João Pessoa, 26 de janeiro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Cidade, cada um tem a sua. No imaginário, na memória, na geografia, no poema, na vida, principalmente na vida, que é a polis de todos nós.
Tenho viajado pouco pelo espaço linear desses Brasis afora. Tive, no entanto, tantas cidades no tempo, que é o meu mapa mágico e a secreta alquimia que não consigo domar.
Há, em mim, primeiro, uma cidade toda feita de poeira e cinza, comarca das pedras que me persegue o destino agudo de sofrer e lembrar, sobretudo quando viajo pelas estradas dos versos e das imagens. Cidade seca, áspera, desértica, indomável, porém de uma beleza cortante, em sua plenitude brutal, solitária e única.
Há uma outra, contudo, plural e enorme, com seus arranha-céus gelados, cinzentos e suplicantes. Cidade que me parece a síntese dramática do mundo, ou, noutra clave, minha Londres das neblinas finas que São Paulo abençoou pelo lirismo largo de Mário de Andrade, escorrendo pelas águas negras e nervosas do rio Tietê.
E há também, e principalmente, a neblinada Serra da Borborema, com seus costados de segredos e silêncios, olhando os vales perdidos do agreste, dos cariris e do sertão, suas paisagens sagradas, seus longes inalcançáveis e aquele frio de dentro corroendo as fibras da alma.
E ainda há tantas e tantas outras, pequenas e grandes, úmidas e quentes, dóceis e arredias, dadas e inacessíveis, concretas e lendárias, visíveis e invisíveis, das quais nem posso falar, porque falar é também uma forma de perdê-las.
Mas há, sobretudo uma, com seus mercados públicos e seus odores dionisíacos, com suas pontes poéticas e desoladas, que o poeta Lêdo Ivo imortalizou nestes versos geniais: “Amar mulheres, várias. Amar cidades, só uma – Recife.”.
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