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Poeta, escritor e professor da UFPB. Membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

O mestre Ascendino Leite

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publicado em 08/06/2022 às 07h00
atualizado em 07/06/2022 às 14h08

Mestre do jornal literário era Ascendino Leite. Ensaísta, crítico, romancista e poeta, depois dos 80, com vasta e variada temática lírica, é no jornal, contudo, que expressa melhor sua visão de mundo e sela, em definitivo, um estilo de sabor clássico, sóbrio e elegante, a dignificar as raízes do idioma.

Há uma poesia contida na nomenclatura de seus títulos. Passado indefinido, O vigia da tarde, O velho do Leblon, O jogo das ilusões, Surpresas na partida, Os dias esquecidos, Um ano no outono, O lucro de Deus, Visões do Cabo Branco e tantos outros de uma coleção tocada pelo imperceptível halo da mais genuína sabedoria.

Assinei o prefácio de Sol a sol nordestino e nele destaquei a paixão de ver e sentir que mobiliza o encanto surpreendente de muitas páginas. Falei do leitor especial na apresentação de O princípio das penas, e, de As coisas feitas, extraí o meu título, As coisas incompletas, num gesto de emulação essencialmente admirativa. As luzes sobre as coisas: Ascendino leite em foco nomeia o livrinho que lhe dediquei, reunindo uma série de ensaios que escrevi ao longo do tempo, tendo como objeto de investigação sua obra e sua personalidade literárias.

Leio e releio, em especial, A velha chama, cujo título me diz muito da própria experiência de conviver com os livros e as artes, convicto de que a luz que ilumina as regiões secretas de seu texto jamais se apagará na memória do leitor fiel e insaciável. Com Ascendino Leite e seus dispersos ensinamentos também me fiz aprendi das letras.

O jornal literário não chega a ser diário propriamente dito, nem memória, nem autobiografia, nem confissão ou qualquer outro gênero a que venho chamando de heterodoxo. Não obstante, abriga-os e mescla-os no tecido poroso de sua organização sintática e semântica.

Fragmentado, flexível, sinuoso, poliédrico, aberto e plural, o jornal literário comporta a presença solta de outros gêneros na possibilidade de uma escrita caleidoscópica, inclusiva, expansiva e globalizante.

Ora, um trecho se impõe como pequeno ensaio ou assume a leveza instantânea de uma crônica; ora, é a crítica, a exegese, o julgamento, descortinando preferências e escolha estéticas; aqui e ali, algo epistolar, um detalhe íntimo, uma insatisfação a que não falta, sobretudo em certas páginas, o gume da acidez e a verrina e da derrisão.

Lembranças, testemunhos, perfis, reflexões, aforismos, propostas, projetos, sonhos, poemas, narrativas inacabadas, tudo pode ajustar-se à maleabilidade corpórea e simbólica do jornal literário. Principalmente se experimentarmos a leitura do jornal literário do mestre Ascendino leite.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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