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MAISPB ENTREVISTA

Raimundo Lira abre coração, fala de drama pessoal e vê semelhança entre João e Romero

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publicado em 10/10/2021 às 12h13
atualizado em 11/10/2021 às 07h10

Afastado da vida pública desde que decidiu não disputar reeleição, o ex-senador Raimundo Lira tem acompanhado as articulações políticas a nível nacional e estadual. Em entrevista ao Portal MaisPB ele fala sobre a saudade da esposa, projetos para a política e planos para retornar à Paraíba. Em reclusão total por conta da pandemia, Lira levou o trabalho para perto de casa e o usa como distração.

Lira lembrou que seu partido, o PSD, tem Romero Rodrigues como pré-candidato ao Governo do Estado na eleição de 2022. No entanto, ele revelou ter uma “profunda simpatia” pelo governador João Azevêdo, o considerando um perfil moderado.

“Romero é um cara  que sempre foi moderado. O governador também. Então ele hoje é uma pessoa que está fazendo um governo independente do qual ele foi eleito e tem um comportamento moderado. Então eu acho que isso é possível”, disse sobre uma possível aliança entre João e Romero.

Leia a entrevista

MaisPB- A Câmara dos Deputados aprovou uma PEC que aumenta repasses aos municípios de todo o Brasil. Essa de sua autoria já havia sido aprovada pelo Senado, mas andou lentamente na Câmara. Finalmente agora é lei. Como isso surgiu, qual o sentimento dessa aprovação anos após a propositura?

Lira – Eu apresentei essa PEC no começo do ano de 2017 após receber a visita de prefeitos do Brasil todo.  Naquele momento, Ricardo Pereira, prefeito de Princesa Isabel, me deu essa sugestão dessa PEC explicando que o mês de setembro é o mês onde a arrecadação fica mais baixa para os municípios. Apresentei a PEC, trabalhei durante o ano todo no Senado Federal e conseguimos na última votação daquele ano aprovar essa proposta por unanimidade nas duas votações.  Então, essa lei aumenta em 1% a participação dos municípios que atualmente é 22,5% do imposto de renda e do IPI. Então, essa arrecadação passa a ser de 23,5% definitivamente sem nenhum tipo de contestação. Para mim foi uma alegria muito grande vê-la aprovada. Enquanto Rodrigo Maia estava na Presidência da Câmara, eu não tinha nenhuma fé de que isso ocorresse porque ele estava sendo conduzido por pessoas que acreditavam que não deveria aprovar. Mas com a saída de Maia, eu fique esperançoso que o líder iria colocar essa votação é o que aconteceu.  Teve 456 votos a favor e apenas três contra. Acredito que os três votos contra são de deputados que não sabiam o que era o assunto.

MaisPB – Traduzindo em número, o que isso representa para os cofres municipais?

Lira – Isso corresponde a uma 13ª cota para os municípios do Brasil. Se tivesse sido aprovada em 2018 como estava prevista, esse ano, já em 2021 só os municípios da Paraíba estariam recebendo entre 206 a 210 milhões de reais. Como não foi aprovada no tempo certo, em 2022, o Estado receberá R$ 44 milhões, mas R$ 48 milhões em setembro de 2023, mas R$ 100 milhões em 2024 e aproximadamente R$ 2010 milhões a partir de 2025, que representa 1% e a partir daí essa alíquota fica definitivamente incorporada na receita de toda a Paraíba e do Brasil.

MaisPB – Dois anos depois de tomar a decisão de não concorrer à reeleição em pleno mandato hoje qual o sentimento? Era isso mesmo, a essa historia poderia ter sido diferente?

Eu tomei a decisão que naquele momento e que hoje também parecia certo. Naquele momento eu sentia claramente que minha esposa não queria que eu continuasse na política e eu o fiz. Eu tinha na época o apoio de 180 prefeitos da Paraíba e tinha todas as chances de me reeleger. Mas não concorri, me aproximei de todos os meus afazeres e assistência a minha esposa. Para você ter uma ideia, eu que tirava férias de 70 dias estava tirando de cinco dias enquanto estava no Senado Federal. Para minha mulher foi uma coisa muito boa, uma notícia muito boa a minha não reeleição em 2018.

MaisPB – Tempo depois a sua esposa faleceu. Essa sua decisão implicou em que natureza em sua convivência familiar em renunciar o tempo investido na vida política. Como é que foi essa experiência. Parecia que o senhor estava em uma premonição de estar mais perto da família, foi mas ou menos isso?

Lira – Minha esposa tinha uma válvula mecânica que tinha sido colocada nos Estados Unidos há 29 anos e eu perguntei ao médico quanto tempo a gente demoraria para voltar aos Estados Unidos para ver essa válvula e ele disse que fosse lá depois de 30 anos. Veio à pandemia em 2020 e minha esposa não pode fazer os exames preventivos e foi a única vez que a válvula estava pifando e a gente não sabia. Levei ela para São Paulo, trocamos a válvula, a operação foi muito bem sucedida, mas em seguida ela pegou uma infecção hospitalar e terminou morrendo por conta disso, não da cirurgia.

MaisPB – Que momento está vivendo Raimundo Lira? É um momento de reclusão, reflexão, descanso? Como poderia definir?

Lira – Primeiro eu não posso ir à Paraíba por conta da  pandemia. Eu queira ir depois das duas vacinas, mas como tem a terceira dose eu estou aguardando. Já marquei para ir a João Pessoa. A família tem um apartamento na Praia de Campina e eu pretendo ir passar o mês de janeiro em João Pessoa, Campina Grande e eventualmente outra cidade que eu queira visitar. Agora o momento, para mim, é extremamente difícil. Foram 50 anos de um casamento que eu considero perfeito, minha esposa era uma pessoa extremamente sensível, humilde, maravilhosa e todas as pessoas que a conheciam gostavam. Foi a maior dor que eu já recebi em toda a minha vida.

MaisPB – Gasta a sua vida de forma reclusa?

Lira – Eu estou em casa e trouxe parte do escritório para vizinho à casa. Eu tenho saído pouquíssimo e estou em reclusão total. Agora, internamente eu tenho trabalhado porque recebi recomendação médica de que eu deveria trabalhar para poder me distrair um pouco da grande mágoa, da grande tragédia, do grande sofrimento que recebi com o falecimento da minha querida esposa, Gitana.

MaisPB – Nesse momento a sós tem dedicado algum  tempo de sua agenda para acompanhar as questões da vida pública brasileira, muito agitada, muito turbulenta, muita guerra política e polarização. Qual tem sido o seu olhar para esse momento de certa gravidade na vida nacional?

Lira – Eu acho que a situação do Brasil hoje, desse radicalismo é único. Aconteceu também nos Estados Unidos. É uma coisa mais ou menos da época. Então, na política hoje as  pessoas ficam pleiteando as suas funções e os seus cargos como se aquilo fosse uma questão de vida ou morte. Não querem dedicar uma parte do seu tempo para servir as pessoas. Querem o cargo, a função, o governo. Então termina criando esse radicalismo como está acontecendo no Brasil. Acho que é uma coisa ruim para o país. Eu sempre fui uma pessoa moderada, conciliadora e eu recebo em minha casa vez por outra a visita do ministro Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, partido ao qual eu faço parte. Eu tenho acompanhado a eleição na Paraíba onde o partido elegeu o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, e tenho acompanhado através do Portal MaisPB e outros sites da Paraíba os acontecimentos políticos do Estado. Acredito que as eleições de 2022  vão ser bem disputadas.

MaisPB – Raimundo Lira tem uma tendência, um prognóstico ou está aguardando?

Lira – Eu estou aguardando. Vou passar o mês de janeiro em João Pessoa, Campina Grande e outras cidades e vou tomar a decisão se serei candidato a alguma coisa ou não. Se tem espaço ou não. Enfim, é uma decisão que não tomei ainda.

MaisPB – Nem tem decisão em quem também votará para governador?

Lira – Eu sou do PSD e temos um candidato a governador que é Romero Rodrigues, ex-prefeito de Campina Grande, e quero saber se realmente com a consolidação da candidatura dele e tudo mais. Tenho uma profunda simpatia por João Azevêdo, é um governador moderado e que agrada as pessoas, e espero o que vai acontecer em 2022 para poder me posicionar em relação ao assunto.

MaisPB – Aqui na Paraíba comenta-se muito a possibilidade de, a partir desse diagnóstico dos perfis de tanto Romero Rodrigues quanto João Azevêdo, da possibilidade de diálogo e até quem sabe de uma chapa envolvendo os dois. O senhor como partidário do PSD vê possibilidade desses dois partidos estarem juntos em um projeto político?

Lira – O PSD é um partido moderado e que tem em cada estado as particularidades próprias. Essa questão de se relacionar ou não com o governo é uma questão de que eu tenho isso por normal. Política é o diálogo, conversa, entendimento. Então, tudo pode acontecer nas eleições de 2022.

MaisPB- Então o senhor acha que são perfis que combinam?

 Lira – Acredito que sim. Romero é um cara  que sempre foi moderado. O governador também. Então ele hoje é uma pessoa que está fazendo um governo independente do qual ele foi eleito e tem um comportamento moderado. Então eu acho que isso é possível. Não digo que vai ser, ou que não vai ser porque na realidade essa vai ser uma decisão mais de Romero e do prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima. Eu na condição de membro da executiva nacional ligando todos ao ministro Kassab, a gente tende a aprovar qualquer decisão de Romero na Paraíba. Se ele vai ser candidato a governador ou se vai compor com o governador João Azevêdo.

MaisPB – O senhor se entende como moderado e ao mesmo tempo se constata que estamos vivendo em uma intensa polarização e muito radicalismo. O senhor tem expectativa que existam espaços e que apareça um nome com esse perfil de moderação frente a essa radical  polarização. Ou essa é uma doença que para o momento não tem remédio?

Lira – Para tudo tem remédio. Eu acho que a situação é difícil, é única. É um modismo mundial esse radicalismo e é muito difícil se prever se eventualmente possa surgir um nome, uma terceira via porque dificilmente em uma eleição majoritária seja estadual ou federal surge uma terceira via. Quando surge também não cresce. Mas, como esse tipo de política que está acontecendo no Brasil é episódio único possa ser que surja um nome novo no cenário nacional e que possa agradar o eleitoral brasileiro.

MaisPB – Entre Lula e Bolsonaro o senhor se inclina para qual posição?

Lira – Eu não gostaria de dizer agora. Eu já tenho uma posição em relação a isso, mas acho muito cedo. Eu tenho que definir a minha vida política em janeiro para depois tomar essa decisão.

MaisPB – Qual a sua avaliação do governo do presidente Jair Bolsonaro?

Lira – Eu acho que o governo Bolsonaro em si está acima da média nacional de todos os governos que aconteceram. É difícil fazer uma avaliação precisa, mas eu diria que o governo dele está tendo eficiência. Agora, infelizmente, o presidente próprio é quem cria as crises. A imprensa nacional está sempre contra ele e acompanhando o que ele está dizendo. Quando ele diz uma coisa que está fora do contexto as pessoas aumenta essa crise porque faz parte do momento de conflito da imprensa e da vida política nacional. A imprensa também está acompanhando esse sistema, esse sistema de radicalismo.

MaisPB – O senhor acha que isso também é muito ruim?

Lira – É muito ruim. Eu ouvi um jornalista falar, ele não pode estar dando opinião pessoal dele. Ele tem que transmitir a verdade. Quando ver uma notícia tem que partir do princípio de que aquela notícia seja verdadeira. Mas esse tipo de imprensa não é majoritária no país.

MaisPB – Na sua vida pública, qual foi a sua maior decepção e qual foi a maior  alegria no exercício dos mandatos que já exerceu?

Lira – A minha maior decepção nesse mandato que eu exercia agora foi exatamente o atraso na aprovação da PEC porque eu sei que houve um trabalho no sentido dela não ser votada. Então foi a maior decepção. A maior satisfação é ver essa PEC aprovada. Você tem mais de 100 PECs aprovadas no país desde 1988. Quantos mil parlamentares já passaram pelo Senado e pela Câmara e ter essa PEC aprovada é um privilégio muito grande. Isso fico para a história. A PEC me causou a maior decepção por não ter sido aprovada em 2018 pela Câmara e, ao mesmo tempo, por ser aprovada, me causou a maior alegria.

MaisPB – O senhor como paraibano, se sente bem representado pelos seus sucessores no Senado. Daniella Ribeiro (PP), Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e Nilda Gondim (MDB).

Lira – Eu não gostaria de falar a respeito disso pois eu não sei se vou voltar à política, se vou pleitear um cargo, e naturalmente alguma dessas pessoas poderão estar ao meu lado. Então, eu não gostaria de fazer essa avaliação como eleitor. No momento, eu não sou um eleitor comum, eu sou eleitor que possa vir a ser candidato. Então eu não posso expor a minha opinião de eleitor.

MaisPB – O senhor esperava mais deles?

Lira – Eu não quero comentar a respeito disso. Apenas quero dizer que tenho ido pouco à Paraíba em função da pandemia e atualmente em função do falecimento da minha querida esposa Gitana.

MaisPB

 

 

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