por 1 a 0, num golaço do Breitner. A estreia do Brasil, no dia anterior, contra a Iugoslávia (assim como o segundo, contra a Escócia), vi no colégio ao lado dos meus colegas de turma e de todas as outras do turno vespertino.

Entretanto não foram só holandeses e alemães ocidentais que fizeram bonito naquele Mundial. Se a então tricampeã mundial decepcionou muito, apesar de grandes jogadores na equipe (Leão, Luís Pereira, Marinho Chagas, Carpegiani, Paulo César Caju, Jairzinho, Valdomiro, Dirceu, com o luxo de ter no banco Nelinho, Ademir da Guia e Leivinha, entre outros), o mesmo não se pode dizer da Polônia, por exemplo. Lato, autor do gol da vitória na disputa do terceiro lugar contra os brasileiros, Szarmach, Tomasevski, Deyna, Zmuda e outros apresentaram um grande futebol. Suecos e iugoslavos não foram tão mal para suas possibilidades, e os alemães orientais surpreenderam, vencendo os irmãos ocidentais, num jogo suspeitoso. Aquele Mundial teve um ótimo nível e foi um dos melhores que acompanhei.

A média de gols por jogo foi de 2,55, com o Brasil contribuindo muito para baixar a média, pois fez apenas seis (metade no Zaire) em 7 partidas (média de 0,86). O quarto lugar acabou sendo lucro. Quem fez pior entre as seleções mais tradicionais foram a Itália e o Uruguai, que ficaram na primeira fase. Apesar disso, foi uma Copa com muitos gols bonitos e duas goleadas escandalosas: Iugoslávia 9 x 0 Zaire e Polônia 7 x 0 Haiti.

A partir do próximo domingo, nova história será contada nos gramados do Catar, país cuja seleção nunca esteve antes numa Copa e tudo leva a crer vai ficar na primeira fase. Novamente vou tentar assistir a quantas partidas puder. E você?

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