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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

O caso da barata de Tel Aviv

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publicado em 08/04/2021 às 06h59
atualizado em 08/04/2021 às 04h13

Muita gente acha que a barata é um aracnídeo, mas os entendidos asseguram que é um inseto porque tem três pares de patas. Nunca tive curiosidade em contá-las. Independentemente do grupo do qual faça parte, a barata sempre foi a causadora de asco, medo e até pavor de muita gente, principalmente das mulheres – nem todas, obviamente. Tem mulher que munida de um portentoso chinelo enfrenta qualquer bicho asqueroso, inclusive homem machista.
Sobre barata tem uma história muito interessante que aconteceu na cidade de Tel Aviv, em Israel, e que nos foi contada por um dos maiores cronistas vivos do Brasil e biógrafo de primeira grandeza: Ruy Castro (foto). O caso foi tão inusitado que virou manchete de jornal naquele país e Ruy o registrou numa fabulosa crônica intitulada “A barata invencível” que compõe o seu livro Amestrando Orgasmos – Bípedes, quadrúpedes e outras fixações animais (Editora Objetiva, 2004). Portanto, vamos ao que interessa.
Diz Ruy que a israelense tricotava tranquilamente na sala de sua casa quando, de inopino, apareceu a barata e foi prontamente perseguida pela madame que, de chinelo em punho acertava-lhe umas boas chineladas, deixando o bichinho kafkaneano aparentemente nocauteado. A barata tem essa malícia de se fingir de morta evitando ser esmagada por uma pisada impiedosa. Com uma pá e uma vassoura apanhou a bicharoca e a jogou no vaso sanitário. Foi então que a mulher percebeu que o inseto ainda estava vivo e se debatia para subir pela parede escorregadia do bojo. Acionou a descarga sucessivas vezes e a barata não descia pelo esgoto. Sem perder a paciência, a mulher foi buscar a bomba de flite e borrifou veneno dentro do vaso, fechando a tampa logo em seguida. Decidiu não mais ir tricotar e foi dormir o sono dos justos, na certeza de que agora a barata morreria intoxicada.
Enquanto a mulher dormia em seu quarto, o marido retorna do trabalho e vai direto ao banheiro ler o Jerusalém Post. Não sei se vocês sabem, mas muita gente gosta de ler no banheiro, inclusive este escriba da releitura ruycastreana. Pois bem, enquanto lia o marido acendeu um cigarro e fumou até o fim, jogando a piola ainda acesa dentro do vaso sanitário sem mesmo dele se levantar.
O que se ouviu em seguida foi uma explosão que arremessou o homem para fora do banheiro, provocando-lhe queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus. O barulho acordou a esposa que, acostumada a explosões em Tel Aviv, não deu muita importância até perceber que o estrago tinha sido dentro de sua casa. Imediatamente chamou os socorristas e começou a narrar a história.
Enquanto contava detalhadamente o ocorrido, os homens conduziam o acidentado em uma maca descendo pelas escadarias do prédio. Quando a mulher chegou na parte em que deduziu que seu marido havia jogado a piola de cigarro dentro do vaso sanitário, os socorristas começaram a rir e com as gargalhadas sacudiram a maca e o homem caiu e desceu escada abaixo vários degraus, resultando em fraturas nos fêmures, tíbias e perônios e outras mais. Sobreviveu e está recuperado.
E a barata? Bem, a barata não teve a mesma sorte do marido, mas sobreviveu algumas horas para, por fim, morrer de rir.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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