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Uma canção composta à beira do abismo

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publicado em 08/08/2022 às 07h00
atualizado em 04/08/2022 às 15h56

Em 2016, após uma dolorosa ruptura profissional e pessoal, fui ao limiar de uma depressão, fato agravado por ter ficado sem qualquer trabalho remunerado. Cheguei a ficar 20 dias sem pôr os pés no elevador do prédio em que morava no Rio de Janeiro (só ia ao corredor do andar em que morava para jogar o lixo fora). E o que me salvou do precipício foi criar, voar sobre aquele abismo profundo. Todo aquele material não me deu até hoje praticamente qualquer lucro financeiro até hoje, mas me manteve vivo e não apenas existente.

Além do texto que acabei transformando seis anos depois na série “Uma coisa jogada com música”, que venho publicando em capítulos desde fevereiro em meu blog (eduardolamas.blogspot.com), comecei a criar melodias para algumas das minhas poesias, mesmo sem tocar um instrumento musical sequer, e a gravá-las no celular. No total fiz umas 20 em pouco mais de três meses, algumas dispensáveis, mas pelo menos umas cinco ou seis bem bacanas ao meu ver (e ouvir, embora não seja cantor). Em uma fiz o processo inverso, criei a melodia primeiro e depois compus a letra.

Animado com aquele processo de criação, resolvi pedir a alguns amigos compositores que me mandassem músicas sem letra que tivessem. Recebi num espaço relativamente curto de tempo umas cinco ou seis músicas. Três ou quatro vieram de um mesmo violonista que me deixou sem resposta porque já sei qual foi: não gostou. Abalou um pouco mais a situação em que me encontrava, mas como não teve o não direto, foi ficando pelo tempo, neste caso até ajudou. Em outro, a letra foi considerada gigantesca por um cantor e violonista. Embora não tenha descartado, ele a deixou na gaveta. Ou melhor, no gravador.

Uma delas, porém, ficou especialmente bela (peço desculpas pela falta de modéstia, mas não foi opinião só minha, mas do compositor e dos poucos que a ouviram). No entanto, apesar de ter sido a única destas a ser apresentada em vozes e violão em reuniões entre colegas e amigos, até hoje também não saiu do lugar.

Prefiro não mencionar nomes para não haver constrangimentos, mas neste último caso é um grande amigo, pai de um jovem cantor, compositor e grande guitarrista do Rio de Janeiro. Como a música continua aguardando, quem sabe, seu momento de florescer, enquanto flores continuam desmaiando no jardim, resolvi apresentar abaixo os versos que compus para aquela música que decidi chamar de “Canção do fim do dia”. Vai abaixo para a sua apreciação ou crítica, porém, espero sinceramente que este relato acima sirva de alerta ou apoio para alguém que esteja à beira de um vão que pode não ter volta.

CANÇÃO DO FIM DO DIA

Olho pra esta tarde que se vai

Flores desmaiando no jardim

Sob o sal dos meus olhos felizes

Sombras que bailam pro rio,

brisa varrendo as folhas,

meus olhos pedem mais cores,

as luzes do dia,

mas não despreza a noite.

Sei o que esperar

Sei o que há de vir

à flor desta alma

assim eu vou seguir

Sobem as sombras pro céu,

nuvens brancas suspensas

na tarde

e o vento estaca no portão

o tempo não existe mais

Quando abro os meus olhos

sinto-me só, multidão

muitos, transversos,

quero a paz, solidão

Sei, é pra esperar

Sei que é devir

flor de minha alma

ela eu vou seguir

Olho pra esta noite que aqui cai

folhas secas dormem no jardim

e meus olhos dispersos nas nuvens

sonham sem dia seguinte

Sombras encobrem folhas,

flores, o rio e matas,

montanha e estrelas

que só despertam de dia.

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