João Pessoa, 05 de setembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Divaguei devagar, olhei pro céu e vi você presa no engarrafamento em seu Tesla (foto) irritada com aqueles idiotas que não sabem pilotar e a falta de policiais espaciais para organizar aquela baderna. Interrompi a lágrima que escorreria em meu rosto, caso ainda me envolvesse. Contigo. Vi o amanhã, mas me lembrei mesmo de ontem, quando ainda éramos crianças e a acudi imediatamente, assim que você ralou o joelho no pátio e tentava prender o choro. Pra você, ao contrário do que pregavam os homens de ontem, de hoje e de sempre, menina que é menina nunca chora. Mas você chorou. E ficou tão mais linda. Como não me apaixonar? Como?
Mas o tempo passa, nós passamos. E atravessamos o século, viajamos de um planeta pro outro, os valores foram mudando, você se perdendo e eu – depois de muito me perder – me encontrando, ou tentando achar meu lugar neste novo mundo de formas e velocidades outras. Bem outras. Distorcidas. Você se integrou tão facilmente ao novo mundo, que desconfiei, entristeci, mas não fiquei pra ver no que iria dar. No que você iria dar. Pra quem iria dar. Não fugi, apenas fui me afastando vagarosamente, tão vagarosamente, que neste novo planeta tão veloz, você foi incapaz de perceber. E já estávamos distantes no tempo e no espaço quando olhei pro céu e a vi lá, em seu carro, voando em direção ao nada que uma nuvem de outros automóveis movia tão resolutos como se nenhum outro caminho, um atalho, nenhuma outra possibilidade existisse. Ainda. Nuvem negra, pesada, voa em sua direção.
Divaguei e desviei devagar o meu olhar. E fui me afastando tão vagarosamente que você sequer percebeu. Quando você se der conta, se é que algum dia, estarei longe, muito longe, no tempo e no espaço.
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BOLETIM DA REDAÇÃO - 15/07/2025