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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Fraterna interação dolorosa

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publicado em 26/12/2020 às 08h23

Tempestade. Ver, demorar a acreditar, observar e pensar. Pensar muito. Fazer uma oração. Com minha linguagem urbana, nada universal, minha dor naturalmente observada, minha saudade sem fim, eu confesso que não estou aguentando mais tanta notícia ruim.

Um instante, só um instante, meu gesto, minha expressão não encerra o gesto de muitos anos por vir e quase toda essa légua tirana. Somos obra-prima imperfeita.

Gente, eu não aguento mais!

Homens e mulheres, que se foram como um assopro itinerante de outras imagens produzidas ao longo de meses, desse arquivo morto vivo que se expande, se expandiu, nada corrigiu nem reordenou durante toda pandemia.

Tudo o que acontece tem um rosto, tem um morto, a transfiguração e vai ficando a fisionomia da pessoa, a pessoa que se foi, que faz falta a quem não pôde fazer nada para salvar.

Gente, eu não aguento mais!

Como está àquele que perdeu o pai, enterrado à distância, se está triste ou angustiado? Para além da fotografia, a peste inevitavelmente deixando marcas na cara dos que ficam e algo me parece não entendido de maneira muito ampla, a dor de cada um.

Estamos num jogo perigoso, as casas, o ambiente de trabalho, gestos e movimentos, o jeito aventureiro e outros seres cheios de pompas.

O olhar de mármore da jovem filha, mãe do menino Pedro, que o avô adora, que me manda áudios e não sabemos nada, se ele ainda vai bem mais, se aproximar ou se afastar de nossos lábios. Beija me, Bésame mucho.
Gente, eu não aguento mais!

Eu sonhei com o circo que exibia diligentemente a coragem do trapézio (foto). O sonho me mostrava o voo, a coragem do trapezista e a risada continuamente triste do palhaço.

Isso tudo que eu estou sentindo, faz parte de mim, do meu amor, de uma sensibilidade desse tempo, que nos arrasta escondendo famílias, os amigos, essência sem evolução, tragédia de cada dia.

Dias e tardes, noites adentro, 9 meses e a gente nessa pandemia, que agonia. Meu semblante, minha agonia, a maior desse tempo.

A dramática transformação do cenário em confusa desarmonia, e meu olhar na urgência do reencontro. Cadê? Cadê? Cadê?

Eu não aguento mais.

Kapetadas
1 – Bom dia para quem está disposto a se tornar uma pessoa melhor, de respeito ao próximo, de amor e entendimento, de busca e absolvição, de alegria, de combate, força e autoproteção.
2 – Bom dia à todos que não sabem usar à crase.
3 – Hoje não tem som na caixa.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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