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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

A boate Passargada (sétima parte-II)

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publicado em 07/11/2020 às 09h47

Meu convidado hoje é um amigo muito querido, Abelardo Jurema Filho, rara amizade, dessas que já começaram prontas. São muitas histórias nesses 45 anos de convivência. Decidi não retirar uma palavra sequer do maravilhoso texto de Abelardinho. Por isso será postado em duas partes neste mesmo momento. Esta é a primeira parte.

Diga aí, meu Lira:

“O amigo do Rei – Eu conheci Marcos Pires tão logo cheguei a João Pessoa em meados de 1975. Naquele tempo, difícil seria desconhecer a sua presença na cidade: era o filho de Adrião e Dona Creusa, o “playboy” cujo passatempo predileto era gastar dinheiro e fazer amigos. Era um jovem irrequieto, desafiador e inspirador, que exercia natural liderança junto aos companheiros de sua geração que acompanhavam as suas aventuras, divertiam-se com elas e admiravam a forma generosa como agia dividindo com todos as suas emoções.

Se havia um carro novo, esportivo de último tipo, circulando na cidade, ninguém tinha dúvida a quem pertencia; se uma novidade aparecesse no mercado automotivo, um triciclo que só se via no cinema, só podia ser mais uma peripécia do herdeiro dos Pires. Cheguei a encontrá-lo no Rio de Janeiro onde ele residia em endereço nobre: era hóspede permanente do Hotel Sheraton, ainda hoje um dos mais elegantes e sofisticados da hotelaria carioca.

Carismático, envolvente, Marcos Pires também conquistava pela sua alegria e solidariedade com os amigos. Pelo seu poder de sedução, fruto de sua personalidade indômita que não enxergava limites, reinava absoluto numa geração de ouro que fez história na cidade e que deu sinceros exemplos de amizade e respeito mútuo, de companheirismo e de fraternidade.

Num dos seus sonhos, inspirado pelo poeta Manoel Bandeira (foto), imaginou a Passárgada, um projeto inovador e ousado. Uma boate onde todos fossem amigos do Rei e pudessem usufruir a plenitude da juventude num ambiente mágico, onde, à noite, era possível ver as estrelas e dançar cercado por uma cortina d´água como uma fonte luminosa”.

Logo a seguir postarei a segunda parte da experiencia de Abelardo Jurema Filho na Passargada.

Esta é a parte final do maravilhoso texto de Abelardo Jurema Filho sobre sua experiencia na Passargada, cuja primeira parte acabei de postar. Fala, Abelardinho:

“É claro que, como amante da boemia saudável, tornei-me freguês permanente da boate Passargada. Estávamos na efervescência dos Embalos de Sábado a Noite, das discotecas, quando era impossível ficar parado. Certo dia, porém, fui convocado por Marcos Pires para uma reunião na boate. Sem saber do que se tratava, cheguei lá onde já estavam todos os nossos amigos. E fui surpreendido com o anuncio solene:

– Quero comunicar que estou de partida para uma viagem de lua de mel à Europa, sem dia de regresso (ele havia se casado com Nereida Pires, com quem teve dois filhos). E, desta forma, decidi escolher o meu amigo Abelardo Jurema para dirigir a boate durante a minha ausência.

Fiquei impactado, mas profundamente orgulhoso. Imaginei que, em tão pouco tempo, seria o Ricardo Amaral da Paraíba, me comparando ao grande empresário da noite carioca. Recebi as chaves da casa e algumas orientações, e comecei a trabalhar.

Logo na primeira semana, percebi a diferença entre ser frequentador e administrador do negócio, que exigia abastecimento correto, fiscalização nas contas, organizar a equipe de garçons, reservas de mesa e uma série de outras providências que eu desconhecia inteiramente.

Mas o pior vinha quando do fechamento do faturamento, de onde retiraria a minha participação nos “lucros”. Metade da casa era de amigos de Marcos Pires que, por conta disso, tinham direito a assinar vales. Outros, nem isso, como o ministro João Agripino, que, como convidado ilustre, jamais teria que meter a mão no bolso, segundo orientação expressa do proprietário.

Como se vê, a experiência foi válida, mas demorou muito pouco. Duas semanas depois da entronização como Rei da Noite, fui à mansão dos Pires, na avenida Epitácio Pessoa, e devolvi as chaves à dona Creusa explicando os motivos da minha   “demissão”. Ela compreendeu as dificuldades e ainda me agradeceu por ter enfrentado o desafio.

Mas posso dizer que conheci o lugar sonhado por Manoel Bandeira, onde nada me faltava e eu era amigo do Rei. Abelardo Jurema Filho”.

Obrigado com força, amigo querido!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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