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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

A superação da fome no mundo até 2030

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publicado em 16/10/2020 às 09h27

Recentemente, o Programa Mundial de Alimentos (PMA), uma agência humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU), foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz de 2020, “por seus esforços para combater a fome, por sua contribuição para a melhoria das condições de paz em áreas afetadas por conflitos e por atuar como uma força motriz nos esforços para prevenir o uso da fome como arma de guerra e conflito”. O PMA receberá uma medalha de ouro, um diploma e mais de US$ 1 milhão em 10 de dezembro de 2020.

O World Food Programme (foto) (Programa Mundial de Alimentos) foi fundado em 1961, com sede em Roma, na Itália, e prestou assistência alimentar a 97 milhões de pessoas famintas em 88 países no ano de 2019. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 687,8 milhões de pessoas passaram fome no mundo em 2019. O contingente de pessoas famintas mais alto se registrou na Ásia, com 381,1 milhões. Em segundo lugar encontra-se a África, com 250,3 milhões de famintos. Na terceira colocação, encontram-se os países da América Latina e do Caribe, com 47,7 milhões de pessoas que padecem de fome.

No relatório The State of Food Security and Nutrition in the World 2000 (O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2020), da FAO, verifica-se que aumentou de 653,2 milhões de pessoas que passavam fome em 2017 para 678,1 milhões em 2018, e no ano de 2019, cresceu novamente para 687,8 milhões de pessoas. A pandemia da COVID-19 agravará a fome no planeta em 2020 e o número de pessoas famintas ultrapassará os 841 milhões em 2030, segundo as projeções da FAO. O PMA (WFP, sigla em inglês) alerta sobre risco de pandemia da fome no planeta.

Por que segue aumentando anualmente a fome no mundo? As principais causas do avanço da fome mundial são a crise econômica, o aumento da pobreza extrema, as guerras, os conflitos armados, o crescimento da desigualdade econômica, as perdas e os desperdícios de alimentos, o incremento dos preços dos alimentos e as mudanças climáticas.

A crise econômica ocorre em vários países como a Venezuela e o Zimbábue. A Venezuela, com a maior reserva mundial de petróleo, sofre muito com a hiperinflação, a abrupta desvalorização do bolívar soberano, o elevado desemprego, a depressão econômica, o alto risco-país e a escassez de produtos básicos, que já provocaram 9,3 milhões de pessoas passando fome, conforme as estimativas da ONG britânica OXFAM.

O aumento da pobreza extrema aconteceu em diversas nações como a Argentina e o Camboja. A pobreza extrema cresce nas ruas de Buenos Aires, são pessoas sobrevivendo com menos de US$ 1,90 por dia. Em plena recessão econômica, a Argentina tem 18,5 milhões de pessoas na pobreza absoluta, sendo 4,7 milhões na pobreza extrema, e as mais afetadas são principalmente as crianças de rua na busca por um prato de comida.

As guerras ocorrem em países asiáticos como o Afeganistão, Iêmen e Síria. Com a Guerra Civil da Síria, desde 2011, dramaticamente a fome atingiu 7,9 milhões de pessoas, e diariamente morrem crianças da forma mais grave de desnutrição. Os conflitos armados acontecem em nações como o Sudão do Sul desde 2011, que gerou conflitos étnicos, refugiados com fome, além de crianças famintas no país mais jovem do mundo.

A desigualdade econômica aumentou no Chile e com isso aumenta a fome (el hambre). Há uma extrema desigualdade de renda nas avenidas de Santiago, os mais ricos cada vez mais ricos, e os mais pobres cada vez mais pobres. O Índice de Gini do Chile foi de 0,45 em 2017, conforme o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

O desperdício de alimentos acontece em países como o Brasil. São desperdiçados 41 mil toneladas de alimentos por dia, segundo o WRI Brasil. Quando o caminhão de lixo despeja alimentos desperdiçados e perdidos nas centrais de abastecimento e distribuição de alimentos representa 30% das perdas e desperdícios de alimentos. O incremento dos preços dos alimentos sucede em nações como o Brasil, onde a alta do arroz, feijão, leite, carnes bovina e de frango, óleo de soja, pães e ovos desespera os chefes de família das classes econômicas D e E. O Brasil tem 10,3 milhões de pessoas famintas (IBGE, 2020).

A ONU estabeleceu os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em 2015. O Fome Zero (Zero Hunger) é um dos ODS até 2030. O ODS número 2 é acabar com a fome global (194 milhões de famintos na Índia), garantindo o acesso à comida de qualidade e nutritiva, em quantidade suficiente, com regularidade, aos mais vulneráveis.

A dor da fome atormenta quando o ser humano não consegue suprir as necessidades diárias de calorias e proteínas imprescindíveis para manter a saúde e o organismo funcionando adequadamente. A fome crônica se agrava no Burundi, Congo e Haiti e é mais deletéria do que a aguda. A fome aguda é ocasionada por problemas socioeconômicos (exemplo, o desemprego no México) ou por mudanças climáticas (exemplos, a seca no Chade, a enchente em Bangladesh e o ciclone em Moçambique).

Infelizmente, a extrema seca provocada pelo El Niño sucedeu na Etiópia, Eritreia, Djibuti, Quênia, Somália, Sudão e Uganda, e afetou milhares de crianças africanas com menos de 5 anos de idade, que morreram de fome ou estão morrendo por causa da desnutrição grave.

Em síntese, quase 690 milhões de pessoas em todo o mundo passaram fome em 2019, ou 8,9% da população mundial (FAO, 2020). Hoje é o Dia Mundial da Alimentação e nos próximos dez anos, “as nossas ações são o nosso futuro”, na superação da fome no mundo até 2030. Investir em agropecuária, pesca e aquicultura significa salvar vidas humanas.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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