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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Bravatas animadas em Marte

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publicado em 27/02/2021 às 08h03
atualizado em 27/02/2021 às 05h22

Há vida em Marte. Eu vi. Tenho dúvidas. Não tenho. São muitos planetas habitados. Há perseverança em Marte, eu sei. Não há veneno em Marte. Não há gente ruim em Marte, não há idiota em Marte. Não há Big Brother em Marte. Não precisa. Não há Covid em Marte. Não há formiga de roça em Marte.

Ontem foi um dia de trovões. São muitos calafrios. A folha da papoula cresce no jardim, a flor é tão bonita, quase erótica. A folha do pepino cresce feito o sexo dos meninos nos seus primeiros gozos. Não existe pepino em Marte. Nem abobrinhas.

Os tomates são lindos e tem os tomatinhos que brotam debaixo do pé de manga espada. Tem um tomate chamado cereja e tem o abacateiro da canção de Gilberto Gil, que diz que somos todos do mato, como o pato e o leão. Eu sou um tubarão. De boa.

A salsinha está mais cara que a carne moída. Sem complexos. Outro dia mandei uma criatura ir olhar os carros na garagem. Nunca mais bebi uísque, só vou beber nos meus 80 anos. Tá perto.

Ao meu lado, uma cadela delicada chamada Lili faz e acontece, devoradora de animais pequenos, come até as lagartixas do poema de Manuel Bandeira. Não existe bandeira em Marte.

O cão B, namorado da cadela Lili ressona enquanto dorme e o eco se espalha. De tarde, da torneira sai água fervendo, dizem que é o segundo sol da canção de Nando Reis. Uma mão na cabeça e outra na pistola.

O que será que nos traz de ancestral a proximidade de uma marciana? Alô, alô marciana aqui quem fala é Rita Lee. O que será que ela sonha? Ele quem? O cão que ressona. Não existe Rexona em Marte.

Com a casa em calmaria, as obras de arte na parede que não tem memória e com a infância rondando minha vida, eu nem sei mais qual é o cheiro das ruas. Não tem alfazema em Marte. Não tem Netflix em Marte. Não tem bandido em Marte. Agora é tarde, Ignez é Marta. Não tem Marta em Marte.

Com a alegria de estar aqui, escrevendo na tela branca do computador, de ser feliz um instante a cada dia, de ser feliz em tomar um copo d’água, eu tenho sede. Tem água em Marte.

Vida de cão, bravatas animadas, gravatas mofando nas gavetas e eu procurando galos pelas noites e quintais. Curandeiros, cirandeiro, cirandeiro ó a pedra do teu anel não vale mais nada. Não tem anel em Marte. Não, só tem os anéis de Saturno.

Vinte e 7 de fevereiro é um dia muito bonito. Em Marte.

Kapetadas
1 – Não há tratamento para gente precoce, calvície precoce, ejaculação precoce – essa deve ser o fim da picada.
2 – Tem muita gente “grilada” por aí. Acho grilo um bicho muito cricri.
3 – Som na caixa: “Você é doida demais/E você é doida demais/Doida, muito doida/Você é doida demais”, Lindomar Castilho . Essa canção é dedicada a uma criatura de João Pessoa, que não posso dizer o nome.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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