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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A última imagem da mãe

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publicado em 26/12/2021 às 09h02

Neste domingo, 26 abro espaço da coluna para esse texto tão significativo, tão amoroso, tão singular do meu amigo cearense, Alexandre Leite que mora na Florida, EUA, com a família. Um cara que tem vasta cultura, conhece os poetas, trovadores e escritores do mundo e ama a Musica Popular Brasileira. Valeu Alex!

Essa é uma das últimas fotos que tirei de minha mãe. Eu estava em Fortaleza, acordei de madrugada e fui beber alguma coisa na cozinha. Decidi passar no quarto dela para beijá-la antes de voltar a dormir.

Ao abrir a porta devagarinho, na penumbra do quarto, a silhueta dela se distinguia perfeitamente. Para minha surpresa, lá estava ela, sentada na rede com o seu véu na cabeça, a orar e velar por nós que dormíamos tranquilamente sem dar por isso.

Havia uma forte harmonia dentro daquele quarto. Quis permanecer ali com ela junto à porta porém senti-me repreendido e me lembrei da recomendação de Deus para Moisés: “não te acerques, tira as sandálias do pés porque o lugar em que tu estás é terra Santa.”

Quisera ter-te sempre ao meu lado, mãe. Queria ter um átimo da tua fé que por muito pouco não alcançou o tal grão de mostarda. Mesmo não estando aqui, eu te celebro. Te celebro nas virtudes que tu ensinaste a minha esposa a quem tu tanto acolheu e amou. Te celebro nas minhas filhas. São frutos engendrados do amor que herdamos de ti.

Sou imensamente grato a Deus por ter tido novamente o privilégio de escutar de ti em Dezembro a maneira como tudo começou. Desde o primeiro olhar, a primeira dança, o primeiro filho até a minha chegada.

O velho Juá era um romântico irrecuperável e tu fostes dura na queda. Rio e choro ao lembrar de ti. Até hoje as palavras que ouvi da minha filha caçula quando falei sobre a tua enfermidade me cortam o peito: “pai, se a vovó morrer, pra quem eu vou pedir a benção?” Dessa forma comecei também a te celebrar. Pedi que minhas filhas ao acordarem e ao deitarem pedissem a benção a mim e à minha esposa.

Confesso que dói-me pois não penso que elas sintam o que eu sentia quando tu me abençoavas. Que falta você me faz!

P.S.: Eternamente, te amo!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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