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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A casa de Sitônio Pinto

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publicado em 25/06/2022 às 08h58
atualizado em 25/06/2022 às 08h06

Em 1990, o jornalista e escritor Sitônio Pinto escreveu sobre uma casa, que ia vagar numa ladeira que descia para as sombras. O texto “Vagas Referências” do livro “Deliciosos” é tão bonito, que certamente ele agora está nessa casa, numa ladeira sem nome.

A presença e agora ausência de Sitônio Pinto nos remete para a construção dessa casa, algo que envolve a teoria literária à fenomenologia da alegria e da dor, da vida e da morte.

Tomar a casa, que tinha como vizinho um marinheiro, um marinheiro só, já era uma forma de dizer que ele não era daqui, mas daquele casario e  não se sabe onde, nem quando, Sitônio Pinto tomou assento.

Essa casa não era a de Coriolano de Medeiros, onde ele tinha uma cadeira, agora vazia, mas que não tinha muita importância em sua vida, creio. Aliás, não sei como Sitônio chegou ali.

Tomando como ponto de partida uma observação (questionável) de que raramente lemos acerca da dor da ausência física na literatura, Sitônio Pinto era veloz, feroz, sabia que para entrar na casa, precisava tirar os sapatos, mas acho que ele não fez isso. Se fez, ninguém viu.

Sitônio de uma ficção mais real impossível e me parece não teve estômago para representar essa dor extrema, quando surgiram as tremedeiras da vida.

Sitônio se identificava e nos situava com a repetida solidão do homem de Princesa, na ação da voz de Deus e o diabo na terra do Coronel Zé Pereira, o promotor da Guerra de Princesa, de quem ele era sobrinho neto

Um dos atributos de Sitônio Pinto seria a ausência da sua presença. Isso já se sentia há anos.

Mesmo quando se presentificava, por exemplo, uma pedra em chamas ou a sombra da sua casa vazia, o essencial nele, o atributo de encarnar-se em pessoa que se multiplicava, tinha outros sinais. Era um homem  inteligente e valente.

Ser humano implica em possuir um corpo que nos mata lentamente, desde quando somos bebês nas cólicas intermináveis ao gozo de ser homem, no qual se imprime vozes superiores, mas não somos.

 Ficaram seus poemas em “Caminhos de Toboso”, ou a prosa de “Dom Sertão e Dona Seca”, de temas  mais que veículo, uma barruada, um caminhão sem freio descendo a ladeira da Serra de São Luzia, aquelas curvas sinuosas com milhares de seres buscando em salvação, aos pés da santa.

A dor e as desorientações. Sitônio possibilita uma conclusão alinhada com a releitura de seus textos que faço agora, entre o laço que ata  e  desata.

 A morte não é assustadora, é um momento instantâneo da vida. Súbita e fugaz. Sitônio sabia disso.

Kapetadas

1 – “Que orgasmo, que nada, eu quero é like” – disse um influencer.

2 – Não existe assunto chato. O que existe é chato cheio de assunto.

3 – Som na caixa: “Vai boiadeiro, que a noite já vem”, de Klécius Caldas / Armando Cavalcante


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