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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

Uma reflexão crítica sobre a Paraíba na atualidade

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publicado em 30/08/2022 às 12h49

O presente artigo tem como principal objetivo despertar uma reflexão crítica sobre a situação socioeconômica da Paraíba (PB) na atualidade. Em agosto de 2022, o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Banco Bradesco (DEPEC-BRADESCO) divulgou um relatório intitulado “Paraíba: Monitor Regional”, repleto de gráficos e infográficos dos principais indicadores e índices da PB, com foco no perfil econômico e populacional, no Produto Interno Bruto (PIB), na agropecuária, no comércio e serviços, no comércio externo e, por fim, no mercado de trabalho.

O estado da Paraíba está localizado na região Nordeste e possui uma área territorial de 56.467,2 km2, o equivalente a 0,66% da área total do Brasil e a 3,63% do Nordeste, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Comparando-se em âmbito internacional, a Paraíba quase corresponde à extensão territorial da Croácia, na Europa, exatamente nos Bálcãs, com 56.594 km2.

De acordo com o DEPEC-BRADESCO (2022), a população do estado da Paraíba era de 3,97 milhões de habitantes, sendo 51,8% do gênero feminino e 48,2% do gênero masculino. Com uma população estimada de 4.059.905 habitantes em 2021, a Paraíba é o décimo quinto estado mais populoso do Brasil e o quinto estado mais populoso do Nordeste, conforme os dados do Perfil Socioeconômico da Paraíba 2021, da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP). Ressalta-se que, na Paraíba, a esperança de vida ao nascer é de 78,1 anos para as mulheres e de 70,4 anos para os homens, e a expectativa de vida ao nascer da PB é de 74,3 anos em 2020, segundo o IBGE.

Entre os 1,3 milhão de domicílios em 2019, nos 223 municípios paraibanos, localizados nas quatro regiões geográficas intermediárias de João Pessoa (63 municípios), Campina Grande (72 municípios), Patos (63 municípios) e Sousa-Cajazeiras (25 municípios), 59,7% domicílios têm acesso à internet e 43,5% com carro. E o salário médio na PB é de R$ 1.677 por mês, conforme o DEPEC-BRADESCO. Porém, um déficit habitacional estimado para a Paraíba, em 2019, foi de 132.383 domicílios (sendo 44.819 de habitações precárias, 32.950 de coabitação e 54.614 de ônus excessivo com o aluguel urbano), conforme a Fundação João Pinheiro (FJP).

Entre as cinco classes sociais na PB, é possível constatar que a maioria da população paraibana é da Classe C, da classe média, são pessoas da classe econômica que recebem de 4 a 10 salários mínimos (SMs) por mês, 45% do total. Em segundo lugar, a Classe E (até 2 SMs mensais), com 33%. Em terceiro lugar, encontra-se a Classe D (de 2 a 4 SMs por mês), com 16%. Em quarto lugar, a Classe A (acima de 20 SMs mensais), com 4%. E em último e quinto lugar, a Classe B (de 10 a 20 SMs por mês), com 2% do total.

Em relação à escolaridade na Paraíba, segundo o DEPEC-BRADESCO (2022), são 53,9% da população sem instrução e fundamental incompleto. Na segunda colocação, 24,6% com ensino médio completo e superior incompleto. Em terceiro lugar, com 12,3% com ensino superior completo. E na última colocação, as pessoas com ensino fundamental completo e médio incompleto, com 9,2% do total.

É possível constatar que 80,0% da população paraibana residem nas cidades, sobretudo, nas cinco principais cidades da PB como João Pessoa, Campina Grande, Santa Rita, Patos e Bayeux, enquanto, 20% do povo paraibano moram nas cidades da zona rural como Alagoa Grande, Alagoa Nova, Bananeiras, Belém, Coxixola, Cabaceiras, Diamante, Ingá, Pilar, Pirpirituba, São José do Sabugi, Sapé e Santa Luzia.

No perfil econômico, a Paraíba encontra-se na 19ª posição entre as 27 Unidades Federativas (UFs) do Brasil, com um PIB nominal de R$ 64 bilhões em 2018, conforme o DEPEC-BRADESCO. E o PIB da PB alcançou R$ 67,9 bilhões em 2019, é o nono estado mais pobre do Brasil, o quarto estado mais pobre do Nordeste e participou de 0,9% do PIB brasileiro, conforme o IBGE. Ressalta-se que para o IBGE, o PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos em um determinado país, estado ou município, durante um determinado período de tempo (mensal, trimestral, semestral e anual).

No Perfil Socioeconômico da Paraíba 2021, da FIEP, é preciso destacar que o PIB a preços correntes da Paraíba passou de R$ 52,936 bilhões em 2014, para R$ 64,374 bilhões em 2018, ou seja, registrando um aumento absoluto de R$ 11,438 bilhões e um crescimento relativo de 21,61% entre 2014 e 2018.

Na composição setorial do PIB paraibano em 2018, em primeiro lugar e empatados encontram-se a Administração Pública e os Serviços, ambos com 35% do total. Em segunda colocação, o Comércio, com 14%. A Indústria da Transformação e a Indústria da Construção Civil estão em terceiro e quarto lugares, com 7% e 5%, respectivamente. Em última posição, o setor agropecuário com participação de 4% do PIB paraibano.

Já em relação ao PIB per capita, ou seja, PIB dividido pela população, a Paraíba encontrava-se na 25ª posição das 27 UFs do País e no 6º lugar dos 9 estados do Nordeste, com uma renda per capita de mais de R$ 16 mil em 2018, segundo o IBGE. Chama atenção a variação anual do PIB trimestral na PB entre 2011 e 2018. No primeiro trimestre de 2011 a taxa de crescimento econômico foi de 5,7% e já no primeiro trimestre de 2018 foi de 1,1%, conforme o DEPEC-BRADESCO. Do Litoral ao Sertão, a PB sofreu bastante os impactos da recessão econômica no biênio 2015-2016 no Brasil, com quedas de 3,4% no segundo trimestre de 2015 e de 4,5% no segundo trimestre de 2016.

Outro ponto a destacar são os dez principais produtos agropecuários da Paraíba, que são: cana-de-açúcar, bovinos, banana, feijão, ovos, leite, milho, mandioca, tomate e uva, segundo os dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). E a cana-de-açúcar lidera na PB com uma produção agrícola de R$ 1,026 bilhão.

A participação do setor agropecuário foi de 3,96% do PIB paraibano em 2018, mas, poderá crescer com respeito ao meio ambiente, com mais investimentos privados nos próximos quatro anos em caprinocultura, avicultura, abacaxi (o 2º maior produtor do Brasil, atrás apenas do Pará), macaxeira, inhame, melão, goiaba, graviola, algodão colorido, arroz vermelho, coco-da-baía, limão, laranja, amendoim, sisal, cebola e fava.

Em relação à balança comercial da PB observam-se os sucessivos déficits comerciais de julho de 2018 a julho de 2022, conforme o DEPEC-BRADESCO. Em outras palavras, a PB importa mais produtos do que exporta para o resto de mundo. Segundo a FIEP (2021), no panorama do comércio exterior da Paraíba, o déficit comercial foi de US$ 265,5 bilhões FOB no ano de 2017 crescendo significativamente para, o novo déficit comercial de US$ 379,3 bilhões FOB no ano de 2020. Na PB tem destaque nas exportações de calçados de borracha, açucares de cana e ilmenita, e, nas importações de malte não torrado, calçados para esportes e outros trigos. E o Porto de Cabedelo requer mais investimentos públicos e privados para obras de modernização portuária e de ampliação do canal de profundidade para aumentar as exportações para os Estados Unidos, Países Baixos, China, Bélgica, Gana, França, Canadá, Espanha, Itália e Angola.

Em relação ao mercado de trabalho na Paraíba, a taxa de desemprego era de 9,1% no primeiro trimestre de 2015 aumentou para 12,2% da população economicamente ativa (PEA) no segundo trimestre de 2022, ou seja, mais de 200 mil pessoas sem trabalhar e que procuram emprego nas 15 Regiões Geoadministrativas da PB, sendo as cinco mais importantes são de João Pessoa, Campina Grande, Guarabira, Patos e Itabaiana. Infelizmente, a PB tem a quinta maior taxa de desemprego do Brasil e a quarta maior taxa de desemprego do Nordeste na atualidade, de acordo com o IBGE.

Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em parceria com a FJP e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) da PB é de 0,722 em 2017, mantendo-se entre as 20 UFs na faixa de alto desenvolvimento humano. De 2016 a 2017, o IDHM da PB cresceu de 0,709 para 0,722, com o aumento dos índices nas dimensões Longevidade (IDHM-L de 0,809), Educação (IDHM-E de 0,671) e Renda (IDHM-R de 0,694). E a PB tem o 8º menor IDHM do Brasil e o 4º maior IDHM do Nordeste em 2017.

Segundo os dados do Ministério da Cidadania e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), na Paraíba, em fevereiro de 2022, eram 612.051 beneficiários do Programa Auxílio Brasil, enquanto, 431.929 empregados com carteira de trabalho assinada. Portanto, o Auxílio Brasil supera o contingente de trabalhadores com carteira de trabalho na PB (PODER360, 2022). Em julho de 2022, eram 619.656 beneficiários recebendo R$ 600,00 por mês, já a partir de agosto, sendo a maioria dos beneficiários contemplados pelo Auxílio Brasil são mulheres, e injetando positivamente na economia paraibana cerca de R$ 371,9 milhões mensais até 31 de dezembro de 2022.

Infelizmente, a taxa de mortalidade infantil na Paraíba é de 14,0 óbitos para cada mil nascidos vivos em 2019. Em plena Quarta Revolução Industrial, é um absurdo que a Paraíba conviva com 508 mil analfabetos, sendo a segunda maior taxa de analfabetismo do Brasil e do Nordeste, com 16,1% em 2019. Outro absurdo que as matrículas no ensino fundamental de 709.956 em 2008 diminuíram para 540.919 em 2021 (IBGE, 2022).

Precisamos crescer forte a economia da Paraíba, com menos tributos federais, estaduais e municipais. Precisamos de mais projetos de viabilidade econômica para aumentar as oportunidades de vagas no setor primário (exemplos, na pesca e na aquicultura), no setor secundário (exemplos, na indústria de alimentos, de bebidas, de calçados, da construção civil e de energias renováveis) e no setor terciário (exemplos, no comércio e no turismo) da economia paraibana. Precisamos também de mais obras de inclusão social (exemplos, a construção de casas populares e de restaurantes populares) nas 15 regiões geográficas imediatas (João Pessoa, Guarabira, Mamanguape-Rio Tinto, Itabaiana, Campina Grande, Cuité-Nova Floresta, Monteiro, Sumé, Patos, Itaporanga, Catolé do Rocha-São Bento, Pombal, Princesa Isabel, Sousa e Cajazeiras).

Finalmente, precisamos investir em Educação de qualidade (exemplos, a valorização dos professores e a construção de modernas bibliotecas e creches) para conquistar uma melhor distribuição de renda, pois o Índice de Gini do rendimento domiciliar por pessoa da PB chegou a 0,562 em 2021 e é o 3º estado do Brasil e o 2º estado do Nordeste com maior desigualdade de renda, conforme o IBGE (G1, 2022).

Conclui-se que a Paraíba com base nos principais indicadores e índices têm uma situação socioeconômica por demais preocupante. No contexto de mudanças climáticas, nós, os paraibanos e as paraibanas, temos que juntos defender os investimentos ininterruptos e maciços em Educação de qualidade, assim, poderemos promover o desenvolvimento sustentável para as atuais e futuras gerações na secular Paraíba.

Referências

DEPEC-BRADESCO. Paraíba: Monitor Regional. Agosto de 2022. Disponível em: https://www.economiaemdia.com.br/BradescoEconomiaEmDia/static_files/pdf/pt/mapa/Informa%C3%A7%C3%B5es%20Regionais%20Para%C3%ADba.pdf. Acesso em: 27 ago. 2022.

FIEP. Perfil Socioeconômico da Paraíba 2021. Campina Grande: FIEP, 2021.

FJP. Déficit Habitacional no Brasil 2016-2019. Disponível em: http://fjp.mg.gov.br/wp-content/uploads/2021/04/21.05_Relatorio-Deficit-Habitacional-no-Brasil-2016-2019-v2.0.pdf. Acesso em: 29 ago. 2022.

G1. RN é o segundo estado do país com maior desigualdade de renda, diz IBGE. Disponível em: https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2022/06/10/rn-e-o-segundo-estado-do-pais-com-maior-desigualdade-de-renda-diz-ibge.ghtml. Acesso em: 29 ago. 2022.

IBGE. Paraíba. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pb.html. Acesso em: 27 ago. 2022.

IPEA; FJP; PNUD. Radar IDHM: evolução do IDHM e de seus índices no período de 2012 a 2017. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9150/1/Radar%20IDHM_evolu%C3%A7%C3%A3o%20do%20IDHM%20e%20de%20seus%20%C3%ADndices%20componentes%20no%20per%C3%ADodo.pdf. Acesso em: 28 ago. 2022.

PODER360. 12 Estados têm mais pessoas com Auxílio Brasil do que emprego. Disponível em: https://www.poder360.com.br/economia/12-estados-tem-mais-pessoas-com-auxilio-brasil-do-que-emprego/. Acesso em: 29 ago. 2022.

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