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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A Loba Capitolina

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publicado em 12/09/2020 às 07h00
atualizado em 12/09/2020 às 06h31

Toda história tem um segredo. Desde pequeno que escuto falar que Rômulo e Remo mamaram numa loba. As esculturas estão no mundo todo para mostrar a cena da mitologia romana. É uma cena linda, real, e não tem quem tire da minha cabeça que os gêmeos foram colocados na correnteza do Rio Tibre, e depois amamentados pela Loba Capitolina.

Essa deve ser a milésima vez que escuto essa história e nunca havia me comovido tanto quanto por esses dias. O meu desejo é que essa lenda continue a ser contada com o espírito e a força do conhecimento, uma das melhores coisas da vida e uma das coisas que a faz ser bela, apesar de toda a ilusão com ou sem propósito.

Vejamos. Reza a lenda que Ascânio, filho do herói troiano Enéas (filho de Vênus e Anquises), teria fundado a cidade de Alba Longa sobre a margem direita do Rio Tibre. Isso é outra história. E, sobre essa cidade  reinaram muitos dos seus descendentes, até chegarem os irmãos Numitor e  Amúlio. Adoro nomes.  

Amúlio destronou Numitor e, para que não pudesse ter descendência que lhe tirasse do trono, condenou sua filha Reia Silvia, a ser sacerdotisa da deusa Vesta (deusa dos laços familiares, simbolizada pelo fogo da lareira), para que permanecesse virgem. Ai já é outra história. São muitas, que eu tenho aprendido nas aulas da professora Zarinha, sobre Mitologia Grega e Romana. São aulas e descobertas. 

Vamos imaginar que Reia Silvia não poderia ter relações sexuais, (e não podia mesmo), porque seria emparedada e o macho, sacrificado a até a morte. Mas outra história, contada por Reia, é que Marte (deus romano da guerra), engendrou os dois meninos com ela. Quando eles nasceram, para não serem mortos,  foram colocados em uma cesta deixada  no Rio Tibre. A cesta encalhou na zona das sete colinas, situada perto onde o Rio Tibre desembocava no mar. Isso já é outra história,  do encontro do rio e o mar. É sempre uma história dentro de outra 

Isso de ser outra história, é porque ainda estamos falando de Rômulo e Remo. A loba se aproximou do rio para beber água e lhes abrigou e amamentou, até que, finalmente, os bebês foram encontrados e resgatados por um pastor, cuja mulher os criou. Como é nome do pastor? Fáustulo. Resumindo. Já adultos, recolocaram Numitor no trono de Alba Longa e fundaram, como colônia dessa, uma cidade na margem direita do Tibre, no lugar onde tinham sido amamentados pela loba. Como é o nome dessa cidade?        

Dizem que a loba que amamentou Rômulo e Remo foi sua mãe adotiva, (um ser humano), já que o termo loba também era utilizado, em sentido pejorativo, para as prostitutas da época. Mas seria essa a questão do texto, Rômulo e Remo foram alimentados por uma prostituta? Não, isso é outra história.       

O que a gente vê na história é uma forma violenta que se repete, de se tomar o poder ou de chegar ao poder com truculência, como acontece nos dias de hoje. Nada mudou.

Em conversa comigo, a professora Zarinha disse “Desde o primeiro momento, como fratricídio injustiçado, a história da humanidade é toda construída sobre muito sangue”. Isso dela dizer construída, me lembra que ainda estamos construindo as cidades e as pessoas, para serem destruídas por nós mesmos.

Sem precisar de spoiler, Rômulo mata Remo e constrói a cidade de Roma, cuja data aparece na história como 21 de abril de 753 a.C.  

Guardo comigo alguns segredos completamente meus, que faço questão de não compartilhar e que considero quase sagrados, talvez justamente por sua (in)significância. Cuido de alguns dos meus segredos diariamente e sei que eles se tornaram meus escudos. Outros, não. Até esqueço que existem, mas eles caminham do meu lado. 

Sendo assim, assim sendo, assim lendo, assim estudando, assistindo aulas com 60 anos de idade, vou criar o primeiro artigo de um novo estatuto dos direitos do cidadão: todas as pessoas, crianças até os mais velhos, devem ter pleno direito e “obrigação” de estudar até morrer, mas aí…. é outra história.

Kapetadas

1 – Eu sempre penso que ninguém nasce filhodaputa, mesmo parido por uma.

2 –  Fui ao cardiologista que me disse que deixar de amar é uma espécie de acidente cardiovascular. Será?

3 – Som na caixa: “Sejamos o lobo do lobo do homem”, Caetano Veloso

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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