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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Sonhei com as mutações de Liv Ullmann

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publicado em 05/06/2021 às 08h37
atualizado em 05/06/2021 às 08h33

Era meia noite e meia. Podia ser uma hora da tarde. Passei pelo computador, olhei para “O beijo que não vem da boca”, de Ignácio de Loyola Brandão. Faz tanto tempo, né? Sento e escrevo esse texto. Algo vagueia meu pensamento. As surpresas nunca se acabam. Saudade de um sol na cara.

Na cozinha, abri a geladeira, mas não fiz o assalto. Na sala, olhei os quadros e pensei em vendê-los. Ne me quitte pas, ne me quitte pas.

Não sou sonâmbulo. Pensei em ligar para a escritora Ana Adelaide e falar sobre o texto dela, que trata da mala e da morte. Não sei se ela dorme tarde… E Adelaide poderia esticar a conversa até o outro dia e eu ficaria bêbado numa sonífera ilusão, olhando para o boi voador do Recife, cria de Maurício de Nassau. Esqueçam. Adorei seu texto, moça!

Voltei para o sonho. Estava numa estrada, indo para a praia do Diogo no Ceará, um lugar tão bonito, que nem Iracema, a virgem de Alencar, chega perto. Estava indo encontrar amigos queridos, Colaço Filho, Patrícia e os meninos.

Era madrugada. Lembrei de terminar a série “The Kominsky Method” com o ator Michael Douglas, sim aquele de “Atração Fatal”, que faz o papel de um advogado, que tem um rápido caso com Alex Forrest (Glenn Close), uma executiva desequilibrada emocionalmente e perigosa. Esqueçam, é um clássico.

E a série? Depois eu termino. O quarto estava escuro, não achei o controle. Tão só estava, perto do sonho, tão só estou aqui ao lado do que queria, as Mutações de Liv Ullmann (foto).

Num dia atrás do outro, sonhava acordado com alguma coisa surreal, mas não sou capaz de lembrar dos meus sonhos. Ainda bem.

Faltou energia. Minha mãe dizia – “faltou luz”. Estava certa. Percebi porque o relógio piscava sem parar. Não preciso de luz para escrever. Posso gravar o texto.

Escrevo aqui pertinho do mar do Cabo Branco, a sentir o cheiro característico da praia do Diogo, o milagre dos peixes.

Lá longe, e só para ficar escrito, espero o vício, o toque no cio das palavras. Canto “Conceição” para Conceição, uma namorada antiga.

Saudade da “lanterna dos afogados” de Herbert Lemos de Sousa Vianna.

Andar de mãos dadas na beira da praia como se nada estivesse acontecendo. Sabes onde estou? Sabes onde estamos? Liga para Carpinejar, ele tem o Procon do Amor.

Nem sou teu, nem ateu.

No rádio do carro escuto uma música em que na letra surge a pergunta: “where do we go?”. Ao que o cantor responde: “who knows, but each day gets better”. E é por aí. Para que querer saber para onde vamos, se todo dia a gente esquece que alma é o anagrama de lama.

A luta deve ser para que cada 24 horas que se seguem sejam melhores que as 24 horas piores que se foram.

Sou imperfeito. É curioso como as primeiras impressões são por vezes as mais fiéis. E surge desde logo uma empatia. Acordado, sei que existem esses tipos de sonhos. Como assim, você nunca assistiu Blade Runner?

Sonho meu, sonho meu, vai buscar quem mora longe.

Kapetadas

1 – Nunca pense que a soma de duas solidões é, necessariamente, uma companhia.

2 – O mundo começou a dar errado depois que pessoas ruins e desagradáveis começaram a ser chamadas de “pessoas com personalidade forte”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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