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MaisPB entrevista

Fernanda Porto canta jovens compositores no novo álbum Contemporâne@

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publicado em 17/09/2022 às 12h25
atualizado em 17/09/2022 às 14h26

Kubistchek Pinheiro MaisPB

Fotos: Millena Rosado e Ana Alexandrino

Fernanda Porto está de volta, aliás, ela nunca saiu de cena: está de volta ao piano, seu instrumento inaugural. Deixou as batidas e os clássicos da MPB, para voltar ao piano e interpretar canções de compositores da nova geração do pop brasileiro. O nome do disco é “Contemporâne@”, que sai pelo selo Joia Moderna, do DJ Zé Pedro, que assina a direção musical.

“Contemporâne@” é a fonte, é a uma experiência destacada, bem sucedida da artista ao se situar na sua produção contemporânea. São 11 músicas assinadas pelos jovens compositores Jão, (que se apresenta em João Pessoa, no Teatro Pedra do Reino, neste domingo)_ com “Olhos vermelhos”, já lançado, Paulo Vieira, César Lacerda, Bemti, Nina Oliveira, Mallu Magalhães, Chico Chico, Castello Branco, Mahmundi, Rubel, Guilherme Held, Arthur Nogueira, Bárbara Eugênia e Bruno Berle. Na voz e no piano de Fernanda, as canções assumem suas belezas reveladas.

O projeto do disco nasceu das conversas de Fernanda com o amigo Zé Pedro, dono da Joia Moderna, ao perceberem que compartilhavam o entusiasmo pela produção atual da música brasileira. E foi Zé quem lhe apresentou vários novos artistas.

Fernanda Porto foi uma das primeiras artistas a introduzir com desenvoltura a música eletrônica no gênero MPB. Começou em 2002 com álbum de estreia que leva o seu nome e tem o sucesso “Sambassim”, numa parceria com Alba Carvalho.

Fernanda Porto está na estrada desde antes, com oito discos lançados – “Fernanda Porto (Trama 2002), Giramundo ( Trama 2004 ), Cabra Cega – Trilha Sonora do filme – (Giramundo Records 2005), The Best Of ( Trama 2006), Fernanda Porto ao Vivo CD e DVD (EMI 2006 ), Autorretrato (Giramundo Records 2009), Corpo Elétrico e Alma Acústica (Giramundo Records 2020) e agora Contemporâne@ (Jóia Moderna Discos 2022).

Fernanda Porto, mais contemporânea impossível!

Em conversa com o MaisPB, a artista fala do novo trabalho, dos palcos, e quer voltar a se apresentar na Paraíba. “Adoro, sempre que vou fico uns dias a mais para aproveitar esse paraíso”.

MaisPB – Contemporâne@ não é disco que lhe resgata, é um disco em que você avança no tempo. Uma voz linda, com repertório tapa na cara. Estou certo?

Fernanda Porto – Que bom que você pensa assim, obrigada! Eu me afeiçoo com o presente onde realmente esse disco se faz coerente e prazeroso. O novo sempre me interessa, você sabe. Cantar e tocar artistas de agora, sem dúvida me trazem a plena sensação de interagir com o que hoje faz sentido para quem cria e quem ouve. Gratidão por isso.

MaisPB – Essse disco Contemporâne@ traz um impulso, você e o piano, sua voz intensa. Como se deu a escolha do repertório?

Fernanda Porto – Que bom, esse disco é muito orgânico para mim. Não que os outros não sejam, mas esse foi gravado praticamente ao vivo, muito diferente de álbuns e canções que acabo fazendo arranjos com vários instrumentos e Beats. Aqui o processo foi todo mais intuitivo, tanto nas escolhas das canções como na hora de gravar. Quando toco piano e canto, me sinto em uma “conversa” onde a música e a letra chegam de forma bem espontânea, praticamente um improviso. Na escolha do repertório fiquei muito tranquila pois dividir com o Zé Pedro foi muito natural. Ele sempre tem inclusive “pérolas guardadas” e muita sensibilidade. O melhor disso tudo é que eu estou a pelo menos 5 anos pesquisando novos artistas e criando minhas Playlists, então decidir foi bem natural.

MaisPB – Abre com “Olhos Vermelhos” de Jão, mostra o fogo, a volta e você está ali, para incendiar. Vamos falar dessa canção?

Fernanda Porto – Jão traz sempre em suas canções uma forma de ver relações amorosas com ousadia e frescor. Em “Olhos Vermelhos” não é nada diferente. Ele deixa tranquila a ideia de conviver com um amor que inicialmente ele julga poder prescindir mas ao mesmo tempo revela o quanto ele na verdade precisa e quer estar diante dele.

MaisPB – “Mãe de Sampa” encanta geral. A solidão da cidade, até lembra o cruzamento das avenidas São João com Ypiranga d a canção do Caetano, mas tem uma coisa nessa que estraçalha, gente estranha, tirar o sapato e se sentir em casa. Fala aí? “Mãe, você nem acredita. Tem muita gente estranha e esquisita em São Paulo, Eu gosto de andar com elas, De ser estranho também”

Fernanda Porto – Estar entre a multidão pra ser alguém” ah são vários sentimentos que essa canção traz que considero especiais. Nesse trecho que citei acima, nada mais delicado que “suportar a cidade para ser alguém”. O tal do “milagre paulistano” de crescer por aqui profissionalmente muitas vezes a qualquer custo. E aí vem o amor pra deixar essa “solidão dissolvida” no afeto. Quando ele diz “ Pois quando volto o meu coração fica”. Foi então “fisgado” por um amor que se mistura na cidade. E aí a intimidade de “tirar o sapato e se sentir em casa” se torna fundamental

MaisPB – “Fases da Lua” a quinta faixa, de Mallu Magalhães ficou bem definida em sua voz. Como é cantar os jovens?

Fernanda Porto – Essa foi o Zé Pedro que me apresentou, eu adoro a Mallu Magalhães, canto várias dela. Essa canção é mais intimista, eu adorei cantar. Acrescentei alguns encadeamentos harmônicos para trazer um pouco mais de “movimento” na canção. Cantar novos artistas é uma forma de afirmar para mim e para quem ouve, espero, que temos sim uma geração super importante acontecendo na música brasileira.

MaisPB – Boa sacada a quarta faixa “Livramento”, de Bemti e Nina Oliveira. Uma canção que parece uma crônica, aliás um acerto de contas. Poderia falar desse conteúdo?

Fernanda Porto – Gosto de “tratar” esse sentimento de uma relação que ao findar deixa a sensação e a dúvida do que fazer com ela?? Afinal se trata de um “Livramento”? A imagem do pijama em especial acaba revelando aquele momento crucial do que fazer com os “objetos” que sobraram da relação. Que destino dar para tudo isso?

MaisPB – A terceira faixa “Por que você mora assim tão longe” de César Lacerda, ajuda a gente a viver. Conte pra gente quando aconteceu cantar essa canção?

Fernanda Porto – Gosto muito dele. Conheci em suas parceiras com Romulo Froes no álbum que gravaram juntos, “O meu nome é qualquer um” . A canção “Por que você mora assim tão longe” fala também de um amor que talvez ainda nem exista. O longe então se torna algo “distante” mas não literal. Acho isso brilhante. A melodia e a harmonia também são muito próprias. Adoro artistas que têm uma identidade clara.

MaisPB – “Pomares”, (a sexta feixa) de Chico Chico, filho de Cássia Eller, é uma letra é forte, a personagem maior é a Fênix, que pode ser qualquer um de nós?

Fernanda Porto – “Pomares” é sem dúvida uma reflexão sobre a existência e seus andares pelo caminho da tão desejada maturidade. Sim, a Fênix está nos rondando a cada momento. Gosto da positividade que ele traz no final: “Surgirei feito a fênix/ Mais são, não só Mais seguro dos mergulhos Livre de respostas E com a força do aço/ Nas mãos sem medo de vilão/ Da dor vã/Serei sol sob a tez da manhã/Sem medo”

MaisPB – Ter “Fome de viver”, (lá do filme de Tony Scott, 1983, com com Catherine Deneuve e David Bowie) está na canção “Nós de Fronte” a sétiam faixa, de Castello Branco e Mahmundi, mostra a fúria de outra Fernanda, que nunca está no mesmo Porto. Fala aí?

Fernanda Porto – Ah, já não é? Adoro nessa canção falar de um amor que não suporta mais não se revelar. Talvez seja o momento mais temido e ao mesmo tempo tão desejado e lembrado nos encantamentos amorosos. Falar da transição entre um despertar do desejo e sua realização. Lindo não é ? Quem não quer que chegue esse momento? “Nos de Fronte, nada mais se esconde” ; “Antes eu tinha medo, agora eu sinto fome desse amor”

MaisPB – E por falar em cinema, a nova faixa de Arthur Nogueira, “A Vida Não é Bela”, nos revela, mas não nos acalma, né?

Fernanda Porto – O amor jamais acalma. O que é de fato acalentador é que “ .. e não é bela a vida, se eu não posso ver por dentro de você o céu do dia” . Uma vida sem amor é bela?? Jamais!

MaisPB – Pensei que você cantaria uma canção do paraibano Chico César. Vocês se conhecem?

Fernanda Porto – Sim, conheço o Chico, fizemos um show juntos, inclusive. Adoro as canções dele. Nesse disco escolhemos artistas realmente novos. Fizemos um recorte mesmo.

MaisPB – O Brasil vai melhorar?

Fernanda Porto – Sim. Depois de tudo que vivemos nesses últimos anos, ganhamos uma força e uma resistência que não tem volta. Está tudo muito claro, as perdas foram imensas. A mudança será profunda.

MaisPB – Vamos sair pelo Brasil cantando Contemporâne@?

Fernanda Porto – Claro que vamos! Eu adoro viajar pelo Brasil. Embora tenha uma carreira internacional, sempre priorizei o meu país. Faço questão disso!

MaisPB – Você já cantou na Paraíba?
Fernanda Porto – Sim…. Várias vezes! Adoro, sempre que vou fico uns dias a mais para aproveitar esse paraíso.

MaisPB – “Amelia Rosa” a faixa que fecha o disco, é uma canção linda de Bruno Berle…

Fernanda Porto – Conheci recentemente. Ele é um grande novo autor. Fica claro em suas canções suas influências da boa MPB. Ele renova, aponta para o futuro mas carrega com muita leveza a nossa tradição musical.

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