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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O nome dela era Gal

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publicado em 09/11/2022 às 14h25
atualizado em 09/11/2022 às 19h22

Vi Gal Costa cantando muitas vezes. Muitas. Como lembrou o jornalista André Cananéia, vimos juntos com seu filho Gael, na areia de Tambaú, quando ela cantou “Recanto”, o disco que Caetano Veloso fez para ela. Eu tenho todos os discos de Gal. Acho que tenho. Lembrei outro dia da gravação de “Paula e Bebeto”, mas só lembrei

Gal era chata, mas era Gal, sua majestade. Não quero dizer aqui o óbvio, de que a cantora foi uma das maiores do Brasil. Quero falar pouco.

Quando surgiu o Tuite, ela abriu uma conta e nesse tempo ela morava em Salvador, ficou uma temporada lá cuidando dos primeiros anos de vida do filho Gabriel. Aí eu fiz um texto com o título: “Último desejo de Gal”. Nada a ver com a samba Noel. O que eu chamava de último desejo, era o filho Gabriel. Ela respondeu com um, “Muito bom. Gostei”.

Gal ainda alimentando um velho ritual de cantar pra gente brasileira e olhávamos para ela nos shows, quando Gal era linda, magrinha e uma voz linda, que não tinha mais, a voz de tantas canções.

Gal do passeio admirável da vida, agora ausente, saindo da gente, porque a morte, tem essas respostas.

Gal num suave testemunho de adeus, deste mundo tão cruel, perturbador, com as pessoas divididas, se matando, numa fragilidade total.

Gal e suas carreiras no palco, Gal fatal.

Gal um anjo, Gal flor do cerrado, o silêncio.

Às vezes há um destino, talvez não, quase intocado que retira as pessoas, os artistas, os escritores, poetas e o cidadão comum da nossa convivência.

Gal teco teco na bola de gude. Gal baby, Gal na piscina  de sua casa no Rio, que tinha uma boca dela desenhada no fundo. Gal barato total. Gal flor de maracujá.  Gal no avarandado. Gal folhetim. Gal canta Caymmi, Gal canta Jobim, Gal canta Ary Barroso, Gal canta Caetano, Gal canta Chico, Gal cantando com Gil em Londres.

“Nenhuma dor”, disse  Caetano Veloso por vídeo quando Gal fez sua primeira live, nos tempos sombrios da pandemia.

Acabou os Doces Bárbaros.

Gal era uma música. O nome dela era Gal.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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