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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Minha autobiografia

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publicado em 29/12/2020 às 06h33
atualizado em 29/12/2020 às 06h21

Eu sou simpático, chato, original, cordial, mas não sou melhor que ninguém. Eu trabalho feito um condenado, jamais um burocrata. Sento a bunda na cadeira logo cedo. Isso vai até umas 8 da noite. Mas eu me levanto, me alongo, porque não sou de ferro. Dói o pescoço, dói as costas e eu aqui no computador sentimental. Nunca trabalhei tanto como nessa pandemia. Pareço legal (e sou mesmo, né Francisco?).

Eu como um prato de feijão com arroz, saladas do quintal, ovo frito, um pedaço de carne, peixe ou frango, depois fico querendo sentar novamente à mesa, mas o trabalho me chama.

Eu teria uma boa vida se tivesse grana sobrando, mas ai não teria o prazer de escrever, que eu não vivo sem. A sacada do meu texto é não poder adiar para o dia seguinte. Deus me livre, ficar com as histórias na minha cabeça, a cabeça gira, a cabeça roda.

Se eu não escrever logo, tirar as entrevistas do gravador, tenho a sensação que, o que segue estará perdido, pois, não poderei trabalhar sobre o que já teria feito. É confuso, né? É pra lascar, viu! Vida de jornalista não é como esse povo que escreve por deleite e fica “tomando todas” e postando.

Quando eu era jovem, imaginava que a minha vida depois dos 60 seria tranquila. Ledo engano ou Ledo Ivo? Isso porque eu pensava em trabalhar muito, e depois, pela tarde e à noite fazer amor – ou encontrar com Diva nos cafés, mas isso não tem acontecido.

Eu gosto muito de restaurantes, comida boa, mas os restaurantes estão cheio de pessoas sem máscaras, comendo feito bicho.

Sempre trabalho até tarde, leio e releio meus textos, leio e releio Borges, biografias, que adoro, – bem escritas, né? E depois já não quero ver ninguém. Então, o prazer do texto me torna menos simpático. Sou prisioneiro da escrita e eu gosto: fico sozinho aqui na biblioteca e meto bronca.

Você pode considerar a autobiografia do K uma bobagem ou uma folha de hortelã. Mas eu uso a auto e a biografia como objeto da imaginação, para construir meus delírios. Aliás, não sei por que coloquei o título desse texto de minha autobiografia. Ficção ou fricção? Eu gosto mesmo é do admirável Noam Chomsky (foto), linguista e ativista americano, 92 anos este mês.

Inventei de ler no computador o poeta alemão Durs Grünbein, “As lágrimas de Odisseu”, (2009). É bom demais. Mas me arrependi. Vejam só o que ele diz: “Como tantas outras vezes, coube a Homero jogar a primeira pedra. Penso num verso muitas vezes repetido da Odisseia: ´E contemplava em lágrimas o grande deserto do mar” (Odisseia V, 84). Ele se refere ao episódio no qual o herói é novamente retido numa ilha, prisioneiro de uma mulher tomada de amores (no caso, a ninfa Calipso). Adoro Calipso. Imagino ela nua.

Fico pensando num véu de orgasmos e um mar salgado.

Um mar salgado? Mas Caymmi disse que é doce morrer no mar. Será? Mais detalhes nos próximos capítulos da biografia do K.

P.S. Eu sempre desejava as pessoas um feliz ano velho, mas com 2020 não tem acordo. Vai Timbora!

Kapetadas

1 – Quem está com medo de 2021 levanta o mouse!
2 – Gente para um pouco de reclamar pqp!
3 – Às vezes é o cachorro que passeia a pessoa, né?
4 – Som na caixa: “Eu uso óculos escuros/ Para as minhas lágrimas esconder”, Jorge Mauther

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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