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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A Dor(a) do meu clã é o destino

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publicado em 05/01/2021 às 06h40

Adoro nomes – Francisco, Clarice, Angela, Vítor, Antonieta, Vicente, Iracy, Diva, Rio de Janeiro, Jatobá, Graça, Antônio, Lourdes, Paula e Francis, Janaína, GerManoT, Nely, Paris, Roma, Jória, Salomé, sabonete, queijo e beijos. Simone, perfume, Rosa e Caymmi.

Tem uma canção de Caymmi que fala em Francisca Santos das Flores, que era dona dos seus amores. “Francisca Santos das Flores/Dona Chica ca ca/ Dimirou-se se/De que houvesse um amor tão grande assim”. Caymmi teve muitos amores: Gabriela, Adelaide Tostes, Stella Maris, Nana, Teresa Batista, Tieta e Dora, que ele conheceu nas pontes coloniais do Recife. Eu tenho alguns amores. Drummond teve vários. E tem quem não tenha nenhum.

Outro dia lembrei que meu pai falava em Santa Maria da Silva de Nome Nenhum, que está nas ruas, cuja misericórdia acolhe nossa miséria cotidiana, nossa pequenez, nossa estupidez e nossa infinita vontade de nunca morrer.

Santa Maria da Silva de Nome Nenhum não é a santa que chorou sangue da canção de Junior Barreto, a Santa de Santana, padroeira do Cariri do Ceará, louveira santa que desata os apuros – “Chorou sangue: era Deus e beleza”. A nossa padroeira que seque a dor derradeira, um pote de lágrimas e nossa vida volte ao normal.

Que Santa Barbara (foto) possa rejuvenescer a terra ardendo sob os nossos pés, mas não pisem nos versos dos poetas malditos e nos estrele na Lua de São Jorge. Céu, tão longe é o céu e um bando nuvens, que Jobim deixou pra gente.
Santa aflita dos perdedores, dos bêbados, dos excluídos, dos mutilados da alma, das putas, dos fofoqueiros e dos homens com cifres pontiagudos. Que possamos percorrer o horror desse tempo, do vendaval, da luta de quem vive pela cidade a levar alimentos em atos contínuos. A santa dos motoboys, a santa das crianças, Santa Cecília dos músicos.

A cidade de tantas igrejas: Das Mercês, Do Carmo, São Judas Tadeu, Fátima do Miramar, que transitam por nossos lares tatuados de cicatrizes e, no sol de cada tempo, feito o ventre que me pariu, façam parar o sofrimento e nos devolvam a esperança.

O exílio da palavra

A palavra é um poço, um fosso, uma planta. A palavra “Construção” da canção de Chico Buarque, quando José morria atrapalhando o trafego. Tempo, tempo, tempo.
Palavras que sobram na minha boca e nunca mastigo, transbordam. Palavras da boca do ateu na boca do cristão esborrata, que nem lama em terra em transe.

Palavra exata, a do jornalista Walter Galvão, que tem o êxtase e todas as cenas terrestres, armadilhas, muros, cercas e sustos.

Eu desarmo com a palavra, derrubo com ela e destruo gestos ruins. Gasto energia para chegar e quando chego, palavra nenhuma vai me atrapalhar.

Tanta palavra feito água pelo ralo e tantos a morrer de sede em frente ao mar. Eu vou atrás de Dora, do êxtase dela, “Ô Dora, Dora Ò Dora, rainha do frevo e do maracatu/ Ninguém requebra, nem dança, melhor que tu! Ò Dora! . . .Ò Dora! Eu vim à cidade/ Pra ver você passar…”

Ainda há tantas canções para cantar…

Kapetadas
1 – É só proibir a máscara. Aí todo mundo vai usar.
2 – As pessoas mais inteligentes que conheço, não tentam parecer inteligentes
3 – Som na caixa – “Minha Santa Bárbara/Me abençoai/Quero me casar/ Com Janaína”, Edu Lobo

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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