João Pessoa, 04 de junho de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Uma xerife nordestina, eficiente e com a cabeça cheia de ideias é a nova gestora do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, a famosa Feira de São Cristóvão. Há dois meses no cargo, a conhecida empresária e produtora de televisão Marlene Mattos, de 60 anos, aceitou o convite do prefeito Eduardo Paes, que deu o nome à sua função de “xerife”. Contratada como funcionária da Riotur (Empresa de Turismo do Rio), Marlene conta que aceitou a proposta sem ao menos perguntar o salário. A motivação da empresária foi pelo desafio. Em sua administração, ela quer buscar parcerias, promover a revitalização, atrair clientes e fazer um tanto de outros projetos que listou numa carta de apresentação aos feirantes.
— Atribuo o convite à minha competência e também por ser nordestina. Quero dar soluções. Estou aqui para facilitar a atuação da Associação dos Feirantes. Não existe o pacificador? Eu sou a facilitadora — explica Marlene.
De calça jeans, sapatos azuis, camisa branca, pequenos brincos e sem maquiagem, ela diz que ainda está em fase de reconhecimento. Formada em marketing pela Universidade Estácio de Sá, Marlene, por causa da sua nova função, faz um curso de gestão pela internet.
— Foi a primeira vez que fiz um ofício. É meu primeiro emprego num órgão público — contou Marlene.
O trabalho na Riotur não é o único da empresária, que mora no Recreio dos Bandeirantes. Atualmente, ela também é diretora e produtora do programa “Companhia de Viagem”, do empresário Márcio Moraes. Marlene trabalha na revitalização de uma tradicional casa de shows da Lapa e faz assessoria de marketing para alguns shoppings. Com tantos afazeres, acorda cedo, por volta das 7h, e dorme tarde, às 3h. Todos os dias pela manhã, assiste filmes e séries de aventuras ou policiais. Apesar do gosto pelo trabalho, a empresária preza os dias de folga. Nesses momentos, joga buraco:
— Eu gosto é de café com leite. Buraco, adoro !
A empresária prefere deixar de lado detalhes sobre da sua vida pessoal. Ela também não gosta de se descrever. No entanto, faz apenas um relato: “Sou profissional”. Ao ser questionada se é uma pessoa brava, diz que está em uma fase mais tranquila: “Não aturo desaforo”. A empresária não gosta de puxa-sacos. E acha bom escutar as pessoas que têm boas histórias:
— Todos nós somos livros. Alguns mais finos outros grossos.
A própria história de Marlene, filha de uma costureira e um motorista de caminhão, é uma lição de vida. Nascida em São José de Ribamar, no Maranhão, a empresária lembra que chegou ao Rio com a roupa do corpo. No Nordeste, foi voluntária coletando sangue da população para fazer exames de febre amarela, trabalhou como professora e até já deu aula em troca de ovos. No Rio, começou a carreira na TV Globo como datilógrafa. Foi empresária da apresentadora Xuxa, trabalhou como diretora de outros programas de televisão na Bandeirantes e no SBT.
— Sou uma pessoa que gosta de aproveitar as oportunidades. No meu trabalho como gestora, quero realizar mudanças no dia a dia dos nordestinos, fazendo com que tenham na feira a continuidade de uma vida digna — justifica.
Uma das atividades que vai ocorrer na Feira de São Cristóvão já com a gestão de Marlene Mattos é uma exposição, no próximo dia 17, com a história do Padre Cícero. Uma outra mostra é sobre a cantora e compositora brasileira Amelinha, prevista para o dia 23 deste mês. No pavilhão, ela pretende ainda construir um alojamento para artistas nordestinos, que vão ao local para fazerem shows.
Para o futuro da carreira, a empresária tem planos de fazer um documentário sobre a lenda da serpente encantada do Maranhão. Um outro projeto é um programa para cantora Kelly Key em Angola. Quanto a saudades do tempo em que era empresária da Xuxa, ela não se alonga no assunto: “Foi uma época que passou”. Nesse momento, a repórter conta à empresária que, na sua infância, foi por cinco vezes ao programa da loira. Marlene se solta e responde:
— Então, você foi uma baixinha? Fico feliz em saber que muitas crianças que foram ao programa da Xuxa hoje são homens e mulheres profissionais. Isso mostra que ela foi uma babá eletrônica eficiente — diz Marlene, acrescentando que as pessoas sentem falta de coisas simples na TV .
Para Marlene, um programa de televisão tem que fazer parte da reconstrução de uma país e da alma das pessoas. Ela acredita que a TV continua a mesma há dez anos.
— Está tudo igual. Os programas ficam buscando audiência enquanto o conteúdo está lá atrás. Já os telejornais não perdem o público, porque sempre têm notícias novas. Deixam alguma mensagem — comenta.
Para Marlene, a Feira de São Cristóvão é um pedacinho do Nordeste no Rio. O espaço tem 34 mil metros quadrados e cerca de 700 barracas:
— A feira é o lugar que diminuiu a saudade de muitas pessoas da sua terra e da sua família.
O Globo
maistv - 12/08/2025