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Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

Para nunca mais parar

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publicado em 28/12/2021 às 07h11

Coração é órgão que tem pressa. Bate de 80 a 120 vezes por minuto, se não estiver sob emoção. É sempre, não há intervalos. Desconhecido e delirantemente indomado. Não é musculatura estriada nem lisa. Não é qualquer coisa que possa ser parada. Salvo, se lhes roubar imberbe, também a alma. É puro. Indomável e selvagem.

O coração não se adapta a um Sistema. Nem ao que ventila, nem ao circulatório. Diferencia-se de vasos, veias, artérias e vênulas. Tem outra filosofia, digo, outra fisiologia. É uma bomba. Possui quatro câmaras, átrios e ventrículos. Nas dobras, esconde histórias e guarda momentos.

Camadas constroem suas paredes, analogamente, e como se fora as túnicas intimas, médias e adventícias dos vasos. Sem vasos ser. Ali aloja gente estranha, forasteiros, seus mementos e adventos. Tem fibras estriadas, como um músculo qualquer, mas músculo, como vocês sabem, também não é. Músculo estriado cansa, numa dança, no tempo de um CrossFit, ou de uma academia.

O coração pula. Bate. Se arrebenta. Não para. Desconhece tudo que se passa, que seja cerveja na taça, champanhe ou cinzano, que nem os corretores modernos conhecem, e riscam embaixo. Enganos. Apenas enganos.

Trago o “Coração Selvagem” do genial Antônio Carlos Gomes Belchior, o mestre inatingível das canções filosofais, das letras longas e de novo. (Acho isso, independente do magnetismo, ou de algum ranço que se tenha criado em volta do compositor depois de sua partida).  O que mais é, todavia, seu coração, é bomba que explode no peito, camicase. suicida e vingador.  Jorra sague solidário a todos os lugares que esperam respirar. E, como diz ele, é selvagem!

Não tem lugar, o coração. O seu lugar é onde você quer que ele seja, principalmente, depois de se apaixonar. Marcando o tempo no infinito. O tempo da música no rádio. Da turma do outro bairro entender quem se ama. Mas, cuidado, meu coração é frágil, diz Antônio Carlos.

O coração segue o ritmo de se ariscar. De se perder. De não viver na volta de algum caminho, por não saber quando as certezas virão. O coração é o contrário a tudo que você pensa. E quando você deixar de pensar, ele irá parar no meio da música do carro. No gole de cerveja. Ora, veja, tão simples quanto o povo.

E isso é lá hora? Foi quando se apaixonou? Talvez. E no fundo da canção, homenageio o homem dos gestos longos. Das grandes emoções. Embora revolto, meu coração é manso, como um leão num ninho, como bico predador de passarinho, como luz piscando no caminho:  perigo! Para nunca mais parar.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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