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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

Os 32 anos sem John Hicks

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publicado em 20/05/2021 às 10h44

Estamos enfrentando dias tão conturbados na economia brasileira, com o aumento da taxa de desemprego (14,4% da PEA), o crescimento da taxa de inflação (IPCA acumulado em 12 meses de 6,76%), a elevação da taxa Selic (3,50% ao ano), a alta inadimplência (67,5% das famílias brasileiras), além da elevada carga tributária (31,64% do PIB em 2020) e da alta dívida pública bruta (90% do PIB). Diante do cenário socioeconômico tão turbulento no oitavo país mais desigual do mundo, com tantas pessoas doentes, é fundamental ler os livros de grandes economistas brasileiros e estrangeiros. Em pleno isolamento social, hoje, recomendo ler a obra-prima do economista inglês John Hicks (1904-1989).

Em 20 de maio de 1989, aos 85 anos, o economista britânico John Richard Hicks faleceu em sua casa, em Blockley, uma pequena vila no Condado de Gloucestershire, a oeste de Londres, na Inglaterra. Ele morreu há exatos 32 anos, a cerca de seis meses antes da Queda do Muro de Berlim.

John Hicks foi o primeiro economista inglês laureado com o Prêmio Nobel de Economia de 1972, juntamente com o economista americano Kenneth Arrow, “Por suas contribuições pioneiras à teoria do equilíbrio econômico e à teoria do bem-estar” (MACHADO, 2019, p. 350). Hicks argumentou que as economias de mercado não se autocorrigem rapidamente porque os preços e salários demoram para se ajustar e doou o valor do Prêmio Nobel para a Biblioteca da London School of Economics (LSE) em 1973.

John Hicks foi por muitos anos professor de Economia em quatro universidades inglesas. Primeiro, professor de Economia na LSE entre 1926 e 1935. Depois foi professor de Economia na Universidade de Cambridge entre 1935 e 1938. Posteriormente, foi professor de Economia Política na Universidade de Manchester, de 1938 até 1946. Em seguida, na Universidade de Oxford, entre 1946 e 1965.

De acordo com o Prof. Paulo Sandroni (2014, p. 390), “(…) em sua obra mais importante, Value and Capital (Valor e Capital), 1939, em que procura realizar uma exposição definitiva da teoria do valor subjetivo e da teoria marginalista do equilíbrio geral”. A obra-prima de John Hicks foi intitulada Valor e Capital e publicada em 1939, o ano do início da Segunda Guerra Mundial. A obra seminal de John Hicks tem Prefácio, Introdução e 24 capítulos em quatro partes.

A Primeira Parte foi intitulada “A Teoria do Valor Subjetivo”, contendo três capítulos. No Capítulo II, sobre a Lei da Demanda do Consumidor, de acordo com John Hicks (1984, p. 36), “(…) a economia não está, afinal, muito interessada no comportamento de indivíduos isolados. Ela se preocupa com o comportamento de grupos”. No Brasil temos cinco classes econômicas, as classes A, B, C, D e E. O comportamento das classes econômicas é fundamental para compreender o rumo da economia brasileira. Com a pandemia da COVID-19 a classe C, classe média, encolheu para 51% da população brasileira em 2020, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Segunda Parte foi denominada “O Equilíbrio Geral”, compreendendo cinco capítulos. No Capítulo V, sobre O Funcionamento do Sistema de Equilíbrio Geral, conforme o economista John Hicks (1984, p. 59), “(…) uma alta de preço torna a oferta maior que a demanda, uma queda de preço torna a demanda maior que a oferta”. Hicks foi o economista pioneiro na racionalização da teoria do equilíbrio geral, que explica a determinação de preços de bens e serviços e a alocação de recursos econômicos escassos.

A Terceira Parte foi intitulada “Os Fundamentos da Economia Dinâmica”, contendo seis capítulos. No Capítulo X, sobre Equilíbrio e Desequilíbrio, segundo o economista Hicks (1984, p. 111), “(…) Os planejamentos que as pessoas adotam dependem dos preços correntes e de suas expectativas quanto aos preços futuros; mas os próprios preços correntes são determinados por ofertas e demandas correntes, que fazem parte dos planejamentos”. A taxa de inflação no Brasil está subindo muito rápido, os enormes gastos públicos eram crescer mais com a possibilidade do surgimento da terceira onda da COVID-19 e a vacinação em massa do sexto país mais populoso do mundo está muito lenta, logo, o desequilíbrio socioeconômico se agrava cada vez mais nos dias atuais.

A Quarta Parte foi denominada “O Funcionamento do Sistema Dinâmico”, compreendendo dez capítulos. No Capítulo XIX, sobre A Demanda de Dinheiro, de acordo com Hicks (1984, p. 185), “(…) A empresa tem que escolher o planejamento de produção mais lucrativo; o indivíduo tem que escolher o plano de despesas preferencial; a transição da estática para a dinâmica é exatamente análoga nos dois casos”. Muitas famílias e empresas brasileiras enfrentam sérias dificuldades financeiras com 92 tributos vigentes no País. Uma economia mais dinâmica requer menos impostos, taxas e contribuições. Um aumento da produção de bens e serviços requer planejamento. Um crescimento no consumo das famílias requer menos tributos, os “brasileiros já pagaram R$ 1 trilhão em impostos este ano”, de 1 de janeiro até 19 de maio (G1 ECONOMIA).

É preciso destacar a insegurança sobre o futuro por Hicks. O modelo de curto prazo de Hicks é de uma semana, ou seja, sete dias. Em seu modelo ele explicou a economia estática versus a economia dinâmica e atuou na vertente neoclássica do Equilíbrio Geral do economista francês Léon Walras, fazendo melhoras significativas com suas análises econômicas, onde os agentes econômicos atuam e se interagem na economia capitalista.

O seu primeiro livro de Economia foi The Theory of Wages (A Teoria dos Salários), de 1932. O salário mínimo no Brasil é de R$ 1.100,00, mas o salário mínimo necessário deveria ser de R$ 5.330,69 em abril de 2021, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), em outras palavras, mais de 4,846 vezes o salário mínimo nominal nas cinco regiões do País.

Em sua magnus opus, Hicks demonstrou que a maior parte das ideias dos economistas sobre a teoria do valor pode ser alcançada sem necessidade de recorrermos ao pressuposto de que a utilidade é mensurável. Esta obra-prima de Hicks foi também um dos primeiros trabalhos sobre o equilíbrio geral, isto é, a teoria sobre o modo como os mercados interagem mutuamente e alcançam o equilíbrio econômico simultâneo.

A teoria do equilíbrio geral era antes essencialmente de análise estática. Em Valor e Capital, publicada em Londres, Hicks abandonou essa tradição e deu à teoria uma relevância econômica maior e apresentou um modelo de equilíbrio econômico completo com mercados agregados para commodities, fatores de produção, crédito e dinheiro. A construção deste modelo incluiu uma série de inovações, ou seja, a formulação de condições para a estabilidade da economia de mercado numa análise dinâmica.

Como suas valiosas ferramentas, a matemática e a economia, Hicks reformulou radicalmente a teoria do equilíbrio tradicional ancorada no comportamento dos consumidores e dos empresários. O modelo de Hicks ofereceu possibilidades muito melhores de estudar as consequências das mudanças em variáveis do que o modelo estático. Seu modelo tornou-se de grande importância econômica, além do elo de ligação entre a teoria do equilíbrio geral e as teorias atuais dos ciclos econômicos para as economias avançadas e as economias emergentes. E Hicks apresentou uma teoria do capital baseada em premissas de maximização de lucro.

O economista John Richard Hicks nasceu em 8 de abril de 1904, em Warwick, na Inglaterra, casou com a economista Úrsula Webb e publicou 14 livros de economia, entre eles, destacamos o livro Capital and Growth (Capital e Crescimento), de 1965. O Brasil precisa crescer o PIB robustamente, aumentar o PIB per capita, gerar mais empregos, tem um enorme PIB potencial, além de melhorar o Índice de Gini e avançar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nos próximos dez anos. Chega de décadas perdidas!

Enfim, John Hicks foi um dos grandes economistas do século XX e destacado integrante da Segunda Síntese Neoclássica. Hicks deixou um grande legado na Ciência Econômica, destacando o conhecido mundialmente, o Modelo IS-LM, em parceria com o economista americano Alvin Hansen em 1979, no qual o mercado de bens e serviços gera a curva IS e o mercado monetário gera a curva LM. Hicks foi um economista que leu muito as obras-primas dos economistas clássicos, releu na íntegra as obras seminais de Marshall e Walras, e sobretudo, ao ler de novo a Teoria Geral de Keynes, de 1936, ele escreveu artigos e livros de economia que contribuíram com novos pensamentos econômicos para melhorar o bem-estar social da população de uma nação.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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