João Pessoa, 24 de novembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora

Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Inteligência de estaca

Comentários: 0
publicado em 24/11/2020 às 08h15

Conservador raiz. Aliás, inteligência de estaca, nós temos sobrando. Só não ganha da Covid.
O vice presidente Gal. H. Mourão, disse que “no Brasil não existe racismo”. O jornalista Janio de Freitas escreveu que essa é a frase mais racista entre nós. Será que foi isso mesmo que Mourão disse? Em recente entrevista ao K, (para o MaisPB), a cantora Elza Soares, afirmou que o Brasil é o pais mais racista do mundo.
Se Mourão disse que não, Elza Soares, canta: “Um Brasil que investe, outro que suga, um que faz amor e tem o outro que mata”. O que diria Nelson Rodrigues? Não sou cego, para acreditar que não somos um país racista. Seria uma hipérbole de Mourão? Amapagão (do Amapá) é outro Brasil?
Entre milhares de opiniões, vamos nos fixar numa, só uma, a nossa consciência. A presença de um preto, espancado até a morte num supermercado de Porto Alegre, lembrou o Coliseu do Império Romano. Matam os pretos como matam os bichos.
Há séculos brancos matam pretos. É o poder do chicote de ontem, da porrada de hoje, sobre a cor da pele negra. Antes eram nos troncos dos casarões, diante de outros negros, hoje as cenas vazam dos celulares. Uma guerra cruel de imagens. Essa é a notícia mais antiga do Brasil – o racismo.
O pais não é racista? O pais não é racista? O pais não é racista? O Brasil não é racista? Ah, são vários brasis.
Este não é o meu pais, da canção de Ivan Lins, com “violas cantando glórias”. Um pais que matou o jornalista Herzog, sumiu com Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel. Lembram do “Brasil, ame-o ou deixe-o”? Onde se faz teste de fé?
A cena do negro morto em Porto Alegre nos afundou num porto inseguro. Que notícia infeliz, que traz lágrimas secas e duras como pedra e ao mesmo tempo afiadas como punhais.
O país é racista e o espancamento de Beto Freitas foi devastador.
Os horrores de sempre. Bem sei que o que nos eleva ou nos enterra, é igual em todos os lugares. Somos todos racistas, Mourão?
Onde andará Nelson Rodrigues, com suas confissões diárias? Em dezembro próximo, 40 anos da morte de Nelson, uma inteligência rara, jamais de estaca.
Se tem uma coisa que eu adoraria esquecer, é minha memória.

Kapetadas
1 – A foto dos meninos pretos nus, que ilustra a coluna é de Sebastião Salgado.
2 – Um país em que as pessoas optam por usar o celular para filmar um assassinato, ao invés de chamar ajuda para evitá-lo…
3 – O tesão em socos dos seguranças é a ereção dos impotentes.
4 – Som na caixa: “Não fala com pobre, não da mão a preto, pra que tanta pose, doutor”, Billy Blanco.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

Leia Também