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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Claudette Soares é foda

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publicado em 12/07/2022 às 08h19
atualizado em 12/07/2022 às 05h52

Quando ouvi Claudette Soares cantando “A Bossa Nova é Foda”, de Caetano Veloso, lembrei de uma crônica de Rubem Braga “A mulher que ia navegar”, uma cena luminosa, de uma mulher que estava sentada junto à janela e havia luar e mar. Claudette Soares é foda.

Cantar o percurso, a construção dessa canção, uma letra inteligente, como sempre, mas difícil de interpretar, onde estão muitos signos, que ainda estamos a mirar, é a prova que Claudette Soares representa o novo.

Num álbum antigo, na época de puro amadurecimento profissional,  Claudette Soares gravou o raríssimo LP “É Dona Da Bossa Nova”, em 1964, mas a bossa nova de agora, vem do disco “Abraçaço” de 2012, de Caetano Veloso. Em sua voz, se esticam coisas de diferentes épocas, a anunciação da bossa que se transforma, onde nunca acabou.

Ela disse em sua página no Facebook que, de 54 depois de um disco histórico em que gravou Caetano, Gil e Chico Buarque, agora volta a interpretar os compositores. “Neste EP, interpreto músicas que os 3 fizeram já no início dos anos 2000, com uma sonoridade contemporânea”.

Coube a Ayrton Montarroyos assinar a produção musical do disco e Claudette está com Arquétipo Rafa (bateria e spds), Arthur Dossa (baixo), Felipe S (guitarra), Vitor Araújo (teclados) e Yuri Queiroga (samplers e synths)

Claudette canta também neste EP “Máquina de Ritmo”, de Gilberto Gil e “As Caravanas”  de Chico Buarque.

Isso dela dizer sonoridade contemporânea, nos transporta para outra bossa, outra onda. “O tom de tudo, comanda as ondas, do mar, ondas sonoras”

A canção, cenários e descobertas, um fazer a cabeça, misturada às raízes do movimento, ela dentro do mapa, da composição, os desenhos que estão na canção de Caetano, é  a sagacidade de uma condição contemporânea de grandes espaços.

O canto suave e afoito (a voz dela no final da canção é sensacional) lembra a voz da cantora Céu, angulares que Caetano traz sobre o prazer de tantas sejam necessárias canções de um movimento como a Bossa Nova, sempre nova.

Muito mais, muito mais – “E tanto faz se o bardo judeu, romântico de Minnesota, porqueiro Eumeu, o reconhece de volta a Ítaca, a nossa vida nunca mais será igual”.

Caetano escreveu para Claudette: “A grande Claudette Soares, rainha do sambalanço, gravou A bossa nova é foda. Ela já era uma estrela quando comecei minha vida profissional. Amo que ela tenha chegado a essa música”.

É foda pelo risco que corre inevitavelmente naquilo que se deixa fascinar dando conta que ela pode alcançar o viajante da canção, em seu movimento, ao cantar que “o velho transformou o mito, das raças tristes, em Minotauros, Júnior Cigano, em José Aldo, Lyoto Machida, Vítor Belfort, Anderson Silva e a coisa toda” . Caetano é foda.

Kapetadas

1 – Tati Quebra Barraco e Luva de Pedreiro. Seria um casamento perfeito. Os dois são foda.

2 – Quem diz “somos todos filhos de Deus” não explica tantos defeitos congênitos. Tá foda, viu?

3 – Som na caixa: “Que isto é bossa nova, que isto é muito natural”, Jobim e Newton Mendonça

 Escute aqui  – A Bossa Nova É Foda

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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