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Médico. Psicoterapeuta. Doutor em Psiquiatria e Diretor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba. Contato: [email protected]

Tum tá, Tum tá, Tum tá

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publicado em 09/11/2021 às 06h57

A pandemia precipitou muitas coisas. Delivery foi o modo mais rápido para almoçar ou jantar “fora de casa”. Evitar aglomerações em serviços de saúde, com medo da contaminação, insinuou a telemedicina; autorizada, no Brasil, enquanto durar a validade da Lei nº 13.989/20, sancionada, em caráter emergencial, pela presidência da república.

No seu aspecto mais amplo, telemedicina abrange toda a prática médica realizada à distância, independente do instrumento utilizado para essa relação. A prática tem origem em Israel e é bastante aplicada nos Estados Unidos, Canadá e países da Europa.

Em alguns casos, era usada, no Sistema Único de Saúde e na rede privada, para atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, monitoramento e diagnóstico. Foram necessárias, porém, novas regulamentações, com consultas médicas e acompanhamento médico à distância e prescrição digital.

Um tema sedutor. A primeira imagem que nos vem é de lugares distantes onde não há médicos, levando atendimento através da telemedicina. Fiquei seduzido, a princípio, por esse pensamento. Imediatamente, lembrei que não temos essa estrutura.

Mais preocupante, quando se imagina que seguros e planos de saúde, já vem se utilizando para “ofertar” especialistas no modelo à distância. Ou seja, ele te vende como tendo todas as especialidades e, quando você precisa, se surpreende com um especialista à distância e um médico inexperiente fazendo a consulta presencial com você.

Para mim, e para o consenso geral que se forma, nada substitui a presença de um médico, durante a primeira consulta e exame geral do paciente. Nenhum meio substitui a Relação Médico-Paciente, a vivência de uma consulta real nada substitui a intercomunicação entre os dois personagens dessa relação. Nunca se poderá transmitir sentimentos de confiança por imagens remotas.

A telemedicina deverá vir como forma de facilitar o acesso a pacientes; todavia, sem lhes negar o atendimento de um profissional presente. Ela será importante para transferir conhecimentos entre centros médicos, ou evitar deslocamento e viagens de pessoas de cidades distantes, apenas para ter uma receita de uma medicação em uso contínuo. São coisas assim, que poderão contribuir para melhorar o sistema de saúde coletivo e o SUS.

Doente, quero um médico. Quero-o presente para perguntar, tirar dúvidas, e mesmo perturbá-lo, se me sentir ansioso ou desamparado. Quero senti-lo, analisá-lo, assim como ele estará me analisando. Durante seu exame. A “tele” tem que ser para melhorar, nunca para substituir o que, às vezes, mesmo presencial, falha na hora de afinar os compassos dos corações de médico e paciente, encaixar seus sentimentos no fluxo que se estabelece.

Olha, que nem parei para imaginar, uma máquina inteligente, manipulada por um técnico, que sugeriria um diagnóstico e me prescreveria um remédio programado. Meu coração bate, e precisa da batida de outros corações para se manter em seu ritmo normal, com primeira e segunda bulhas: Tum tá, Tum tá, Tum tá…

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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